Nossa cor.

345 36 34
                                    

São Paulo,
junho, 2023.

Rafaella entrou em casa com pressa, sem se despedir ou agradecer Eurico e Bianca, ela correu para o quarto e fechou a porta com força o suficiente para assustar seus vizinhos com o barulho. Ela seguiu para a cama, se enrolou no edredom e esperou que um choro desesperado iniciasse de imediato, que suas mãos começassem a tremer e seus dentes começassem a maltratar o interior de sua bochecha de forma involuntária, mas mesmo depois de dez, vinte minutos, e então, uma hora, seu cenário era o mesmo, seu olhar perdido encarando a parede, seu diálogo com a farsante ecoava a todo momento, em um looping ruim em sua mente, mas seus olhos continuavam secos.

Depois de uma hora torturante, onde ela questionava cada ação, cada palavra, cada momento e o porquê de ainda não ter estar chorando até sentir falta de ar, como fez tantas vezes durante os últimos dois anos, sempre pelo mesmo motivo, Rafaella ouviu batidas receosas na porta de seu quarto e fechou os olhos por alguns minutos, ninguém seria suportável ou paciente o suficiente para estar com ela naquele momento. Ela suspirou pesadamente, torcendo para que fossem embora, para que desistissem daquilo, para que desistissem da cara de pena seguido de algumas palavras bobas que vão fazer ela se sentir pior, mais burra, mais o que Estela descreveu.

Ao ouvir uma nova batida na porta seguido de um tom de voz preocupado, com sotaque carioca e voz charmosa, Rafaella se sentou na cama, e passou alguns minutos encarando a porta, ela queria a presença de Bianca, apesar de se sentir constrangida demais para encarar qualquer pessoa que tenha convivido minimamente com ela e Estela. Ao abrir a porta, Rafaella estendeu a mão para Bianca, puxando-a para dentro, para em seguida fechar a porta e voltar para a cama, sem muito contato visual.

R: Eu achei que você tinha ido embora - ela diz encarando as mãos.

B: Eu quis ficar para te ajudar com qualquer coisa, caso você precisasse - ela responde enquanto se aproxima, se sentando perto da mineira - Eu fiquei conversando com a sua mãe para passar o tempo.

R: Então eu devo te agradecer por ter impedido ela de vir ao meu quarto?

B: Ela ficou preocupada, mas eu acho que consegui controlar as coisas - ela pega a mão de Rafaella, acariciando com o polegar - Está um pouquinho mais calma? Eu imagino que tenha sido muito para encarar de uma hora para outra -
Rafaella sorriu pequeno e triste e assentiu com a cabeça, desviando o olhar para a carioca.

R: Eu ainda não chorei. Ela me disse coisas terríveis, coisas que a mulher que eu achei que existia, nunca pensaria - ela volta a encarar Bianca - E mesmo assim, eu ainda não consegui chorar.

B: Em algum momento isso vai acontecer, Rafa, quando você digerir melhor essas revelações de hoje, quando raciocinar tudo o que aconteceu nesses dois anos, você vai chorar bastante, até que isso não seja mais motivo de choro, e se torne apenas uma fase ruim que você conseguiu superar.

Rafaella assentiu com a cabeça enquanto murmurava em concordância e puxou a carioca para sentar ao lado dela, no centro da cama, e deitou a cabeça no ombro dela em seguida.

B: Você quer ficar sozinha? - ela pergunta enquanto começa a acariciar o rosto de Rafaella.

R: Quero - ela diz e encara Bianca - Mas fica comigo? - ela pergunta e a carioca assente.

Depois de longos minutos em silêncio, enquanto Bianca ia se acomodando mais confortavelmente na cama, a carioca deitou e abraçou Rafaella, que repousou a cabeça no peito dela, como se quisesse se esconder ali. Rafaella riu sem humor e levantou um pouco a cabeça para encarar a namorada.

R: O novo nome dela é Rafaella, acredita? - ela diz e Bianca nega com a cabeça em descrença.

B: Ela é uma psicopata! Espero que mandem ela para a cadeia e sei lá?! Deem uma surra nela lá dentro.

HappierOnde histórias criam vida. Descubra agora