Melodia da Carnificina

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Pov: wednesday.

A lâmina brilhava sob a luz fraca do porão, o som da água escorrendo misturando-se à melodia suave que escapava dos lábios de Wednesday. Ela cantarolava uma canção infantil, algo doce, destoando completamente do sangue que ainda escorria lentamente das bordas das ferramentas. As luvas pretas apertavam com firmeza o cabo da faca enquanto ela limpava a lâmina com um pano já encharcado de vermelho.

A vítima, agora sem voz, estava espalhada pelo chão. Wednesday sentia uma leve tensão ainda vibrando em seus dedos, como se o ato em si tivesse sido insuficiente. Talvez fosse o bebê. Talvez o monstro dentro dela, crescendo dia após dia, sugasse mais do que sua energia roubava seu prazer.

Ela lembrava do som da carne sendo rasgada, o grito abafado pelas fitas, e de como seu próprio corpo havia reagido. Um tremor percorreu sua espinha, um arrepio de prazer que já não vinha com tanta intensidade quanto antes. Havia uma fúria mais selvagem, mais urgente. Cada corte, cada perfuração, não parecia o suficiente.

Ela passou a língua pelos lábios. — Poderia ter durado mais...— sussurrou para si mesma, jogando o pano manchado no balde. A faca, limpa e reluzente, voltou ao seu lugar no suporte.

Enquanto organizava as ferramentas com uma precisão quase mecânica, sentia o latejar no fundo da mente, como um eco da abstinência que finalmente havia sido rompida. A agressividade, a ânsia por destruição, tinha sido diferente. Ela não havia se controlado. Tinha permitido que o impulso a consumisse, e a vítima... não restara muito para apreciar.

Um sorriso torceu seus lábios enquanto olhava para as paredes sujas de sangue, reflexo da violência extrema que ela havia descarregado. Talvez o próximo durasse mais. Talvez o próximo sobrevivesse o suficiente para preencher o vazio que agora parecia se alastrar dentro dela.

Mas, por enquanto, ela cantarolava.

O sangue no porão já não parecia tão estranho para Wednesday. Manchas escuras se misturavam ao cimento frio, algumas tão antigas que haviam se tornado parte da paisagem macabra. Ela não se importava com a desordem—era uma lembrança constante de que, mesmo grávida, ainda estava no controle. Pelo menos, por enquanto.

Os sons abafados dos passos de Enid no andar de cima mal incomodavam. Ela sabia que sua esposa estava orgulhosa, talvez até aliviada, ao ver que Wednesday finalmente havia saciado sua fome. Mesmo assim, havia uma sombra de inquietação. O que viria depois? A tensão em seus ombros não desaparecera completamente, como esperava.

Enquanto guardava o último bisturi, seus olhos se voltaram para a vítima no chão—ou o que restava dela. Membros torcidos, carne despedaçada. O rosto desfigurado já não parecia humano. O silêncio da morte preenchia o ambiente, mas o que prendia sua atenção era o olhar vazio, ainda fixo nela, como se os olhos da vítima continuassem a gritar silenciosamente, mesmo depois de sua última exalação.

Wednesday inclinou a cabeça para o lado, observando com curiosidade. Aproximou-se lentamente do corpo, ajoelhando-se ao lado, uma mão delicada passando pelo que restava do cabelo ensanguentado. Ela ergueu um dos braços mutilados, examinando as marcas profundas de suas unhas. Tinha perdido o controle em um ponto... Sua respiração havia acelerado, o suor escorrendo pela testa enquanto ela rasgava pele, carne e tendões com uma fúria primitiva.

— Eu exagerei... que pena. — Murmurou com desdém, soltando o braço que caiu no chão com um som úmido. Wednesday ficou de pé, olhando para o corpo como se fosse uma obra de arte que não tivesse atingido sua perfeição.

O eco dos passos de Enid descendo as escadas soou, e o sorriso satisfeito de Wednesday desapareceu por um breve segundo. Ela se preparou para a chegada da esposa, como se uma parte dela ainda fosse uma performer, sempre ciente da plateia.

Cárcere Doméstico - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora