Não era para Erick estar ali. Para alguém que pretendia chamar o mínimo de atenção possível, aquele bar aleatório seria o pior local para passar despercebido. Isso porque não havia como fugir dos avanços daquele barman atrevido, que não fazia cerimô...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Era óbvio que eu estava prestes a fazer algo indevido. Uma decisão impulsiva, questionável, mas esse não era o ponto principal, pois eu tomava decisões assim o tempo todo. Sair com estranhos, confraternizar com mentes lascivas, tudo isso era o meu normal e eu não me envergonhava disso.
No entanto, eu não me lembro de ter me sentido tão inseguro, nem de ter tantas dúvidas sobre uma decisão tão pouco importante como a de levar esse estranho para minha casa. Na verdade, eu me lembrava de, no passado, ter sentido medo; aterrorizante, paralisante, há muito tempo, quando eu ainda estava sob o domínio daquele homem...
Buscando espantar as lembranças intrusas, continuei empilhando as cadeiras do salão. Sem que eu percebesse, meu convidado relâmpago passara a me ajudar e com as luzes quase todas apagadas, o serviço estava basicamente completo.
— Vou trancar a cozinha e poderemos ir — avisei. Ele apenas sinalizou com a cabeça, sem me olhar.
Peguei as chaves e tranquei as portas, com o pensamento nele. O tal não havia mais aberto a boca depois de ter perguntado meu nome e nenhuma das minhas tentativas de puxar assunto surtiu efeito. Num dado momento, desisti de tentar e me concentrei nos outros clientes, quase me esquecendo de que ele estava ali, com aquele semblante fechado e olhar soturno.
Quase. Nem se o sol desaparecesse e uma sombra eterna nos cobrisse, apagaria o brilho daquele gringo emburrado aos meus olhos. Tal fascínio foi o primeiro chamariz de que eu estava para cometer um erro.
"Você é meu e de mais ninguém..."
Chacoalhei a cabeça, espantando as palavras que, como algemas, mantinham-me preso àquele quarto, naquela residência de alto padrão, no bairro mais nobre da cidade. Era como se nunca tivesse me libertado, mas eu me recusava a aceitar o fato.
Dependência me apavorava. Qualquer tipo de dependência. Jamais seria subjugado novamente e essa premissa guiava minhas escolhas e decisões. Longe de amarras e entraves, eu levava a vida à minha maneira, repudiando qualquer ameaça à minha natureza. Vinha fazendo um bom trabalho, até dar um passo oscilante rumo ao desconhecido.
O desconhecido me olhava agora, esperando para ver o que eu ia fazer. Optando por manter o silêncio que ele tão eficazmente cultivava, sinalizei que me seguisse para fora do bar. A chuva enregelou meus braços enquanto eu trancava o estabelecimento, mas não me encolhi. Percebi que ele tampouco pareceu se abalar pela água que molhava suas vestes e sua bagagem, convenientemente protegida numa mala de fibra.
Caminhei pela calçada encharcada, calado e introspectivo, sentindo seus olhos em minhas costas e escutando o chapinhar dos passos nas poças formadas pelo temporal. O frio molhado que penetrava minhas vestes tornou-se aconchegante, como uma distração bem-vinda para meu crescente conflito interno. Aquele silêncio todo era extenuante, quase ameaçador, a ponto de eu realmente começar a temer o homem que me acompanhava.
É coisa da sua cabeça — afirmei para mim mesmo. — Desde quando você se preocupa tanto? Suas aulas de jiu jitsu te prepararam para situações assim, então aquieta o facho porque não dá pra simplesmente desconvidar o cara agora que já é quase duas da manhã e você fez o sujeito ficar no bar esperando até agora.
Buscando manter a calma, acelerei os passos e, em menos de cinco minutos, estava diante da portaria do pequeno prédio de três andares onde eu morava. A porta de ferro fundido, cujos vidros canelados escondiam o interior, tinha a pintura desgastada e trincos angulosos cruzavam alguns dos vidros, negligenciados há anos pelos moradores despreocupados que viviam ali. Destranquei, esperei que ele passasse por mim e fechei a porta. Subimos os três lances de escada, ele sempre um passo atrás, até estarmos diante da minha porta. Respirei fundo por um instante, protelando o próximo passo.
