ainda estou aqui.
a espera.
o meu cheiro a essa altura é uma lembrança, o meu toque talvez não seja o mesmo, o meu sorriso é só como qualquer outro, as minhas manias e formas de gesticular são vagas e você precisa se esforçar para lembrar.
estragou tudo?
é, estraguei tudo.
de novo?
sim, sou boa nisso.
e por que espera então?
porque não há mais nada que eu possa fazer.
mas... você estragou tudo.
como sempre.
então?
a minha casa é onde ela está, o meu conforto, norte, paz e calma. é onde meu coração não tem medo e nem se manifesta de maneira errônea. é quando a chuva não me incomoda e o sol é bem-vindo.
espera... você disse que estragou tudo.
sim, sou boa nisso.
e ainda assim espera?
é tudo o que tenho.
não exatamente...
o que mais eu teria?
tudo menos isso.
então não é tudo.
é alguma coisa.
é pouco perto de tudo.
tem certeza?
absolutamente.
isso não faz o menor sentido.
não precisa fazer. só precisa estar. é como sei que estou viva. é como sei que não preciso esconder as rachaduras que permanecem aqui enquanto tento seguir em frente. prometi e descumpri tantas coisas, do que seria de mim não ter a única coisa que dá sentido à minha existência? espero porque é o que preciso fazer, não porque gosto de esperar. espero porque do que adianta não esperar? espero porque ainda que doa muito todos os dias, é tudo que tenho.
é pouco perto do nada.
o nada é nada. para mim, é tudo.
você parece determinada.
eu sou.
e quando você acha que vai conseguir parar de esperar?
quando não precisar esperar mais.
e quando será isso?
quando deixar de existir. e então será nada. voltarei para o nada. sem sentido, sem norte e sem vida. não vejo a hora!
não tem medo de não ser como espera?
já estou esperando.
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de mim, para ti.
Poetrysão versos e textos onde me derramo para quem quiser se deliciar com o amargo.