Briam - Wolves

Isaac Lahey em Paris

Narrado por Isaac Lahey.

Depois que o nogitsune foi preso, acho que eu dissociei por um tempo. Eu ainda conseguia responder o que me perguntavam e conseguia fazer coisas básicas, mas a maioria era no piloto automático. Provavelmente foi a única solução que a minha mente criou pra lidar com a dor. Eu nem me lembro de como foi todo o processo de ir pra Paris. Foi o Chris que cuidou da papelada? O Derek? O que eu falei pra você ou pra a sua mãe? Cê podia apontar uma arma pra a minha cabeça e eu ainda não ia conseguir responder.

Acho que eu só voltei ao normal depois de uns dois ou três dias morando lá. Eu acordei, fui tomar o café da manhã, olhei uma foto da Allison... E tudo veio com força. Erica, Boyd, Allison, minha família... Eu não queria que o Chris me visse chorando, então eu me recolhi de volta pro quarto, mas ele entrou não muito depois. Achei que ele só ia fechar a porta e ignorar ou talvez me repreender, mas ele me abraçou. Acho que eu chorei ainda mais depois disso. Foi extremamente constrangedor, mas eu fiquei feliz por ele ter ficado.

Eu queria acreditar que ia ser a última vez, mas foi apenas o começo. A primeira semana em particular foi péssima. Eu chorava comendo, chorava no banho, chorava antes de dormir... Uma vez eu chorei até vomitar. Era como ondas de dor, constantemente me lembrando que todo mundo que eu amo vai morrer e me deixar sozinho. Chris também chorava, mas na maioria das vezes ele preferia se isolar no quarto pra isso. Eu também comecei a me conter depois de um tempo, pra deixa-lo em paz, mas a dor continuava lá.

Eu pensei em te mandar uma mensagem, mas parecia tão... Egoísta. Por que caralhos você iria querer me ouvir chorando e fungando depois de ter perdido... Ela? Então eu fui me forçando a reagir. Pra a minha sorte, o meu francês foi decente o suficiente pra me contratarem num Starbucks. As férias não iriam durar pra sempre, então eu precisava me matricular numa escola também. Chris ajudou com os pedidos de autorização, então eu presumo que ele tenha se tornado o responsável por mim.

Quando as aulas começaram, acho que eu finalmente pude esquecer Beacon Hills por um tempo. Eu fiz alguns colegas e saí pra explorar a cidade de vez em quando. Claro, Chris me avisou sobre como lobisomens e caçadores agem na França, mas eu não havia encontrado nenhum dos dois até então. Pela primeira vez em muito tempo, eu pude ficar feliz sem um porém que envolvesse o sobrenatural.

Então veio o baque: o Chris ia voltar pra Beacon Hills pra te ajudar.

Eu me senti traído duas vezes. Me senti traído por Chris, que escolheu esse lugar ao invés de mim. Na minha cabeça, ele havia lavado as mãos dessa cidade que só fez mal pra ele, assim como eu. E embora não fôssemos exatamente próximos, ele foi o mais próximo que eu tive de uma figura paterna decente nos últimos anos. Foi como perder um pai pela terceira vez. Ainda mais porque eu sabia que ele não iria voltar.

E me senti traído por você, que entrou em contato com Chris, mas não comigo. Eu sei, é hipócrita da minha parte, mas eram os meus sentimentos passando por cima da lógica naquele momento. Pareceu um lembrete duplamente negativo sobre Beacon Hills: não havia ninguém querendo a minha presença aqui e eu nunca conseguiria fugir completamente desse lugar. Sem mencionar a ocasião: você havia mandando mensagem pra pedir que a minha única companhia na Europa fosse embora? Será que você me odiava tanto assim?

Meu elo com a alcateia foi rompido mais tarde naquele dia. Eu era oficialmente um ômega agora.

Sem a supervisão de um adulto, eu fiquei desleixado. Arrumei a casa com cada vez menos frequência, comi mal, dormi mal, deixei as notas caírem... Passei de ano por um triz. Fui demitido pelos atrasos porque eu passava as noites em baladas ou vendo qualquer merda na televisão. Nenhuma conexão que eu fazia podia ir além da superfície ou eles poderiam ir embora também e levar o que sobrou de mim. A vida foi fazendo cada vez menos sentido. E por um instante, eu pensei que talvez eu devesse acabar com tudo.