O cara que estava me segurando virou-se bruscamente comigo ainda em seus braços, fazendo-me bater no armário e derrubar alguns copos plásticos no chão.
-- Tio, não se mete, não tá vendo que eu quero pegar essa gatinha aqui?-- o cara falou gesticulando com as mãos e deixando seu bafo horrível bater em meu rosto.
-- Primeiro, seu bêbado: eu não sou seu tio; segundo: a "gatinha"-- fez aspas com os dedos--, não te quer-- o senhor Emboaba falou simples se aproximando.
-- Ela só tá se h de difícil, relaxa tio, essa gatinha já é minha-- segurou meu queixo aproximando nossos rostos.
-- Me larga-- debati-me outra vez.
-- Solte ela agora!-- o senhor Emboaba se aproximou e segurou meu cotovelo, olhando fixamente para o cara bêbado.
-- Nossa, tio, se quer pegar essa "mina" bonita aqui, é só falar-- ele empurrou-me e eu acabei por bater no armário, derrubando um copo de vidro no chão.
-- Ai-- resmunguei quando um caco de vidro atingiu minha panturrilha.
-- Idiota-- o senhor Emboaba disse quando o cara saiu da cozinha. -- Você está bem?
-- Sim-- me abaixei puxando com a ponta da unha o vidro que adentrou na minha perna e rasgou a meia-calça. -- Ai.
-- Só um arranhão-- disse rindo.
-- Só um-- lavei minha mão na pia. -- Obrigada.
-- Não precisa agradecer-- meneou a cabeça.
-- Preciso sim. Se você não chegasse, ele teria me... abusado-- falei baixo.
-- Mas cheguei-- sorriu. -- Você está... diferente-- olhou-me de cima a baixo deixando-me corada.
-- Minha amiga obrigou-me a vir assim, ela disse que o tema da festa era sexy e todos deveriam de vir assim-- gesticulei com as mãos. -- Tudo uma mentira, porque o garoto que eu gosto viria.
-- Bem, se ele nunca te notou, hoje com certeza ele vai notar!
-- Obrigada... eu acho-- balancei a cabeça sorrindo.
Um silêncio tomou o lugar e deixou-me constrangida por de vez em quando ele me olhar de lado e sorrir. Eu estava mais a vontade com ele, já não gaguejei como da primeira vez que conversamos no corredor do colégio e conseguia olhar diretamente em seu rosto. Cada vez mais eu me apaixonava por ele, agora que eu o conhecia mais um pouco, e tinha medo de me iludir por isso, era minha primeira paixão de verdade e meu pavor de sair de coração partido era terrível.
-- Quem tomar alguma coisa?-- ele quebrou o silêncio.
-- Não bebo-- falei simples.
-- Refrigerante?
-- E aqui tem? Porque pelo visto, só álcool-- olhei em volta.
-- Tem sim-- falou rindo. -- Eu vi uma garota passando com uma Coca nas mãos, acho que ela foi por... ali-- apontou para um corredor onde alguns casais se pegavam. -- Mas acho que ela já desapareceu...
Meneei a cabeça rindo e abracei meus braços com frio.
-- Frio?-- ele perguntou me olhando.
-- Um pouco-- falei tímida.
-- Acho que tem algum aquecedor por ali...-- ficou na ponta dos pés olhando por cima das pessoas. -- Achei, vem comigo.
Saiu andando e me chamando com a mão. Passamos por a sala, onde muitas pessoas dançavam no ritmo da música, até chegar à um aquecedor bem quentinho. Não vou mentir, quando o vento quente bateu contra meus braços soltei um gemido baixo de alivio, o que fez o senhor Emboaba sorrir um pouco e me deixar corada. Ainda tinha que disfarçar meus olhares de lado que dava nele e minha vergonha de vê-lo perto de mim era grande.
-- Art! Art! Art! Você não acredita quem eu acabei de ver al...-- ela parou de falar quando seus olhos encontraram o professor de história. -- Oh, desculpe, não sabia que estava... acompanhada-- me deu um leve empurrãozinho sorrindo maliciosa.
