ᴇɴᴄᴏɴᴛʀᴏ 25

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VI NÃO SABIA EXPLICAR O QUE ESTAVA ACONTECENDO, ver sua garota se vestindo em seu quarto pequeno, com cachos perfeitamente jogados para o lado e com a trança embutida lateral, o gloss labial escuro e cílios pintados com o rímel, vestindo coro de sua jaqueta enquanto cantarola aquela canção.

A mesma canção que sua mãe começou a murmurar algum tempo depois de Powder nascer, Vi não consegue se lembrar com clareza daquela época, ela tinha cinco anos, mas a canção grudou que nem chiclete em sua mente.

❞Ah, essa música? Foi uma amiga que ensinou

Ela podia se lembrar do semblante de Felicia segurando Powder nos braços, cansado, parecia ter lágrimas secas na bochecha, mas o sorriso estava lá, Vi se lembra de largar as almofadas que Vander ajudava a montar um forte. Aquela noite ficou marcada na mente de Violet, porque ela sabia que tinha acontecido algo, na pequena sala de sua casa, Felicia, seu pai e Vander se espremiam, um clima de velório percorrendo todos, até Silco abrir a porta com o chapéu das minas na cabeça, a lanterna acessa, Vi se lembra das vozes atrás dele, um certo mutirão de zaunitas, Sevika estava nele, encharcada da chuva e com o olhar quebrado.

❞Não achamos ela, **** não está em lugar nenhum

Vi não se lembra do nome, apenas de sua mãe desabar na cadeira, prestes ao choro.

Essa canção ficou sagrada para Felicia. Nem ao menos Vi se deixava cantarolar, afinal, era uma memória de ouro.

Mas Thalia estava cantarolando, balançando a cabeça na frente do espelho.

❞Estava pensando em pintar mechas no cabelo, acha muito ridículo e adolescente?

Thalia se vira sorrindo para Vi, que, sinceramente, não estava ouvindo. Percebendo que sua namorada parecia um tanto desnorteada, Thalia larga a ideia idiota que estava tendo apenas para fazer Vi rir, caminha até ela e pergunta o que estava acontecendo.

Como explicar todos os anos que Violet ouviu essa cantarolar baixinho no ouvido? Como explicar que quando a canção delicada chegou ao seu ouvido, dançando como memórias desgastadas e quase dolorosas demais para colocar em palavra, a sintonia da nostalgia com a pitada de púrpura de Felicia.

Como explicar o coração sendo esmagado pela voz delicada e floral de Thalia?

Vi empurrou as lágrimas longe e sorriu, se inclinando para um beijo. É bom poder beijar quem ama quando quer, é simplesmente perfeito, aconchegante e terno, enviando ondas de calor para a alma, que se aconchega como domingo à tarde, evitando pensamentos torturantes, e nesses pequenos momentos, Vi sabe que escolheu bem quem está do seu lado, abraçando e sussurrando coisas boas em seu ouvido, sabe que escolher perfeitamente quem direcionar seu amor.

No entanto, ela ainda está aqui, caminhando pelas ruas podres de uma Zaun profunda, o cheiro de fumaça entra pelo nariz de Vi, que abana a mão enfaixada, vestindo o mesmo camisetão polo listrado branco e preto que Thalia usou quando aquele bar fedido ainda estava aberto, escrito'fuck the aristocrats', alguns botões abertos, dando a impressão de desleixo.

A memória ainda é fresca, mas borrada pelas palavras confusas na mente atordoada de Vi. Ela ainda não entendia o porque Thalia, ou como, estava cantando a música de sua infância, no fundo, de alguma forma, ela sabia que tinha a ver com a mãe de Thalia.

Afinal, a grande e imaculada mãe de Thalia só poderia ser a causa, Thalia não se lembra de nada antes da noite quando tinha dez anos e foi parar no abrigo, com Katra Vial tocando de fundo a fazendo se apaixonar por música, então, se havia uma explicação, só poderia estar enfiada no passado mal mexido de Thalia.

𝑅𝑖𝑡𝑚𝑜 𝑑𝑎 𝐷𝑜𝑟                                                  ─ᴀʀᴄᴀɴᴇ─Onde histórias criam vida. Descubra agora