em algum momento aprendi a fazer um avião de papel.
não me lembro o dia, quem me ensinou ou como absorvi a maneira correta de fazer ele alçar voo.
não me lembro qual era a estação do ano, a roupa que usava ou se ainda possuía meus dentes de leite.
não me lembro a cor do papel, qual distância ele atingiu ou qual foi a sensação de ter conseguido realizar a tarefa.
não me lembro se havia alguém ao meu lado, o cenário em minha volta ou se era dia ou noite.
o que lembro é como se faz um avião de papel.
com o tempo, as experiências mudaram e as vivências que possuo também resultam em apenas o que sei e não como foi o processo de descoberta.
reflete em ações e estágios da vida que ironicamente não recordo de ser ensinada, mas a memória é fresca de como se executa.
o mesmo sobre o amor.
o mesmo sobre o sexo.
o mesmo sobre a dor.
o mesmo sobre o trabalho.
talvez seja necessário rebobinar os momentos para que eles, enfim, façam sentido. valorizar um pouco mais sobre como tudo é absolutamente transformado. compreender as fases, respeitar a sabedoria como forma de evolução.
o mesmo sobre ser poesia.
o mesmo sobre ser poeta.
desenvolvimento ou desenvoltura? aprendizado ou aprimoramento?
evolução ou evoluir?
mudança ou transformação?é óbvio que não recordamos o trajeto. ele foi minucioso com uma dose dupla de martírio e decepção. o processo não é confortável, os resultados não são palpáveis sem excelência de perfeição.
o mesmo sobre o ódio.
o mesmo sobre odiar.
cavar tão fundo e não emplacar nada, não transformar nada, não buscar, não sentir e não lutar.
o mesmo sobre o cansaço.
o mesmo sobre se cansar.
é jogar fora a necessidade. é valorizar o que deve se lembrar.
não me lembro.
mas sei... que em algum momento aprendi a fazer um avião de papel e fiz ele voar.
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de mim, para ti.
Poesíasão versos e textos onde me derramo para quem quiser se deliciar com o amargo.