Capítulo 21 ∞ Tenebris

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A noite caía devagar enquanto estávamos na casa da minha mãe, rodeados pela floresta escura e a sensação de isolamento que ela sempre trazia. Depois de um bom tempo explorando a casa, decidi fazer café para nós, e levei as xícaras até a varanda, onde nos acomodamos. O ar estava frio e úmido, mas o aroma do café quente tornava o ambiente mais aconchegante.

Enquanto bebíamos, comecei a contar a Kael sobre meus amigos de Chicago e as coisas divertidas que já vivemos. Ele riu quando contei sobre uma das festas mais absurdas que já participei, onde uma amiga ficou presa na varanda e teve que chamar um chaveiro às três da manhã. Falamos sobre tantas coisas que, por alguns minutos, parecia que nada estranho tinha acontecido nos últimos dias.

— E tem a minha tese também, que preciso enviar — continuei. — Mas não tem internet aqui... eu sabia que devia ter terminado antes de vir, mas procrastinei demais.

Kael olhou para mim, levantando a sobrancelha.

— Bom, posso te levar até a cidade vizinha. A internet lá é aceitável, e você pode enviar sua tese de uma vez por todas — ofereceu ele, com um sorriso de apoio.

— Vou aceitar, com certeza — respondi, sentindo um alívio e um certo peso ao me lembrar de que, em algum momento, essa viagem precisaria terminar.

Quando o sol desapareceu por completo, Kael sugeriu dormir no sofá da sala, mas eu rapidamente o avisei:

— A casa é muito fria à noite, duvido que você consiga dormir no sofá.

— Podemos acender a lareira — ele respondeu de forma prática. — Fica mais aconchegante aqui.

Depois de pensar um pouco, decidi fazer uma cama improvisada na sala, algo que pudesse abrigar o frio que sabia que viria. Comecei a separar cobertores e almofadas para formar camas no chão, uma perto da outra, mas suficientemente separadas.

— Pronto — disse, ao terminar de arrumar o espaço. — Mas só pra deixar claro: camas separadas, ok? — Fiquei meio sem jeito, mas não queria que ele pensasse que eu esperava algo mais.

Kael sorriu, com um brilho divertido nos olhos.

— Claro, Anne — respondeu ele, rindo baixo. — Cama separada, entendi.

O sorriso dele me desarmou, mas, para não prolongar o constrangimento, me abaixei, ajustando as cobertas e tentando parecer tranquila. Logo, o calor da lareira aquecia o ambiente e nós dois nos acomodamos, ouvindo o crepitar das chamas e o som da floresta lá fora. Aquela casa parecia agora mais acolhedora, e saber que eu não estava sozinha fazia tudo parecer menos sombrio.

Acomodados na sala improvisada, lado a lado, nas camas separadas, e eu notei Kael tomando algo de um frasquinho pequeno. O brilho da lareira reluzia na sua mão enquanto ele levava o frasco aos lábios. 

— O que é isso que você está tomando? — perguntei, sem conseguir esconder minha curiosidade.

Ele fechou o frasco com calma e guardou no bolso antes de responder.

— Ah, é só... uma coisa que preciso tomar. Nada demais — disse ele, com um sorriso que não esclarecia nada.

— Você está doente? — arrisquei, percebendo que minha preocupação era mais genuína do que esperava.

— Não, Anne, não precisa se preocupar. Eu sou bem saudável, na verdade — respondeu, com uma calma que quase me convenceu a deixar o assunto de lado. Quase.

Por um instante ficamos em silêncio, ambos parecendo inquietos, cada um no seu espaço, sem conseguir pegar no sono. Estar tão perto dele era praticamente uma tortura. Resolvi quebrar o silêncio.

Eclipse de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora