Precisamos conversar

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— Tchê, Paraná! Precisamos conversar guri. — Sul chamou autoritário e sério.

— P-paixão? — Paraná respondeu um pouco assustado, mal tinha entrado na sala. Sorte que estavam sozinhos no momento.

O barbudo se levantou e cruzou os braços.

— O que tá acontecendo contigo? Fazendo aquele fiasco todo porque eu te abracei. — Gesticulou indignado com as mãos. — E na frente da Cat ainda! Tu até assustou a guria.

O menor recuou um pouco com toda aquela agressividade, fazia tempo que não via isso nele. Até entendia o que se passava, o Paraná da outra dimensão devia ter feito alguma coisa, mas a energia agressiva do gaúcho estava lhe afetando.

— Tu que tá me assustando agora. — Murmurou recuando um passo.

Aquilo fez com que Sul parasse por um momento. Ele recuou e respirou fundo se acalmando. Encarou o namorado.

— O que tá acontecendo?

Paraná se aproximou dele e o tocou suavemente.

— Vai parecer loucura, mas eu juro que é verdade tah. — Tomou coragem. — Parece que eu fui pra outra dimensão e o Paraná da outra dimensão veio para essa. — Rio Grande do Sul sorriu desacreditado. — Daí lá a gente não namora, por isso ele deve ter te afastado.

— Tchê, eu sei que tá difícil esse estresse dos últimos dias, mas inventa uma desculpa melhor neh Paraná.

— Mas é verdade paixão. — Como faria com que acreditasse em si? Ele tendia a ser muito cético. — O Sampa também foi! E ainda ficou lá uma semana. Eu só fiquei um dia.

Diante da cara desacreditada do maior Paraná agarra sua mão e o puxa para fora.

— Vamos lá falar com ele agora!

— Guri. — Falou num tom de aviso. Se aquilo fosse mesmo uma brincadeira ele ia se ver consigo. Seriamente.

— Sampaaaaa! — Chegou gritando na sala alheia assustando todos os presentes.

Vendo aquilo Minas se levanta e já sai arrastando consigo Santinha, ela não tinha muito senso de autopreservação para ficar fora de encrencas, bastasse o São Paulo ter surtado a semana inteira agora era o Paraná buscando barraco junto com Sul?! Não tava a fim de entrar na confusão.

Rio por outro lado se levantou junto com o paulista aturdidos pela entrada estrondosa dos sulistas.

— Fala pra ele que a gente tava em outra dimensão. — Apontava para o namorado.

O gaúcho encarou agressivamente o outro, ele não teria coragem de mentir, faria questão de o intimidar.

— A gente tava em outra dimensão.

— Barbaridade! E quando que vocês combinaram isso?

— Não.... É verdade. — O carioca se manifestou também.

Agora não tinha como continuar duvidando, era muita gente envolvida pra uma simples brincadeira de mau gosto. Passou a mão no rosto e encarou o namorado em seguida.

— Explica direito isso piá.

— Ai paixão... Não tenho como explicar neh! Como se eu soubesse o que aconteceu. Aliás, como aconteceu. Só sei que eu fui.

— Cê lembra daquele vão entre uma coluna e a parede que tem lá no corredor da copa? — São Paulo tentou explicar. — Parece que ali que é o portal. Só eu, o Ná e o Acre que passa.

— Daí parece que a nossa versão do lado de lá tem que passar também pra fazer efeito. Por que foi isso que eles fizeram também.

Sul pressionava a ponte do nariz com força e tinha os olhos fechados.

— Tah! E porque o Acre não foi também? — Abriu os olhos e encarou o namorado. — Ou ele foi?

— Ele não foi até onde a gente sabe. — O paulista murmurou. — Lá ele é uma pessoa que nem sequer tentaria passar.

Ainda sem acreditar o gaúcho encara Rio de Janeiro com certa agressividade.

— E tu? Porque tá com eles?

— Essa é fácil brother, porque o Sampa veio pra cima de mim com um papinho de melhor amigo e pah. — Lançou um olhar para o outro sudestino. — O meu Sampa jamais faria isso. Né boneca. — Sorriu provocando o outro.

Não responderia, mas diante da pressão do barbudo SP assentiu com a cabeça, sentia que estava um pimentão.

Finalmente o gaúcho respirou fundo e relaxou a postura indicando que pelo menos aceitava aquela desculpa.

— Tah bom, suponhamos que seja verdade. — Se virou para o paranaense. — Porque tu não me procurou guri?

— Porque não era exatamente eu ali neh paixão! Lá tu era casado com a Cat! — Esperou ele absorver a informação. — E um bunda-mole.

— É o que jaguara?

— Um bunda-mole, pau-mandado da esposa. — Paraná repetiu com um sorriso divertido no rosto. — Daí era claro que eu não te procuraria aqui neh.

— Tah! Então tu procurou quem?

— E eu vou saber? Eu tava lá neh criatura! — Começava a se alterar.

— Ah essa parte eu sei. — Rio se manifestou de novo. — Foi o Sampa que percebeu que ele tava estranho e chamou no canto pra conversar. Até onde eu sei eles eram inimigos tá ligado.

— Essa parte eu fiquei sabendo também. — O paulista corroborou.

Diante da cara contrariada do loiro, o paranaense se pendura em seu braço.

— Não foi nada tão grave assim que eu fiz, neh paixão? Não dá pra deixar pra lá?

Rio Grande do Sul suspirou novamente. Àquela altura estava mesmo fazendo uma tempestade em copo d'água. Puxou o queixo do menor e lhe deu um selinho.

— Tudo bem paixão. Eu deixo pra lá se tu me fizer esquecer. — Sorriu de canto com total duplo sentido.

— Vamos logo pra casa daí. — Lançou um olhar divertido para o melhor amigo. — O Sampa ainda tem que explicar o novo piercing pro Rio.

São Paulo ficou escarlate.

— Cala a boca meo! Caralho! — Reagiu tardiamente.

— Piercing é? — O carioca já manifestou sua curiosidade olhando para o parceiro. — Que piercing? Onde dessa vez?

— De nada. — Paraná anunciou alto e saiu puxando o gaúcho pela mão enquanto recebia ambos dedos do meio do paulista.


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— Que piercing que tu tá falando? — A curiosidade do Sul foi maior que a pressa de chegar em casa.

— O Sampa de lá tinha um piercing no pau. — Falou com naturalidade olhando para o namorado. — Tu bem que podia fazer um neh.

— Eu não! Tá maluco? Degringolou de vez? Faz tu se quer tanto.

— Mas eu quero chupar um, não ter um. Daí é tu que tem que ter.

— Negativo guri! Olha as coisas que tu me fala!

— Ah vai! Nem deve ser tão caro de fazer.

— Não importa! Eu não vou furar meu pau! Não é pelo dinheiro ou falta dele!


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— Caralho menó! Agora cê tem que fazer um!

Rio exclamou alto enquanto São Paulo corava quieto no lugar. Só contou para ele porque realmente ponderava em fazer. Ainda lembrava da sensação de ter um e em como era gostoso brincar com aquilo. Afastou o rosto do carioca de si, ele estava muito próximo.

— Cala a boca babaca. O corpo é meu e eu que decido.

— Mas tu quer fazer né? — Assentiu minimamente enquanto o moreno sorria largo. — Vai ficar mais goxtoso ainda. — Ronronou em seu ouvido fazendo-o arrepiar.

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