-- Emica!-- arregalei os olhos corada.
-- Prazer, senhorita, sou Oscar Emboaba, um dos professores da escola-- ele estendeu a mão para Emica.
-- Emica Fox, amiga da Artemis-- ela sorriu confiante. Porque eu não sou como ela, confiante, sem vergonha de nada nem ninguém, e sabe se sobressair nas situações. -- Vou deixa-los a s...-- pisei em seu pé. -- Ai!-- me olhou feio. -- Ahn... Art, preciso falar com você-- disfarçou para minha alegria.
-- Claro, com licença, senhor Emboaba-- sorri tímida a ele que assentiu. -- Obrigada-- falei a Emica depois que nós afastamos do senhor Emboaba.
-- Porque?-- ela falou após nós sentarmos em um sofá no corredor meio vazio.
-- Porque eu não sabia mais o que falar e estava com vergonha!-- falei como se fosse obvio.
-- Artémis! Pelo amor de Deus, gatinha, você tem que perder essa vergonha de falar com garotos, é a coisa mais normal do mundo!-- olhou em volta. -- Já sei, vou arranjar um garoto para você ficar hoje durante a festa.
-- Não-- protestei.
-- Sim, já vi uns 10 garotos te olharem-- fez aspas com as mãos--, se é que me entende...-- corei totalmente olhando em volta para os garotos da festa. -- Art, o que eu estou tentando dizer é que você tem que arranjar um namorado e parar de se iludir com você sabe quem, tem muitos garotos legais por aí , aproveita mulher!-- levantou e puxou minha mão.
-- Não, Emica, você sabe que eu não gosto desse negocio de pegar ou ficar-- falei fazendo caretas e me sentando novamente.
-- Artemis você as vezes parece uma idosa, aproveita a vida, gatinha! Tira seu bv!
-- Isso! Fala um pouco mais alto para todo mundo ouvir que eu nunca beijei-- olhei em volta me certificando que ninguém tinha ouvido o que ela disse.
-- Desculpa-- falou rindo. -- Anda, Art, só perde seu bv, criatura!-- bateu em meu ombro devagar.
-- Não, Emi. Eu quero esperar o momento certo com o garoto certo, não estou desesperada, nem perto disso!
-- E se o garoto certo só vier quando você tiver 30 anos?-- arqueou uma das sobrancelhas.
-- Então só vou beijar aos 30-- sorri sem mostrar os dentes.
Não que eu não tenha vontade de beijar algum garoto, mas não queria que isso acontecesse com um estranho qualquer, e sim com alguém que eu conhecesse e ao menos achasse-o legal. É meio clichê, mas para mim é o certo para qualquer garota-- e garoto também. Sempre fui criada para ser uma menina certinha, sem defeitos, minha mãe era a primeira a impor regras de meu comportamento, e a primeira delas era não ter muitos namorados ou ficantes, no máximo 2 ou 3 em toda a minha vida, o que qualquer garota acharia um absurdo, mas para mim era normal.
-- Não vai ceder, né?-- meneei a cabeça negando e ela respirou fundo em resposta. -- Então ao menos vamos nós divertir?-- assenti sorrindo.
Emica e eu, desde crianças fazíamos aula de dança de vários estilos, mas principalmente ballet clássico. Eramos-- e ainda somos-- apaixonadas por dança, e ser bailarina é um sonho meu há muito tempo, estou terminando de me formar em uma academia de ballet e futuramente pretendo viajar pelo mundo, tenho altos sonhos e pretendo não desistir tão fácil.
Dançamos algumas músicas e paramos para descansar, foi o tempo suficiente para mim dar uma olhada nas pessoas e constatar que o senhor Emboaba já havia ido embora, para minha pequena infelicidade.
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Senhor Emboaba
RandomAos meus 17 anos minha paixão pelo professor Emboaba cresceu excessivamente quando ele finalmente passou a notar-me de uma forma boa, e eu não poderia estar mais feliz com isso. Eu tinha medo de me iludir de mais por estar falando todos os dias com...