6- Descobrindo e Sonhando

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Era uma manhã de final de semana ensolarada e fresca em Buenos Aires, e Oikawa, com um entusiasmo quase infantil, puxava Iwazumi de um lado para o outro enquanto exploravam os pontos turísticos da cidade. A primeira parada do dia era a Galería Pacífico, um dos centros comerciais e artísticos mais famosos da cidade, e os olhos de Iwazumi brilhavam enquanto observava as cores e detalhes das pinturas que cobriam o teto do local.

— Viu só, Iwa-chan? — disse Oikawa, apontando para as enormes cúpulas pintadas. — Essas pinturas foram feitas por artistas argentinos. Tem todo um simbolismo sobre a cultura daqui!

Iwazumi assentiu, impressionado com os detalhes das obras.

— É... bem bonito mesmo. Me lembra os templos japoneses... mas com muito mais cor — ele disse, com um leve sorriso, enquanto seus olhos se perdiam na textura das pinturas.

Depois de um tempo explorando a galeria, eles pararam em uma pequena lanchonete para pegar um lanche rápido. Iwazumi, determinado a testar seu espanhol, foi até o balcão e tentou fazer o pedido.

— Buen... buenos... uma hamburguesa, por favor! — disse, orgulhoso, mas com uma leve hesitação.

O atendente piscou, tentando processar o pedido meio confuso, e Iwazumi continuou:

— Y... ¿puedes poner un poco de, ah... katsudon? — Ele parou, percebendo o erro logo em seguida. — Não, espera... quero dizer, de... er, queijo?

Oikawa, que observava a cena com um sorriso travesso, não aguentou e começou a rir.

— Iwa-chan, você tá misturando japonês com espanhol de novo! Não é "katsudon", é "queso"!

Iwazumi corou um pouco, percebendo a situação, mas continuou com o pedido, embaraçado. Assim que se sentaram para comer, Oikawa ainda estava rindo.

— Eu tô tentando, sabe? Não é tão fácil assim — disse Iwazumi, um pouco irritado mas com um sorriso, enquanto tomava um gole de suco.

— Tão esforçado, Iwa-chan! É um charme ver você misturar as palavras — Oikawa brincou, dando um tapinha no ombro dele.

Iwazumi desviou o olhar, ainda sem jeito, e focou na paisagem pela janela da galeria, onde os transitantes passavam com pressa, misturando-se às cores vibrantes dos cartazes e das fachadas antigas. Por um instante, ele pensou ter ouvido alguém chamá-lo ao longe, uma voz abafada e familiar, que carregava uma mistura de medo, desespero, angústia e raiva em seu tom, mas a distração foi rápida, e ele logo voltou sua atenção para o presente.

A próxima parada foi o Teatro Colón, um dos teatros mais famosos do mundo. Ao entrar, foram recebidos por uma explosão de ornamentos dourados, detalhes em mármore e tapeçarias que decoravam o interior com uma elegância digna de realeza. O cheiro de madeira polida e o ar levemente perfumado conferiam ao local uma aura de grandiosidade.

— Esse lugar... é incrível, Tooru — Iwazumi disse, a voz quase em um sussurro. — Nem parece real... parece que tudo não passa de um... sonho...

Oikawa sorriu, satisfeito em ver a reação do amigo.

— Sabia que você ia gostar! — ele respondeu, animado. — Dá pra ver por que é considerado um dos teatros mais bonitos do mundo, né?

Quando entraram na grande sala de concertos, Oikawa pegou o braço de Iwazumi e o guiou até o centro.

— Imagina só, Iwa-chan... uma apresentação aqui! — disse Oikawa, com um brilho nos olhos, como se já estivesse no palco, tocando para uma plateia lotada. — Deve ser como estar em outro mundo...

— Acho que eu ficaria nervoso só de pensar — admitiu Iwazumi, olhando em volta.

Oikawa riu, dando um leve soco no braço dele.

