32 - A pior punhalada é a de quem você ama.
ANTONIO
- O garoto será útil. É filho do Capo deles. — Carlos está nervoso, e parece ansioso.
- Coloque o garoto no primeiro avião, e o devolva! — ordeno. Não quero nem chegar perto dele.
- Mas senhor... — insiste.
- Não! — interrompo. Não tenho tempo pra sequestrar uma criança.
- O senhor precisa deixar ao menos que eu explique o plano.
- Está fora de cogitação usar uma criança como refém! — falo firme, enquanto bato com a mão na mesa. Estou ficando cansado das coisas saírem do meu controle.Me levanto da cadeira, e vou até o bar me servir de uma dose de whiskey. Decido que mereço, e sou generoso ao despejar o líquido castanho. Me mantenho de costas, esperando que ele entenda o recado e saia da minha sala. Mas recebo o oposto. Carlos parece que não irá desistir tão fácil, e está agindo de forma suspeita. Já está tudo de cabeça para baixo, e eu ainda preciso me preocupar com o meu soldado mais experiente cometendo erros de principiante como esse. Óbvio que eu ainda não esqueci o fato que terem deixado Valentina para trás. Mesmo que aquela doida não quisesse vir, seja lá o motivo que ela tiver. Mas por que trazer uma criança para cá? Mesmo que seja de um inimigo, não faz o meu tipo fazer isso. Jamais o usaria uma em uma guerra. Isso é conversa apenas para homens.
Admito que não tenho escrúpulos e nem remorso, mas eu jamais roubaria a infância de alguém como fizeram comigo. Vou esperar o moleque completar seu "Ritual de Iniciação", e vir atrás de vingança. Então assim, poderemos duelar.
- É o filho de Valentina, senhor. — finalmente confessa e me arranca dos meus pensamentos. Me sinto tonto e vou até a minha cadeira conforme continua. — E foi ela que pediu que eu o trouxesse.
- O que? — a voz sai quase como um sussurro.
- Desculpa omitir, mas eu fiquei sem saída. A garota estava desesperada. — Carlos cospe as palavras, e aos poucos vou sentindo um peso sobre os meus ombros.
- Ela pediu? — sento, me ajeito na cadeira. Eu também não consigo dizer não a ela.Eu não posso acreditar que ela fez isso comigo... me enviar o garoto, fruto do que ela fez com a porcaria do nosso amor no passado. Só de lembrar que ela ainda colocou o nome do meu avô nele. Edgar seria o nome do nosso filho, mas é o sobrenome de outro homem que o acompanha. Seria uma punição? Essa mulher vai me levar a loucura sem nem precisar estar aqui. Ela falou que tinha que dar um jeito de resolver algo, mas o que? Era do filho que ela falava? Ao menos isso faria sentido... o fato de ela não poder me contar o porquê, já que o pai da criança é justamente quem quer me matar. Ela já sabia do motivo que ele teria contra mim? Só de lembrar dela naquele maldito vestido de noiva, já sinto todo aquele ódio voltando de dentro de mim. Por que ela faria isso? Também não consigo parar de pensar no quão suspeito foi meu pai acordar do coma na mesma noite. Será que ele teria tentado matar meu pai? Que porra está acontecendo aqui! O que essa maluca está planejando? Será que ela está em perigo? Estou esperando por essa reunião do meu pai mais tarde, para começar a agir.
- Senhor? — Carlos me puxa de volta do meu pensamentos.
- Sim. — me assusto por lembrar da sua presença na sala.
- Desculpa não ser totalmente transparente, mas senti que era urgente. Ela estava mesmo desesperada que eu o encontrasse, e trouxesse comigo.
- Você precisou procurar? Ela não sabia onde estava? — tenho medo que as respostas confirmem o que meu instinto já sabe.
- Não parecia saber, ela frisou que eu precisava encontrar e o tirar ainda hoje. — ele mesmo parece derrotado.
- E como você só me avisa isso agora? — estou com o foco dividido entre meu chefe de segurança, e a enorme quadro de investigação imaginário que desenhei dentro da minha cabeça. Consigo me enxergar com uma caneta vermelha, ligando tudo. Estava tudo tão óbvio desde o começo. Ela voltando sempre pra ele.
- Ele tinha algo que pertencia a ela. — digo a mim mesmo.
- Mas eu nem consegui avisa-la que consegui o localizar. — continua Carlos, que parece nem perceber o que eu disse.
- E então? — pergunta, na esperança de que ele tenha alguma ideia do que fazer a seguir.
- Ainda não tenho mais informações, senhor. — seu olhar agora parecia de uma criança que conta onde dói para um adulto responsável.
- Eu preciso ficar um pouco sozinho, por favor. — me encosto na cadeira, e coloco as mãos do rosto. Escuto o barulho da porta se fechando. Em instinto eu arremesso a primeira coisa que vejo contra a parede. Solto um grito alto de dor, e angústia enquanto vejo o vaso se desfazer até cair todo no chão.
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A DAMA DA MAFIA - Vol. I
Mystery / ThrillerAntonio, aos 33 anos, está prestes a assumir o posto de Capo di Tutti Capi da máfia italiana, cargo que sempre foi seu destino. Desde jovem, ele foi moldado para liderar, passando por provações de sangue, dor e poder. Contudo, seu coração está divid...