Jornal, promessa e jokenpô.

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São Paulo
Março, 2023.

Iniciando a sua terceira semana na escola nova, a mineira já sabe andar sozinha pelos corredores, ela sabe ir até a quadra e ao vestiário, quando a irmã "some" ou ao teatro quando não encontra Gizelly e Manu na sala, ela também sabe onde achar Bianca, apesar de não querer estar sozinha na companhia da carioca tão cedo.

Agora ela está sozinha sentada em uma mesa afastada no refeitório, já que tanto sua irmã quanto suas amigas estão ocupadas em suas atividades extracurriculares e a mineira ainda não foi aceita no teatro.

Ela está à minutos lutando contra a vontade de ir até a sala do jornal da escola, encontrar Bianca e ficar em silêncio na presença dela, encarando a morena digitar qual será o cardápio da próxima semana ou quando o grupo de líderes de torcida abrirão vagas. O que prende ela naquele refeitório abafado é o medo de que a carioca pergunte sobre Estela e que em meia dúzia de desculpas esfarrapadas de Rafaella, ela perceba e diga a Mariana que a mineira claramente tem um amor platônico pela mulher.

Do outro lado da escola, sentada na cadeira desconfortável daquela sala bagunçada, a carioca escreve sobre o grupo de líderes de torcida anunciando que abrirão vagas nas próximas semanas, com o mesmo ódio de sempre quando é obrigada a escrever sobre o grupo que a rejeitou e ela acabou tendo que ir para o time de futebol.

Faltam quinze minutos para o intervalo acabar e ela está com a mesma preocupação de quando entrou naquela sala a meia hora atrás. Será que Rafaella está sozinha? 

Ela sabe que suas amigas estão ocupadas e que não podem dar atenção para a garota, mas ela pode, a matéria que ela está fazendo qualquer um naquela sala pode fazer, até Flayslane que entrou para o jornal na semana passada. Ela podia sair dali e procurar pela mineira e ficar com ela até o fim do intervalo, para que ela não se sinta sozinha ou arrependida de ter voltado.

Bianca Andrade POV

Levando poucos segundos para que eu tomasse a decisão de ir ou não atrás da mineira, eu resolvi ir. Deixei que Flay terminasse a matéria das líderes e fui procurar a garota, optando por ir primeiro até a nossa sala, a biblioteca e depois para o refeitório, que eu nem tinha certeza se ela sabia ir até lá sozinha.

Mas para a minha surpresa, ela sabia e não estava sozinha.

Sentada em umas das mesas afastada, Rafa ria na companhia de Ivy, provavelmente falando sobre o tempo que estudaram juntas ou os beijos que trocavam nessa época. Eu parei por alguns segundos querendo voltar para a sala de jornal, terminar a matéria e deixar Rafa na companhia da outra mineira.

Era o que eu queria ter feito, mas quando eu menos percebi já estava parada em frente às duas.

B: Te procurei o intervalo inteiro, Rafa! - minto - Não sabia que você tinha aprendido a vir para o refeitório sozinha.

R: Aprendi hoje - diz brevemente - Você conhece a Ivy? - aponta para a garota.

B: Conheço! Oi, Ivete, tudo bem? - a cumprimentei chamando pelo apelido dado por Gizelly.

I: Tudo bem, boca rosa - sorriu pra mim - Senta aí - pede.

Eu sentei ao lado de Rafa e fiquei ali apenas como figurante, as duas continuaram a conversa animada que estavam tendo antes e vez ou outra Ivy me incluía no assunto. Eu passei boa parte daqueles últimos minutos de intervalo encarando as mãos de Ivy que ora gesticulava, ora tocava o ombro de Rafa, mas nunca ficavam paradas, eu nunca tinha percebido o quão inquieta aquela garota era e aquele jeito dela nunca me incomodou tanto quanto está me incomodando agora.

Felizmente o sinal estridente logo tocou indicando o fim do intervalo, nós três nos levantamos e seguimos para fora do refeitório juntas com a pequena multidão que tinha ali. No meio do caminho Ivy já começou a se despedir, dizendo que teria alguma coisa ou algum treino para fazer com as líderes, eu não me importei em saber o que era, parei de ouvir assim que ela disse “líderes de torcida” e apenas acenei para a morena que abraçou Rafa e seguiu para os corredores de acesso às quadras.

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