Episódio 4/18
" Você vive... Ou morre dependendo da minha vontade. " Elijah TVD
࿐愛࿐
Sexta-feira
3 h e meia da manhã do dia 2 novembroSe passaram horas e mais horas, a espera era uma tortura angustiante. Ela permanecia inerte e eu, imerso em uma quietude insuportável, ansiava pelo momento em que seus olhos se abrissem. A fome já não me importava, era irrelevante diante do peso da expectativa que esmagava meu peito. Poderia tê-la atacado antes. Já tive inúmeras oportunidades. Se quisesse, o teria feito sem hesitar. Mas, havia uma inquietação que queimava em mim, um desejo inexplicável que me fizesse hesitar.
Não era apenas o desejo de vê-la despertar..era mais profundo.
E então, finalmente, um movimento. Ela acordou com um sobressalto, o som dos pés descalços atingiu o chão ecoando como um tiro no silêncio abafado. Sim, era agora. Pude sentir a tensão crescente, pulsando no ar. Sua respiração estava frenética e o suor em sua pele pálida era visível. Um arrepio de satisfação logo percorreu minha espinha, o momento que eu aguardava havia chegado.
Agora tudo ganhava um novo sabor.
Segui cada um de seus movimentos, os detalhe eram apenas uma confirmação do que eu esperava.
Suas mãos trêmulas percorreram a gaveta, procurando algo. Talvez algum documento, cedulas...ou até mesmo o celular. Não encontrou nada, claro. Tudo estava comigo. Parte de mim imaginava a expressão dela ao perceber que estava com seus remédios. Talvez ficasse perperplexa, raivosa, talvez...mais
Foi quando ela parou. Seu olhar finalmente alcançou a janela.
Aquele era o momento.Nossos olhos se encontraram, vi o terror instantâneo crescer. A confusão tomou seu rosto, um misto de horror e incredulidade impotente. Sua reação foi ainda mais intensa do que eu imaginava. Carina tentou racionalizar, achando que eu era apenas um reflexo de sua mente exausta, uma alucinação alimentada pelo álcool e a falta de sono. Era quase patético, mas ainda assim intrigante.
Cada gesto dela era como um ato de uma peça que eu já conhecia.Eu não me movi. Não precisava.O simples fato de estar ali, de ser a fonte daquele medo tão profundo e paralisante, era suficiente. A forma como ela recuava, como seu corpo reagia ao que via,era exatamente o que eu queria. Ela estava consciente da minha presença, e agora não havia mais volta. O jogo estava apenas começando. Eu estava lá, tão real quanto o medo que pulsava em suas veias. Podia sentir o pânico a apertando, sufocando-a lentamente.
Era quase divertido, o modo como o terror tomava conta de seu corpo, a forma como seus olhos buscavam respostas no vazio escuro do quarto, negando a própria realidade.
Por um momento, quase sorri sob a máscara. A rachadura no vidro foi um toque sutil, uma pequena lembrança de que eu poderia quebrá-la, não só o vidro, mas a frágil segurança em que ela se agarrava. Eu a observei recuar, o terror crescendo em seus olhos, tudo aquilo parecia brincar com sua sanidade enquanto apenas aproveitava o espetáculo.
Carina começou a recuar, passos lentos e desajeitados, como uma presa que finalmente alcança a armadilha. Mas não houve pressa em mim. Eu sabia que o medo de consumir mais rápido do que qualquer ação minha. A máscara, o sorriso distorcido, tudo estava funcionando exatamente como eu havia planejado.
Seus lábios tremularam,como se quisessem gritar, mas o som ficou preso na garganta. O pavor que pulsava em suas veias era palpável, uma vibração que ressoava até em mim.
Então,como uma sombra se dissipa com o primeiro raio de luz, desapareci. Fiz pensar que eu havia sumido, como se ela estivesse vendo "alucinações". Desci da varanda rápidamente, com a mesma facilidade que subi, usando a árvore próxima à casa como um atalho. Cada movimento era calculado, sem esforço, sem som. Eu queria que ela sentisse a minha ausência que acreditasse por um segundo que estava segura.
As cortinas da casa estavam abertas,o que apenas facilitava meu trabalho. Eu poderia ver seus passos, para onde iria e oque fazia. Eu carregava um sorriso consigo por trás da máscara, precisava admitir. Essa garota...
Você não vai se livrar de mim.
Da cozinha, ouvi o som abafado de sua corrida até a geladeira, o estalo da porta abrindo e o roçar de vidro. Vodka. Ela bebia como louca, como se aquilo fosse dissolver o terror, afogar as imagens vistas antes. Mas eu sabia o que ela estava pensando. A dúvida. Aquele lampejo de incerteza.Porque, se eu não era, por que ela se sentia tão observada?
Ela repetia para si mesma,desesperada, que eu não estava ali. Que não passava de uma alucinação. Mas, em seu íntimo, eu via o contrário. Ela sempre soube. Desde o momento que nossos olhares se cruzaram, mesmo na confusão dos gritos da ambulância, Carina sabia que eu era real.
Ela correu até a cozinha,como se a luz fria da geladeira e a vodka fossem suficientes para afastar o que acabara de acontecer. Mas nada afastaria. Não de mim.
Foi quando eu percebi a porta entre aberta,agora a noite de terror finalmente começaria. Entrei devagar, sorrateiramente, sem que ela percebesse. Já estava ficando bom nisso.
O vento soprou a fresta da porta, empurrando-a com um rangido baixo. O som chamou a atenção de Carina.E então ela se virou, seus olhos me encontraram mais uma vez.
Eu estava lá,a tensão em seus músculos aumentou, a respiração acelerada deu lugar à apatia do medo absoluto. Vi suas mãos trêmulas largarem uma garrafa de álcool, o som do vidro se espatifando ecoou pela cozinha. O cheiro forte da bebida preencheu o ar, um reflexo da desordem que se passava dentro dela.
Ela deu um passo para trás,tropeçando nos próprios pés, e eu avancei, sentindo a energia dela fluir, o desespero crescendo com cada movimento meu. Sua respiração errática apenas me atraía mais, um convite que não poderia recusar.
- "Você não é real... Não é real..." - ela murmurou, uma voz falhando, quase não ouvivel.
O medo a imobilizava. Carina me encarava como se estivesse diante de algo impossível - algo que desafiasse sua própria sanidade. O espaço entre nós era mínimo .O que eu sentia era um misto de desejo e poder, uma atração que eu não conseguia nomear, mas que crescia com cada batida errática do seu coração.
- Tem certeza? -
murmurei, minha voz baixa e envolvente. Carina fechou os olhos por um segundo, como se estivesse lutando para acordar de um sonho, mas quando os abriu novamente, eu ainda estava ali.Inclinei-me ainda mais,tão perto que pude sentir o aroma do álcool qur saia de lábios. Foi então que suas costas bateram contra a mesa da cozinha, encurralando-a de vez. Minhas mãos, firmes, aprisionaram-na de ambos os lados, pousadas na cabeceira, sem espaço para qualquer fuga.
Ela estava louca, desesperada e eu me alimentava disso.
Não há saída Carina.
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O Som do Riso Cortado
Mystery / ThrillerAos 21 anos, Carina Elowen tenta escapar de seus traumas e do vício em álcool, mas sua vida muda drasticamente quando um palhaço sombrio surge. Entre o medo e uma atração estranha, Carina mergulha em uma espiral de desejos proibidos, confrontando se...