A DAMA DA MAFIA - Vol. I

25 - Amare è anche saper rinunciare.

25 - Amar é também saber renunciar.

VALENTINA

E o sonho se tornou realidade. Adormecemos novamente grudados. Depois de nos amarmos por horas. Mas dessa vez em uma cama, com mais dignidade. Na dele. Eu nunca havia dormido aqui antes. A cama era boa, confortável... mas o seu peito era ainda melhor. Não lembrava de como nos encaixávamos tão bem um no outro. O amor misturado com saudade, tem um gosto agridoce. E esse sempre foi meu sabor favorito. Evitamos dormir, como se isso fosse um caminho sem volta para a realidade do dia seguinte. E pensar que em menos de um mês atrás eu acharia isso a maior insanidade da minha vida. Eu teria soltado um sorriso amargo, cheio de dor e mágoas. Mas me olhando agora, eu diria que o mundo pode girar tão rápido e sutil ao mesmo tempo, que te transforma e você nem vê. Hoje eu só queria ser a Sra. Ferrara, a escolhida do meu amor. Ah meu Deus, como isso já foi um sonho tão distante no passado. A Valentina de 15 anos jamais imaginaria como as coisas aconteceriam.

Em poucas horas tenho um encontro marcado com Victor. Ele tem algo que me pertence, e está usando isso contra mim. Desde nosso último encontro, ficou muito claro que sempre foi essa sua intenção. Como eu não percebi isso? O que não encaixa ainda é essa obsessão em Antonio e sua família. Por que ele quer tanto destruir os Ferraras? Seus negócios podiam continuar perfeitamente, lá no norte, enquanto a outra organização manda no sul. É assim por décadas pelo que tenho visto, e quanto mais informações aparecem, menos sentido isso tudo faz. No começo eu achei que fosse ciúmes, que ele me queria só pra ele. E até aí tudo bem, nunca tivemos nada, eu sabia como o levar. Por mais que ele sempre quisesse passar os limites, nunca forçou nada. Mas agora vejo que é algo muito mais pessoal com Antonio, do que um sentimento por mim. Eu fui apenas uma peça no seu quebra-cabeça. Deixei tudo ainda mais emocionante para o seu plano, me levando sozinha para longe e me deixando vulnerável.

Depois de tudo que vivi com Antonio desde que saímos daquela cabana onde Victor o arrastou, nossa relação mudou. Eu vejo Antonio com outros olhos, e sinto que nossa conexão voltou. Rio nervosa... percebi na verdade que essa maldita conexão nunca nem se estremeceu. Bastou nossos olhos se encontrarem naquele salão de festa antes do noivado, e eu já sabia. Eu nunca tinha deixado de pertencer a ele. Isso foi o que me deixou perturbada desde o início. Eu queria o odiar, o fazer sofrer. Mas tudo o que eu fazia, era apenas para tirar a atenção do que dizia o meu olhar. E mesmo assim ele percebeu, que eu ainda o olhava do mesmo jeito. Eu vi como ele sorriu malicioso, no segundo em que os nossos olhos se encontraram. Ali mesmo, ele já tinha certeza. E isso só o deu mais poder. E olha nossa situação agora. Estou fingindo dormir, com medo de que tudo acabe de repente. Já são quase 9 da manhã, e estranho ele não ter ido trabalhar ainda. Talvez ele esteja se enganando também. Ganhando tempo.

No último encontro com Victor, ele me fez prometer que eu sairia da mansão. Em troca do meu bem mais precioso. Mas eu já não confio mais nele, como antes. Desde o início eu deixei claro que essa situação era algo que meu pai queria, e não eu. Não havia necessidade alguma de usar meu ponto fraco para me chantagear. Pensei que fôssemos parceiros. Pensei que aquele maldito fosse meu melhor amigo. Ele me ajudou tanto... mas agora eu só consigo pensar que fui usada. Ele apareceu como um anjo em um momento que eu estava no inferno. Ele foi minha luz no fim do túnel. Como eu não percebi, que tudo foi conveniente demais. Um homem que nunca tinha me visto, se importar tanto, com uma gravidez que nem era dele. Ele já planejava essa maldita vingança? O que diabos, os Ferraras, fizeram diretamente a ele? Preciso descobrir isso, antes que ele consiga ferir ainda mais Antonio.

Tento aproveitar o presente, encaixo meu rosto em seu peito e respiro fundo buscando gravar o seu cheiro em mim. Ah, meu amor... como eu queria que tivesse sido tudo diferente. Se a gente tivesse sido mais maduros, se tivemos nos dado uma chance de conversar como merecíamos. Mas o destino não quis assim, não era pra ter sido. Controlo minha respiração para evitar chorar, mas quando percebo, o olho já está embaçado. Acho que Antonio sente seu peito molhar, pois ele desperta e me abraça forte. Nem precisamos de palavras, nos entendemos por telepatia. Acho que por isso sempre nos falamos coisas tão terríveis, pois nenhum dos dois acreditava nas porcarias que saiam das nossas bocas. Nem uma vez se quer eu duvidei da conexão que temos. De quando o olhar encaixa, e qualquer expressão do rosto podia ser uma declaração. A forma como nos olhamos é de admiração e desejo. Talvez um pouco de obsessão e perigo. Mas nunca foi neutro. Nunca. Disso, nós dois sempre tivemos certeza.