Ecos da Insanidade

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Pov: Wednesday

O porão estava mais escuro do que o habitual, mas isso não a incomodava. A escuridão era um velho amigo, algo familiar que sempre estivera ali, observando silenciosamente, esperando para se manifestar. O cheiro metálico de sangue, o som do gotejar insistente ecoando pelas paredes, e o leve ranger de correntes nas proximidades formavam uma sinfonia reconfortante. Era um espaço de controle, onde suas mãos podiam moldar a realidade da maneira que ela quisesse.

Mas ultimamente, até isso parecia estar fugindo de seu alcance.

O peso de sua barriga já estava evidente, e cada movimento era uma lembrança constante da presença que crescia dentro dela. O que antes parecia ser uma prova de seu domínio sobre a vida, agora parecia um parasita, sugando sua força, sua sanidade, sua essência.

Wednesday olhou para a vítima acorrentada à sua frente, um homem sem nome. Ele já estava desfigurado, cortes profundos decorando seu corpo, uma obra que antes ela teria apreciado com minúcia, mas agora... agora parecia insignificante. A satisfação que ela costumava sentir estava se diluindo, sua mente vagando, perdida em um turbilhão de pensamentos que ela mal conseguia controlar.

Ela se aproximou, pegando uma faca fina e afiada. O som do metal raspando na mesa foi um estalo que reverberou pelo porão. Ela segurou a lâmina com força, mas suas mãos, antes tão firmes, agora tremiam ligeiramente. Olhou para a barriga inchada e, por um momento, teve uma alucinação breve, mas perturbadora.

Em vez do homem acorrentado, ela viu o rosto de Enid. Enid, machucada, gritando, suplicando por misericórdia. As mãos de Wednesday congelaram, seus olhos se arregalando. O que...?

— Não... — murmurou para si mesma, afastando a visão, mas ela permanecia. Ela piscou, tentando clarear a mente. Enid não estava ali. Não poderia estar. Mas a imagem persistia, os gritos ficavam mais altos.

O coração de Wednesday acelerou, seu controle vacilando.

— Está acontecendo de novo — sussurrou, tentando ignorar o tumulto em sua cabeça.

A lâmina que ela segurava começou a tremer em suas mãos, enquanto a alucinação da figura de Enid permanecia na cadeira, ensanguentada e encurralada. Ela queria se libertar daquilo, mas era como se o próprio bebê dentro dela estivesse se alimentando desse caos, intensificando sua paranoia, distorcendo sua percepção.

— Não! — ela gritou de repente, jogando a faca no chão, ouvindo o estrondo ecoar pelo porão. A imagem finalmente se dissipou, mas o pânico dentro dela continuava a crescer. Ela ofegava, seus olhos arregalados, como se estivesse presa em algum tipo de inferno particular.

No silêncio opressor que se seguiu, um som distante de passos na escada fez com que ela erguesse a cabeça. O ranger da porta do porão sendo aberta, e a luz fraca que invadiu o espaço revelou Enid, a verdadeira Enid. Ela desceu os últimos degraus com um olhar calmo, mas preocupado.

— Wednesday? — a voz de Enid era suave, como se falasse com um animal acuado.

Por um breve momento, Wednesday não conseguiu distinguir se essa Enid era real ou outra manifestação de sua mente enlouquecida. Ela ficou parada, congelada, até que Enid se aproximou e, gentilmente, segurou seu braço. O toque trouxe uma sensação de realidade que a arrancou da espiral em que estava se perdendo.

— O que você está fazendo aqui? — Enid perguntou, olhando para a vítima desmaiada e a bagunça no porão.

Wednesday piscou lentamente, tentando se recompor.

— Eu... não sei — murmurou, sua voz mais baixa do que o normal. Ela olhou para as mãos, manchadas de sangue. O tremor havia cessado, mas a sensação de descontrole permanecia latente.

Cárcere Doméstico - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora