Episódio 8
Além da Estrada.࿐愛࿐
O cheiro doce de laranja começou a tomar conta da cozinha, enchendo a casa com o aroma familiar. Depois de finalmente cortar uma fatia do bolo de laranja e me sentar à mesa, mastiguei lentamente, tentando aproveitar o momento de paz. O doce gosto do bolo se misturava com o calor da massa recém-saída do forno.
- Com certeza, você ainda é boa nisso.-
Falei a mim mesma,feliz com o resultado.
Assim que terminei, lavei os pratos e ajeitei a casa. Quando finalizei tudo em geral, olhei para o relógio, marcando 17 horas da tarde. Ainda havia tempo, mas eu sabia que não poderia adiar por muito mais.
Ja era hora de me arrumar, não poderia enrolar. Subi para o quarto e fui direto ao banheiro. A água quente do chuveiro escorria pelo meu corpo, aliviando um pouco da tensão acumulada ao longo do dia. Fechei os olhos, tentando me concentrar apenas no som da água caindo, deixando que o calor lavasse não só meu corpo, mas também meus pensamentos inquietos.
Quando saí, me senti renovada, embora a ansiedade pela festa ainda permanecesse em algum lugar lá no fundo.
Com a toalha enrolada no corpo, fui até o guarda-roupa e comecei a analisar as opções de roupas que tinha. Eu queria algo que me fizesse sentir confiante, que deixasse uma boa impressão.
Meus olhos pararam em um vestido preto de alcinhas, simples e elegante. Ele era aberto nas costas, revelaria minha grande tatuagem de dragão que era mais uma coisa feita na adolescência, porém, está é uma coisa que não me arrependo. Pois era como símbolo de força e transformação, algo que sempre me lembrava de seguir em frente.
O vestido era lascado de um lado, mostrando parte das minhas coxas de maneira ousada, mas sem parecer muito vulgar. Quando o vesti, senti o tecido macio se ajustando ao físico, valorizando minhas curvas marcantes.
"Perfeito", pensei, enquanto me olhava no espelho. Era bonito, havia o comprado ano passado, embora estivesse bêbada no dia. Só fui descobrir da existência desse vestido dois dias depois, porém nunca tivera usado.
Finalizei o visual com um par de saltos pretos e acessórios discretos. Meus cabelos lisos estavam soltos, não havia penteado pois achava que solto daria um "certo" charme. Não passei nada de maquiagem além de um batom vinho. Agora sim, Estava pronta para enfrentar Bayville Scream - e qualquer coisa que pudesse acontecer lá.
Indireta pra vocês palhaços.
Depois de me olhar no espelho por alguns instantes, abri a gaveta do meu guarda-roupa em busca de uma bolsa preta que combinasse com o vestido.
Escolhi uma pequena, de alça fina, onde cabiam o essencial: celular, chaves e um batom.
Desci as escadas lentamente. Quando cheguei à sala, peguei o celular que estava carregando sobre o sofá, respirei fundo e caminhei até a garagem. O relógio no meu pulso marcava 18:30. Todos sairiam as 7 horas e nos encontrariamos em frente a Shipwreck, um barzinho no parque onde as pessoas ficavam para curtir e como hoje era Halloween, estaria lotado. Eu sairia um pouco antes de 7 horas já que exigia que algumas longas horas de estrada pela frente até chegar ao destino.
Subi no carro, coloquei o cinto de segurança e, com um leve frio na barriga, dei partida. O caminho seria uma espécie de preparação. Três horas de estrada, onde minha mente provavelmente vagaria pelos pensamentos que tanto tentava evitar. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim já se perguntava como aquela noite iria acabar.
Depois de alguns minutos de viagem,no trânsito,busquei na bolsa o pequeno pen-drive que sempre carregava. Coloquei-o no som do carro e logo os primeiros acordes de "Back to the Old House" dos The Smiths começaram a tocar. Era uma daquelas músicas que sempre mexiam comigo, me levando a lugares da minha mente que eu não sabia que existiam. Na verdade, o pen-drive inteiro era apenas de músicas dessa banda. The Smiths sempre souberam transmitir os sentimentos através das músicas, eu amava.
O trânsito logo parou e comecei a andar normal com o carro, seguindo um caminho onde não tinha tantos, talvez chegasse mais rápido que o previsto. Com a janela entreaberta, sentia a brisa fria da noite bater contra meu rosto, misturando-se com a nostalgia da música.
Eu tinha um presentimento estranho pois sabia que essa noite seria diferente. Meus dois maiores medos estariam presentes: palhaços e bebidas. E eu estava decidida, ou pelo menos tentei me convencer disso, que hoje seria o dia de enfrentá-los.Hoje eu me tornaria uma nova mulher, pensei, tentando me agarrar a essa ideia para me acalmar.
No meio do caminho, o toque do meu
celular quebrou o silêncio confortável. Era Livvy. Peguei meu celular na cadeira ao lado enquanto mantinha uma mão no volante, Atendi rapidamente e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa,ela perguntou:- Já está a caminho? -
- Sim, já estou na estrada! - respondi alto por conta do vento.
- Certo, beijos - disse ela de forma curta e seca, antes de desligar.
Foi estranho, mas não liguei muito. Talvez fosse só preocupação ou um lembrete de que ela realmente queria que eu fosse à festa. Livvy parecia mais ansiosa que eu. Talvez ela só quisesse garantir que eu não mudaria de ideia na última hora, acho eu. Tambem, não havia mais como fugir naquela altura do campeonato.
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O Som do Riso Cortado
Mystère / ThrillerAos 21 anos, Carina Elowen tenta escapar de seus traumas e do vício em álcool, mas sua vida muda drasticamente quando um palhaço sombrio surge. Entre o medo e uma atração estranha, Carina mergulha em uma espiral de desejos proibidos, confrontando se...