Segundo tempo.

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São paulo
junho, 2023.

Bianca Andrade POV

É o dia do campeonato, finalmente. É um sábado bonito e ensolarado, as pessoas na arquibancada procuram um bom lugar na sombra ou algo que bloqueie o sol de seus rostos, enquanto as minhas colegas de time procuram um lugar calmo para orarem, fazerem suas superstições e se aquecerem. Eu me mantenho sentada em um dos bancos, com o olhar fixo nos lugares que guardei na arquibancada, ainda vazios. Eu estou tentando manter a calma, evitando ficar tão nervosa pelo jogo importante para o meu time ou chateada pelos meus pais e Rafa ainda não terem chegado, faltando poucos minutos para o início do jogo. Meu olhar só se desvia da arquibancada para a entrada do campo, na esperança de vê-los ali, perdidos, tentando encontrar um lugar na arquibancada cheia.

Mariana, antes de ir aquecer, tentou me acalmar, garantindo que Rafa viria e cumpriria a promessa que fez a nós duas. A sua voz firme e confiante me fez acreditar momentaneamente naquilo, mas a irmã dela não chegou dez minutos depois da nossa conversa, me tornando uma boba nervosa de novo. Em outra ocasião, em outro jogo, eu não daria tanta importância a esse atraso, mas felizmente ou infelizmente, eu acabei aceitando a ideia de Mari de fazer uma surpresa para Rafa no meu primeiro gol ou em algum momento emocionante do jogo. E é essa expectativa que está me fazendo tremer no banco.

A minha mente chata e barulhenta não me deixa orar, rezar ou fazer qualquer coisa que me acalme, como se quisesse que eu continuasse no papel de dramática, de inútil do time, de a carente de Rafaella ou de a coisa desimportante dos pais. Como se quisesse que eu não me confortasse.

...

O som do apito soou pelo e campo, dando início ao jogo e a minha pior performance. Eu estou no meu lugar, mas eu corro para o lugar errado, marco mal e não consigo ficar com a bola por mais de dez segundos, meu olhar se perde no maldito lugar reservado á Rafaella, entre Manu e Gizelly e os dois meus pais nas cadeiras da fileira abaixo, á cada minuto, me fazendo parecer uma criança perdido no gramado, um animalzinho esquecido.

Na metade do primeiro tempo, quando o time rival já tinha conseguido fazer seu primeiro gol e Mari estava distribuindo xingamentos á todas, em seus murmúrios não tão baixos, Rafaella chegou, sentou entre as meninas e mostrou os polegares, fazendo sinal de positivo para mim.
Enquanto Rafaella sorria fraco e Mari perguntava se eu não estava no time errado, eu aceitei que meus pais não iriam e fiquei chateada com isso, mas não sabia o que sentir em relação à Rafa, de repente me irritava mais vê-la ali, do que não vê-la.

A frustração por não ter feito o primeiro gol e, talvez, os xingamentos irritantes de Mari, foi combustível para o meu time, principalmente para Marcela, que fez um gol no final do primeiro tempo, nós fazendo respirar minimamente aliviadas.

Durante o intervalo, Mari se desculpou com o time pelos xingamentos exagerados e ressaltou a falta de atenção de algumas jogadoras enquanto me encarava, me fazendo revirar os olhos.

Algumas meninas foram até a grade para cumprimentar as pessoas que foram vê-las jogar. Eu estava tão irritada com com os meus pais, com as irmãs Kalimann e com o meu péssimo desempenho, que preferi ficar no banco, eu bebi um pouco de água e desvia o olhar para a garota atrasada na arquibancada, que acenou sorrindo.

B: Garota chata...não consigo ter raiva dela - eu murmuro emburrada.

Rafaella fez coraçãozinho com a mão junto com Gizelly, enquanto levantava a mão livre, mostrando os cinco dedos. Eu tentei me manter irritada, mas um sorriso sem graça escapou quando eu entendi que ela estava se referindo ao número da minha camisa.

No final do intervalo eu já estava devolvendo o coraçãozinho para Rafaella, com um sorriso maior que o meu rosto. Infelizmente eu sou fraca, boba apaixonada e perdoo rápido demais.

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