20 - Amore o mafia: scegli con cura.

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20 - Amor ou máfia: escolha com cuidado.

VALENTINA - PASSADO

A dor da perda é algo palpável, é como se fossem cortes na alma. Eu já não tenho lágrimas para chorar, e nem ideia do que fazer para conseguir me hidratar. Acompanhar o crescimento de algo que me conecta tão forte a ele, destrói todo os dias um pouco de mim. Como posso evitar que meu filho não sinta meu sofrimento, se tudo o que faço reflete na sua ausência? Estou tão focada no que perdi, que não consigo ver o que ainda restou. Tento focar em mim, fazer o acompanhamento que a criança merece, mas tudo o que vejo são seus olhos brilhando ao ser nomeado como futuro capo. A dependência emocional nunca esteve tão forte e evidente em mim. Hoje percebo que passei os últimos 3 anos nas sombras de alguém que eu nem sequer conheço. Alguém que nem sequer supria o amor que eu precisava. O reconhecimento que preciso. O apoio que eu precisarei. Eu achava que ele cuidava de mim me escondendo, mas hoje percebo que eu era apenas uma ótima conveniência.

Notícias sobre sua vida agitada, não param de aparecer nos sites mais conhecidos de toda a Itália. O menino com futuro brilhante, está sabendo mesmo como aproveitar sua nova fase de solteiro. Alguns tabloides até questionam por onde ele andava todos esses anos, que só agora começou a aproveitar dos privilégios que tem.  Eu poderia listar alguns lugares, mas parece que nenhum o fez tão feliz como agora. O sorriso nas fotos mostram como ele está leve e realizado. Finalmente o garotinho protegido, pode ser amado por todos. Sinto nojo em ver como ele seguiu, e nem lembra mais de mim. Foi muito fácil deixar um pedaço dele em mim, e jogar fora tudo o que eu fui pra ele. Simples assim, agora ele vive uma nova vida.

Ontem tive um sonho tão horrível, ele tentava matar nosso filho para que ninguém soubesse do caso que tivemos. Provavelmente foi alguma influência das conversas que tenho tido com Victor. Ele disse que nunca havia ouvido falar sobre meu demônio, mas que depois que eu me abri com ele, passou a pesquisar sobre. Victor disse que homens como o Antonio, não deixariam as coisas saírem baratas para mim. Que provavelmente ele teria reações previsíveis, sendo a melhor, que me arrancaria a criança para ser criado como se deve. E a pior, claro, que colocaria um fim no problema. Rio nervosa. Problema? Provavelmente é assim mesmo que ele me veria, caso soubesse. Ou então me colocaria toda a culpa do que aconteceu, seria típico da sua nova personalidade de bad boy. O amor hoje me causa repulsa. Eu também não poderia. Eu não seria uma boa mãe. Nem ao menos tenho referências do que é isso, já que fui abandonada ainda criança.

Depois de longos meses de dor, sofrimento e risco de aborto, o grande dia chegou. Hoje irei o tirar de vez de dentro de mim. O resto que sobrou de um amor doentio e egocêntrico. Tudo que era belo, morreu dentro de mim. Já não sinto mais nada. Nem amor, nem ódio, nem mesmo a tristeza me procura. As últimas semanas de gestação foram vazias, e marcadas por encerramentos de ciclos. Apaguei todas as nossas fotos, todas as mensagens, queimei tudo o que ainda me lembrava dele.

Eu nem ao menos quero olhar a criança quando nascer. Victor disse que irá cuidar de tudo para mim. Apesar de não sentir nada por ele, e ainda ter dúvida sobre as coisas que me conta, a partir de hoje terei uma eterna dívida. Não posso ter algo que me lembre a tanta dor. Eu preciso zerar tudo em mim, e hoje será o primeiro passo para isso.

ANTONIO - DIAS ATUAIS

Eu me deixei levar pelos meus desejos, e agora não sei como voltar atrás. Nada do que vivemos, mudou aquilo que eu penso. Ela não está segura comigo. E hoje isso ficou ainda mais claro. Nos amamos como loucos, mas agora a vendo assim tão entregue em mim, me vem a culpa. Eu não deveria ter ultrapassado o limite entre nós. Como será agora? Será que cometi o pior erro da minha vida? A puxei pro meio do furacão. A noite lá fora já caiu, e eu temo que ela acorde e tenhamos que encarar a realidade aqui dentro. Só o fato de ela saber que eu ainda sinto sua falta, me deixa tonto. Ser vulnerável não é algo que eu já tenha experimentado na vida. É muito mais simples ser seu demônio particular, o vilão que não a quis. O monstro que a mandou para o outro lado do mundo, apenas por que não queria a assumir. Rio da ironia. Eu morreria por ela, e foi por isso que eu aceitei morrer todos os dias longe dela. Pela sua segurança. Que grande idiota que eu fui. Nem mesmo assim ela estava segura.

A DAMA DA MAFIA - Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora