A plateia estava em silêncio absoluto. As luzes do teatro diminuíram gradualmente até que restasse apenas o foco sobre o palco, onde Oikawa estava posicionado, com seu violino firmemente seguro entre o queixo e o ombro. Ele respirou fundo, fechou os olhos por um breve momento, e começou a tocar. A melodia, suave e melancólica, preenchia o ambiente com uma delicadeza que arrepiava a pele de quem ouvia, penetrando fundo na alma.
Iwazumi, sentado nas primeiras fileiras, observava o amigo como se o estivesse vendo pela primeira vez. Havia uma aura diferente em torno de Oikawa; ele parecia quase etéreo, totalmente entregue à música. A cada nota, Iwazumi sentia o peito apertar, como se algo dentro de si estivesse sendo puxado, tocado por uma tristeza inexplicável.
À medida que a peça avançava, Iwazumi percebia que aquela música era mais do que uma simples melodia. Ele sentia que havia algo de especial ali, uma mensagem oculta, uma despedida velada nas notas que se arrastavam de forma lenta e prolongada, quase como um suspiro. Por um instante, ele sentiu que Oikawa estava falando com ele através da música, expressando sentimentos que palavras jamais poderiam traduzir.
Quando o último acorde se dissolveu no ar, Oikawa ergueu o olhar e encontrou os olhos de Iwazumi. Com um sorriso suave, ele fez uma leve reverência e, em seguida, pegou o microfone ao seu lado, sua voz quebrando o silêncio reverente da plateia.
— Esta peça... é para alguém muito especial — Oikawa começou, o olhar fixo em Iwazumi, sua voz um tanto trêmula, mas cheia de uma ternura que parecia iluminar a sala. — Para alguém que sempre esteve ao meu lado, mesmo quando eu não merecia.
Iwazumi sentiu os olhos arderem, e, antes que pudesse controlar, uma lágrima deslizou por seu rosto. Ele percebeu que o cheiro de rosas estava ali novamente, suave e doce no ar, misturando-se à melodia que ainda ecoava em sua mente.
A música e a homenagem o afetavam de uma forma inexplicável. Um vazio estranho começava a crescer dentro dele, um aperto que não fazia sentido. Ele queria se concentrar apenas na felicidade de estar ali, na beleza do momento, mas aquela sensação de perda se intensificava, como uma presença sutil e triste no fundo de sua mente.
E, de repente, ele começou a ouvir vozes.
Eram apenas sussurros, palavras que ele não conseguia entender, mas que pareciam carregadas de algo que lhe causava arrepios. Iwazumi olhou ao redor, tentando encontrar a origem, mas a sala estava completamente em silêncio, todos os olhares voltados para Oikawa, que sorria calmamente em sua direção.
"Você tem que acordar…" ouviu uma voz vaga em sua mente, como se viesse de um lugar distante e envolto em névoa. Ele sacudiu a cabeça, tentando afastar a sensação estranha que se misturava à tristeza. Talvez fosse apenas o impacto da música, o ambiente carregado de emoções.
Mas as vozes voltaram, um pouco mais claras agora, e ele podia quase jurar que uma delas repetia seu nome. "Iwazumi… acorde." Uma sensação de pavor tomou conta dele por um segundo, e ele tentou afastar o pensamento, dizendo a si mesmo que estava apenas cansado, sobrecarregado pela emoção daquele momento.
— Iwa-chan… — Oikawa chamou, ao fim do discurso, sua voz doce o puxando de volta para a realidade.
Iwazumi sorriu, ainda com os olhos úmidos, e aplaudiu com força, sentindo uma onda de carinho e orgulho por Oikawa. Mas, no fundo, a sensação de tristeza e a presença das vozes ainda persistiam, como se fossem um lembrete incômodo de algo que ele não queria reconhecer.
Ao final do evento, eles saíram juntos do teatro. A noite estava fresca, e o céu de Buenos Aires estava limpo, pontilhado de estrelas. Oikawa parecia animado, comentando sobre cada detalhe da apresentação, mas Iwazumi ainda sentia o peso daquela sensação estranha dentro de si.
Enquanto caminhavam lado a lado pelas ruas iluminadas, Oikawa, percebendo o silêncio de Iwazumi, segurou sua mão com firmeza e olhou para ele, os olhos brilhando de preocupação.
— Iwa-chan, tá tudo bem? — perguntou suavemente, o tom carinhoso e atencioso.
Iwazumi hesitou por um instante, sem saber como explicar a sensação de vazio que o consumia. Por fim, ele apenas sorriu, tentando esconder a inquietação.
— Claro… só tô um pouco emocionado, acho. — Ele deu uma risada curta, mas Oikawa percebeu o olhar distante em seus olhos.
Eles continuaram andando em silêncio, mas a cada passo, Iwazumi sentia o peso daquela despedida silenciosa aumentar, como se estivesse prestes a perder algo precioso. Ele tentou se concentrar na mão de Oikawa entrelaçada na sua, na presença calorosa ao seu lado, mas o cheiro de rosas voltava com uma intensidade desconcertante, quase sufocante, e as vozes ecoavam de novo em sua mente, mais fortes e urgentes.
"Eles estão tentando me dizer algo?" pensou, mas sacudiu a cabeça, se recusando a dar ouvidos ao pressentimento sombrio que crescia dentro de si. Afinal, ele estava ali, ao lado de Oikawa, vivendo o que parecia ser o início de algo lindo. Não queria que nada estragasse aquele momento, muito menos uma sensação inexplicável que insistia em perturbá-lo.
Eles pararam em uma ponte, de onde podiam ver as luzes da cidade refletidas no rio, e Oikawa virou-se para ele com um sorriso suave.
— Esse é o nosso começo, né, Iwa-chan? — murmurou, aproximando-se para um abraço apertado.
Iwazumi correspondeu, fechando os olhos, tentando se entregar àquele abraço, àquela sensação de amor e felicidade. Mas, no fundo de sua mente, as vozes persistiam, sussurrando uma verdade que ele não estava pronto para aceitar, uma verdade que o assustava mais do que ele queria admitir.
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Entre Risos e Ciúmes
FanfictionOikawa e Iwazumi foram amigos inseparáveis na infância, mas, como tantas histórias, a vida os levou por caminhos diferentes. Agora, anos depois, um reencontro inesperado os coloca frente a frente, trazendo de volta risos e ciúmes há muito tempo ador...