— Nervoso você? Duvido! — ele brincou. — Você enfrentaria qualquer coisa sem hesitar, até um palco como esse.

Enquanto adimiravam o local, Iwazumi sentiu um empurrão, se desequilibrando um pouco. Olhou para trás achando que era Oikawa, mas o mesmo não estava ali. De repente seu nome foi gritado, parecia estar vindo do seu lado. Oikawa toca seu ombro, o trazendo de volta a realidade.

— Você está bem? — Pergunta preocupado com o transe que seu amigo estava.

— Sim, não é nada de mais, apenas... viajei na mente... — Diz enquanto processava oque acabara de lhe ocorrer. 

Depois do teatro, seguiram para o Madero Tango, onde foram recepcionados com um show de tango ao vivo. As cores intensas dos trajes dos dançarinos, o ritmo envolvente da música e o som dos passos rápidos ecoavam pelo salão. Oikawa observava o espetáculo com fascinação, seus olhos acompanhando cada movimento gracioso dos dançarinos. Iwazumi, por outro lado, olhava o amigo, notando a paixão e o encanto em seu olhar.

— Tooru, tá com os olhos brilhando aí — provocou ele.

— Ah, é que... — Oikawa hesitou, parecendo encabulado. — Só fiquei pensando que... seria legal te ensinar a dançar, sabe?

— Tá falando sério? Eu, dançando tango? Acho que alguém vai perder os pés nessa história, e não sou eu — disse Iwazumi, com uma risada, mas Oikawa apenas deu de ombros, com um sorriso maroto.

— Quem sabe um dia, hein? Vamos ver se você leva jeito!

Entre risadas e passos desajeitados que tentaram imitar os dançarinos, os dois seguiram o passeio. Por um instante, enquanto a música tocava ao fundo, Iwazumi ouviu novamente um sussurro, quase como uma lembrança distante de alguém chamando por ele. O som parecia vir do palco, como uma voz envolta em névoa, mas ele ignorou, achando que talvez fosse apenas parte da música ao fundo.

A última parada foi o Museu de Arte, onde Oikawa, com o ar de um guia turístico apaixonado, levou Iwazumi de sala em sala, comentando sobre os quadros e esculturas. O aroma suave das tintas, misturado ao cheiro de papel envelhecido e madeira antiga, parecia envolver tudo em uma atmosfera quase hipnotizante.

Enquanto admiravam uma pintura colorida, Oikawa cutucou Iwazumi e disse, baixinho:

— Sabia que essa obra aqui é famosa por simbolizar o amor? Dizem que os casais vêm aqui pra fazer promessas secretas — comentou, rindo, mas sem encarar Iwazumi.

— Você acredita nessas coisas? — Iwazumi perguntou, observando o quadro com mais atenção.

Oikawa deu de ombros, os olhos fixos na pintura.

— Não sei... mas acho que, se fosse pra fazer uma promessa, eu faria. Principalmente se fosse algo importante.

Iwazumi ficou em silêncio, sentindo o peso das palavras e a sugestão que pairava no ar entre eles. Observou Oikawa de canto de olho, e foi como se a galeria inteira ficasse em segundo plano — eram apenas ele e Oikawa, ali, trocando olhares em frente àquela obra de arte.

Oikawa desviou o olhar, tentando disfarçar, mas, antes de sair, lançou um último sorriso.

— Então, Iwa-chan... gostou do tour? — perguntou, tentando parecer casual.

— Gostei muito. Obrigado, Tooru — disse Iwazumi, com sinceridade, colocando a mão no ombro do amigo por um instante mais longo do que o necessário.

Enquanto saíam do museu e o sol se punha atrás dos prédios antigos de Buenos Aires, os dois caminhavam lado a lado, em silêncio, cada um com suas próprias emoções à flor da pele.

Entre Risos e CiúmesOnde histórias criam vida. Descubra agora