— Relaxa, cara — a voz dele, depois de tanto tempo em silêncio e agora livre dos ruídos do bar, pareceu ainda mais marcante —, você está certo em voltar atrás. Eu vou dar uma volta por aí, encontrar um taxi e parar no Íbis mais próximo que encontrar. Sem constrangimento, okay? Obrigado pelo convite.
Ele me deu as costas e ameaçou descer as escadas. Sem pensar, segurei-o pelo braço e meu contato foi interrompido bruscamente quando ele se esquivou, ligeiro. Notei que ele se constrangeu com a própria reação, mas não se retratou.
Foi uma situação muito esquisita. Mesmo assim, movido por um novo e inexplicável impulso, destranquei a porta e abri passagem.
— Entra logo. Essa roupa molhada tá me deixando resfriado e tenho certeza de que você não está nenhum pouco confortável também.
Ele pareceu indeciso, mas acabou passando por mim. Fechei a porta e o encarei.
Bem. Agora eu tinha que lidar com a situação. Como? Não fazia ideia. Nunca levava ninguém até ali com o intuito de ajudar. Geralmente era entrar, tirar a roupa e partir pro abraço, mas nesse caso específico, eu não achava que ele queria o mesmo que eu.
— O banheiro fica ali. Vou te arrumar uma toalha pra você tomar um banho, assim tira a friagem do corpo. Enquanto isso, vou ajeitar o sofá aqui pra você.
— Eu tenho toalha, não precisa se preocupar. Não quer se banhar primeiro?
— Não, é melhor você ir, eu arrumo aqui e tomo meu banho depois. Tô super cansado e não quero prolongar a noite — sem conseguir evitar, olhei para ele com meu sorriso mais safado — a não ser que você queira...
Ele me deu as costas e entrou com mala e tudo no banheiro, sem uma palavra.
Bem, eu tentei.
Cinco minutos depois, ele deixava o banheiro. Fiquei surpreso com a rapidez e cheguei a me questionar se ele tinha mesmo tomado banho ou só trocado de roupa, mas o cheiro que chegou às minhas narinas quando ele se aproximou eliminou minhas dúvidas.
Meu gracejo sobre o quão cheiroso ele estava morreu nos lábios quando meus olhos pousaram em suas pernas, musculosas e peludas como as de um jogador de futebol. Subi com o olhar pelas coxas, como um pincel cobrindo a área, lentamente até a virilha, cujo shorts não escondia a promessa de suspiros infames contida ali. Lamentei o fato de ele estar de camisa, pois não pude ver seu abdômen, nem o peitoral, mas os braços eram bem desenvolvidos, bíceps e tríceps avantajados na medida certa, nada truculento, mas suculentos.
Senti a boca secar.
— Seu cabelo ainda está pingando — ele murmurou, olhando firmemente para o meu rosto.
Merda! Ele tinha me pego no pulo, comendo-o com os olhos. Bom, não era segredo que eu estava interessado desde o início, ele sabia disso antes de vir, então seria estupidez se surpreender com minhas encaradas. Era realmente uma pena que ele não estivesse vibrando na mesma sintonia que eu.
— Eu deixei tudo ajeitado. Tem travesseiro, cobertor e uma garrafa de água. Se precisar, a cozinha fica naquela porta e... meu quarto é a terceira porta, no final do corredor — sorri mais uma vez antes de entrar no banheiro — a cama é bem grande, se quiser ficar lá, não vou me opor.
Ele não respondeu, para surpresa de ninguém. Tomei meu banho quase frio, buscando conter o fogo no rabo que me consumia e, quando saí do banheiro, encontrei-o jogado no sofá, de barriga para cima, um braço tombado para fora, outro acima da cabeça. O cobertor cobria parte das pernas e amontoava-se no chão. Sua boca aberta emitia um ruído constante e regular.
Devia estar exausto. Sorri ao notar sua vulnerabilidade. Entregue assim, nem parecia tão marrento. Contive o impulso de ajeitar o cobertor sobre o corpo dele e fui para o meu quarto.
Contrariando meu estado alerta e excitado, rapidamente fui relaxando e o sono me abraçou. De alguma maneira, aquele lindo estirando no meu sofá me deu uma sensação de segurança que há muito não sentia. Ainda com o sorriso acomodado no rosto, entreguei-me ao mundo dos sonhos, onde um moreno de olhos cristalinos lambia meu corpo como se eu fosse a mais preciosa das iguarias.