Domingo, 8 de julho

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Renato mandou uma mensagem enorme pelo WhatsApp pedindo desculpas pelo ocorrido na sexta. Ele disse que não estava num bom dia e acabou ficando mais estressado do que o normal, especialmente comigo que não tinha nada a ver com a história. 

Eu não sei o que exatamente acontecera naquela noite, mas sei que as coisas começaram a ficar estranhas quando eu acordei de madrugada e vi Seu Antônio tentando expelir algo para fora de si. Para falar a verdade, aquilo realmente havia acontecido? Ou tudo não passara de mais um pesadelo estranho? Renato não havia sido muito específico no seu pedido de desculpas – estava se desculpando pelo quê? Só sei que a minha imaginação estava mais fértil do que o de costume.

Decidi compartilhar um pouco do que eu lembro com Cecília. Fomos para uma sorveteria próxima da casa de meus pais, que havia passado por uma reforma recente. Não detalhei o motivo do rolê repentino, mas sinto que havia deixado Cecília curiosa. Ela disse que eu estava com aquele "ar" de misterioso que odiava, pois tendia a explicar os pormenores apenas pessoalmente, o que a deixava elétrica até nos encontrarmos de fato.

Depois de elogiar a roupa metálica que Cecília havia comprado, que fazia parte do seu projeto denominado de "uma nova mulher", entrei no assunto e repassei o máximo de detalhes possíveis do que lembrava. 

Cecília escutou tudo em silêncio e, de tempo em tempo, apenas pedia para que eu falasse com mais calma por não estar conseguindo absorver a cronologia dos acontecimentos. Quando já estava na parte em que Renato me trancava no quarto de hóspedes, Cecília ergueu o dedo como se estivesse pedindo um momento de fala. Titubeou no início, mas, depois, deixou escorrer as suas impressões.

— Se tudo o que você me contou realmente aconteceu e não faz parte de um de seus pesadelos, temos uma situação, no mínimo, estranha. Primeiro, isso do tio dele... Você disse que ele toma muitos remédios, não é? Você já teve a curiosidade de jogar o nome de alguns no Google para entender quais sintomas eles combatem? Eu particularmente preciso fazer isso, porque não sei nada de remédios além de dipirona e dos que tomo para o meu tratamento hormonal. Seu Antônio pode ser também só um pouco teimoso e esteja farto de tanta medicação. Alguns têm efeitos colaterais e os que ele sente podem ser fortes... Não sei.

— Talvez não seja nada demais. Renato deve estar acostumado com isso. Parece ter sido uma crise momentânea de Antônio. O que me estranha é ele sentir a necessidade de me trancar no quarto... E ele, sei lá, agiu de forma estranha também. Até a voz estava diferente. E a gente teve uma conversa antes de eu apagar... Eu fui meio invasivo, coisa de bêbado, e ele reagiu de forma quase agressiva. É um outro lado de Renato que eu não estava acostumado.

— Ele pode ter te trancado apenas para que você não presenciasse a crise do tio. Tem coisas que a gente não precisa ver. Agora eu, como boa espectadora de filmes de terror, começaria a reparar em mais detalhes, especialmente nas sextas quando Renato trabalha no apartamento. O que eu acho curioso é a porta do escritório fechada com reconhecimento facial. Ele deve guardar coisas muito importantes lá dentro, mas reconhecimento facial? Um pouco... demais. Bom, não sei. Só ficaria muito feliz se você compartilhasse comigo tudo o que descobrir. Mas, fora isso, vocês tiveram um momento de intimidade. E isso da doença terminal mexe com qualquer um. Eu nem imagino como seja lidar com isso.

— Eu não vou começar uma investigação só por causa disso e acho que você tem razão. Eu estou conhecendo o Renato preocupado com o futuro e que se importa muito com o tempo. E o tempo passa diferente quando percebemos que não há sequer opção de desperdiçá-lo.

— Não precisa formalizar uma investigação nível Sherlock Holmes, meu caro. Mas eu, se fosse você, pelo menos tentaria tirar alguma coisa do Seu Antônio. Ele não fala, mas escreve, não é? Você disse que ele só tem dificuldade para andar. Dê um papel a ele e peça pra escrever alguma coisa em resposta ao que você perguntar.

— Ele treme muito. Não sei se teria forças para escrever alguma coisa. Sem contar que o Seu Antônio sempre parece absorto e longe da realidade. Acho que seria muito invasivo de minha parte. Ah... e sobre a doença do Renato... por favor, não conta para ninguém.

— Ah, pode deixar. Mas, hein, eu preciso te contar do date que marquei com o Marcelo. Eu nem sabia que ele tem interesse em mim. Começou a me seguir do nada no Instagram e...

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