O amor e a despedida são como o amanhecer e o pôr do sol — partes inevitáveis de um ciclo eterno, que deixam em nós marcas invisíveis, mas profundas. Às vezes, é fácil pensar que amor e despedida são opostos, que um representa a chegada e o outro a partida. Mas, talvez, eles sejam um só fenômeno, como a maré que se aproxima e recua na praia. Amamos alguém e, em algum momento, aprendemos a nos despedir dele — mesmo que essa despedida não seja exatamente um final. Talvez o amor seja, no fundo, a habilidade de se despedir. Kael me disse adeus sem dizer a palavra. Ele me deixou aqui com os lobos, sem conseguir olhar para mim, do seu jeito silencioso, de quem carrega muito mais do que eu percebia.
Agora, eu estava na aldeia. A aldeia de Nick. Ele me mostrou os arredores com uma certa formalidade, apresentando as pessoas, enquanto os habitantes me observavam com uma certa curiosidade. Alguns me olhavam como se eu fosse algo sagrado, uma divindade viva. Incômoda com a intensidade desses olhares, perguntei a Nick o motivo.
— Sei lá, talvez o velho Tahatan saiba, mas ele nunca me conta tudo — ele respondeu, rindo, embora sua voz tivesse um tom de desapontamento. — Ele acha que sou emocional demais para aguentar certas coisas — havia uma vulnerabilidade ali, escondida entre a brincadeira e o sarcasmo.
Eu sorri, mas minha mente vagava, de volta a Kael, à sua última expressão, ao fato de que ele me deixara aqui e partiu, como se eu fosse parte de uma missão, um objetivo distante. Nick, percebendo o silêncio, perguntou em um tom leve, mas curioso.
— Tá chateada que ele te deixou aqui?
— Um pouco, acho — admiti, tentando entender minhas próprias emoções. — Mas, no fundo, eu entendo... ele quer me proteger.
Nick me olhou com um brilho perspicaz nos olhos.
— Kael sempre foi assim. Solitário. Ele acredita que precisa resolver tudo sozinho. Comigo é diferente. Na alcateia, a gente nunca faz nada sozinho.
— Como é ser... lobo? — perguntei, deixando minha mente vagar para a noite de outrora, em que ele se transformou, a força incontrolável que eu vira nele e nos outros.
— Difícil. — ele admitiu. — As primeiras transformações são terríveis. Dói. É confuso, como se você fosse outra pessoa, e perde a noção de quem você é.—Nick parecia quase perdido no próprio relato, seus olhos distantes. — Mas, depois que a alcateia te acolhe, algo muda. Você não sente falta de mais nada porque finalmente... pertence. Você sabe que não está sozinho.
— E todos aqui... são lobos?— perguntei, pensando em cada rosto que me encarava, em cada olhar calculado e inquisitivo.
Nick riu, balançando a cabeça.
— Não, nem todos têm o gene. Não é garantido, entende? — ele me olhou com um brilho de orgulho — Mas eu sou o alfa, por exemplo. Meu avô é o chefe da aldeia, e meu pai... bom, ele era o alfa antes de mim. Mas ele morreu, então o papel veio pra mim, mesmo que eu nunca tenha realmente pedido por isso.
As palavras de Nick carregavam uma mistura de orgulho e dor, e algo na forma como ele olhava para Kael, mesmo na ausência dele, revelava uma tensão.
— E você e Kael... há algum conflito entre vocês, não é? — arrisquei, sabendo que podia ser um assunto delicado.
Nick hesitou, mas ao ver minha determinação, suspirou e prosseguiu.
— Meu pai morreu em um confronto com vampiros, alguns anos atrás, por uma disputa de território. Nós vencemos, mas o preço foi alto. Meu pai se foi. Desde então, não suporto a ideia de estar no mesmo lugar que eles. Esses conflitos entre vampiros e lobos... vão além de qualquer coisa que possamos imaginar. É algo antigo.
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Eclipse de Sangue
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