não fazia ideia.
nem mesmo pensei sobre isso.
na verdade, ignorei enquanto pude.
fui fiel aos devaneios, cumpri obrigações e estou justamente no pior lugar que evitei por todo esse tempo.
comigo mesmo.
e a queda foi tão dolorosa que todo o meu corpo está marcado. fissuras internas, sangue por toda a parte e fraturas que não se consertarão nunca.
afinal, como se conserta algo quebrado?
tão quebrado que nem mesmo sei onde estão os pedaços de mim.
a vida toda estive desviando de pisar nos cacos que se desprendiam do resto de alma que acreditei possuir e agora não sei por onde começar.
cada passo que dou é uma dor a mais, daquelas que esmaga o peito e não deixa que o ar chegue aos pulmões corretamente.
me sinto sem ar, sem rumo e sem pedaços.
dilacerada.
completamente caída, sem mais da metade de mim mesma, procurando em outros tão quebrados quanto algum pedaço que pelo menos cubra as maiores partes que faltam.
de mim.
a queda foi alta, entretanto nunca foi seguro não me arriscar a cair.
falta tanto, foi me tirado tudo.
quebrado ou não, ainda sou eu.
e odeio cada parte que forma as minhas rachaduras porque automaticamente elas são o que sou.
e ser quem sou é vergonhoso, inóspito, desesperador e rude.
rude porque é brusco a forma como durante a caminhada machuco os meus próprios pés com os fragmentos que do meu ser se desfizeram.
e por mais que a caminhada seja necessária, nunca chega ao fim.
assim desfaleço em mil pedaços de pedaços de mim até que não sobre nada, até que meus pés estejam tão machucados que será impossível andar, até que a última luz se apague, que o último suspiro seja dado e que a dor, enfim, suma.
e não hesitarei em fazê-la sumir.

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de mim, para ti.
Poesiesão versos e textos onde me derramo para quem quiser se deliciar com o amargo.