Toda paciência.

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São Paulo
Julho, 2023.

O mês passou com pressa, como se o tempo quisesse aliviar o sofrimento de Rafaella, apressando o fim dele. Ela chorou quase todas as madrugadas, desejando fortemente que toda a dor e vergonha se esvaísse junto á suas lágrimas, que qualquer vestígio de seu padrinho e a ex-esposa dele, desaparecesse da sua mente. Em meio a bagunça, Rafaella se pegava agradecendo ao universo com frequência, agradecendo pela existência de Bianca, sua namorada e melhor amiga. A mineira conhece a si mesma o suficiente para imaginar como estaria lidando com aquele momento difícil sem a presença da namorada, como ela encontraria refúgio em um quarto escuro, rejeição à comida e uma coleção de pesadelos que a fariam ter medo de pegar no sono.

Rafaella agora está no quarto de Bianca, que de repente se tornou sua segunda casa. Ela está sentada na cadeira em frente à penteadeira, cuidadosamente colocando uma foto das duas no porta-retrato, para que Bianca possa deixar ao lado da cama e lembrar, todos os dias, de como elas são lindas juntas. Enquanto isso, Bianca está deitada encolhida em seu cobertor rosa, observando a namorada com um sorriso carinhoso, ouvindo-a tagarelar sobre mil coisas e, ao mesmo tempo, se apaixonando mais a cada gesto e expressão de Rafaella.

B: E as suas amigas, amor? Você ainda fala com elas? Bruna e as outras.

Rafaella desviou o olhar para a namorada, estudando a pergunta por alguns segundos e então respondeu.

R: Elas caíram da roda gigante e não conseguem mais falar comigo e com ninguém - contou enquanto negava com a cabeça.

B: Meu Deus?! - ela arregalou os olhos e colocou a mão no peito - Mentira?

R: É! - ela riu baixo - Elas estão bem e falando como sempre, mas não somos mais amigas.

B: Você é boba, né, cara?! - reclamou e jogou a almofada na direção da namorada, que segurou.

Rafaella deu risada e se aproximou da cama, ela colocou o porta-retrato na mesa de cabeceira e almofada na cama, para logo se encolher junto à Bianca embaixo da coberta.

R: Há alguns meses atrás eu até tentei resolver tudo, sabe?! Para não ficar tão chato e para não repetir o erro que eu cometi com a Gi e a Manu. Mas é diferente dessa vez.

B: Diferente como?

R: Elas não dão importância e eu não quero ser a única a insistir nessa amizade, amor. Eu sinto falta delas e tudo mais, mas agora eu consigo entender melhor que estar com elas não era saudável para mim.

B: E o seu tio?

R: Não falo mais com ele também. Ele está cada vez mais louco procurando aquela ladra e enchendo o saco para saber se eu tenho mais alguma informação para dizer à polícia. Não aguento mais ele e esse assunto infernal.

Bianca concordou e se virou de frente para Rafaella, entrelaçando as pernas nas dela enquanto envolvia o pescoço da namorada em um abraço.

B: Você deu uma olhada no grupo que a Ivy criou? - perguntou e Rafaella negou - O Loreto deu ideia de fazermos uma reuniãozinha.

R: Onde?

B: É aí que entra a parte legal! Ninguém falava um lugar maneiro ou queria oferecer a casa, então a Gi lembrou da casa do tio da Manu.

R: No meio mato?

B: No campo, meu amor.

R: Vocês são loucos! Oito adolescentes no meio do mato? Vocês não assistem filmes de terror, não?

B: Vai ser legal, Rafa. Só três diazinhos! E agora que meu contrato na lanchonete acabou, eu quero sair para todos os lugares, quero curtir minha vida de desempregada de novo.

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