26 - Il tradimento familiare è un veleno lento.

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26 - A traição familiar é um veneno lento.

ANTONIO

Assim que Lorenzzo deixa a sala, a realidade me visita. A solidão é como uma vadia ingrata. Não posso me deixar levar pelo sofrimento da sua ausência. Estou maluco, e não consigo parar de pensar nela. Eu deveria ir atrás? Será que eu entendi errado o seu sinal? Eu sou um homem, ou a porra de um frouxo? Será que isso foi um adeus definitivo? Eu não sei se eu consigo sobreviver sem ela. Eu perdi a minha estrela, meu guia. Estou sem chão, e sinto que já estou ficando sem humanidade de novo. Eu gosto mais de mim quando ela me transforma, só com sua presença. Gosto de ter sentimentos, e não ser um grande buraco vazio de novo. Ao menos eu tive uma despedida, antes de a perder de novo. No fundo, sei que já sentia. Nada que é bom, permanece na minha vida. Por isso, eu não perdi nenhuma oportunidade de marcar os seus pensamentos. Fiz o meu melhor, pra que ela entendesse meus sinais. Eu transformei em palavras. Tive coragem de a dizer tudo que não disse no passado. Caramba, porque não podemos ser um casal normal, com uma comunicação mais clara e objetiva. Tudo em códigos, olhares, telepatia. Que maldita conexão que me prende a ela. Ao menos agora ela vai embora com a certeza de que eu a amei com tudo o que fui capaz. Talvez ainda não seja o suficiente para a fazer ficar, mas eu não podia deixar de tentar. E faria tudo de novo, do mesmo jeito. Eu não posso mais me culpar por ela ter ido embora, por que dessa vez foi diferente. Porra! Ela sabe que foi diferente. Mas ela me abandou da mesma forma.

Os pés estão inquietos, e eu já quebrei três canetas enquanto faço minhas pesquisas. Já bebi tanto café pra ficar mais ligado. Mas não adianta. Eu não consigo focar, não dá. Eu não vou ter outra escolha, preciso esquecer da minha própria humanidade. Só assim eu consigo enfrentar o meu próprio destino. É como um jogo de tabuleiro, onde eu vejo cada aliado sendo minado. Um, por um. O que mais poderia me acontecer? Eu carrego o karma de muitas gerações, de crimes e ilegalidades. E agora eu estou passando pelo meu último desafio. Perder tudo que é importante, para virar o homem frio e cruel que a liderança da máfia tanto precisa. Ser o Capo di tutti Capi tem um preço, e eu já sabia que teria que pagar.

Para merecer. É o meu legado, a minha história sombria.

Levanto da minha mesa sem pensar, e decido que vou ver como está meu pai. Até entendo que ele ficaria a noite em observação, e tudo bem. Mas já se passou um dia, e ninguém me fala nada certo.

Chegando ao hospital, vou direto ao médico que recebeu meu pai ontem.

- Sr. Ferrara, peço que o senhor aguarde aqui enquanto eu chamo o médico responsável pelo tratamento do seu pai. — diz o médico, enquanto tenta me guiar para a sala de espera.
- Foi você que recebeu o meu pai, não entendi por que outra pessoa está cuidando disso? — algo me soa suspeito, perco a vontade de ser gentil.
- Não se preocupe, senhor. É que como foi um procedimento mais delicado, o nosso chefe assumiu o caso. — tenta me confortar, mas seu olhar está buscando uma fuga. Ele parece nervoso em me ver aqui.
- Ok. — de nada ia adiantar falar algo. Quero logo uma resposta.

Mais de 20 minutos se passam, e eu começo a ficar novamente sem paciência. Levanto, e vou até a secretaria. Já estava preparado para começar uma cena, até que pela porta atrás de mim, entra o que eu acredito ser esse tal chefe.

- Sr. Ferrara? — procura pela sala. Duvido que ele não me conheça. As pessoas se perdem pelo excesso de detalhes.
- Eu. — me viro de frente, e cruzo os braços. Meu rosto deve estar com uma expressão bem feia, pois ele engole em seco.
- Venha comigo até a minha sala, por gentileza. — e me guia até os fundos, em uma sala reservada.

Ele se senta em sua mesa, e eu o acompanho sentando em sua frente. Me ajeito na cadeira, e me coloco em posição de ouvinte. Espero que ele tenha algo muito convincente pra me falar, caso contrário, é bom que tema por sua vida.

A DAMA DA MAFIA - Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora