012. A morte me ama....

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A cidade estava silenciosa naquela manhã, o ar denso e úmido. Agatha Harkness caminhava pela rua estreita, envolta em seu manto, até o pequeno beco onde ficava a loja de Lilia Calderu, a cartomante de Westview. A loja era uma construção modesta, marcada por símbolos arcanos e pelo aroma de ervas e incensos que escapava da porta entreaberta.

Ao entrar, Lilia a olhou com um leve sorriso, como se já soubesse de sua visita.

- Agatha Harkness. - Sua voz era serena, mas carregada de uma sabedoria antiga. - Alguma coisa inquieta seu coração.

Agatha se aproximou e sentou-se à mesa repleta de cristais, ervas e velas, sem perder tempo com rodeios.

- Ouvi sobre uma cidade dos desejos, Lilia. Dizem que é um lugar onde os mortos podem ser trazidos de volta. Eu vou até lá. - A determinação em sua voz era clara, e seus olhos faiscavam com uma intensidade feroz. - Não importa o preço que eu tenha que pagar.

Lilia ergueu as sobrancelhas e suspirou, pegando um pedaço de papel grande e começando a escrever nele com cuidado.

- Há uma sabedoria oculta em seus planos, mas também um perigo. Agatha, o amor que te moldou também pode ser o amor que te quebra. - Ela continuou escrevendo, detalhando proteções e encantos com precisão. - Ao buscar algo tão proibido, você precisa de defesas, um elo direto com o que deseja. Algo que conecte você à pessoa que quer trazer de volta.

Agatha permaneceu em silêncio, mas seus dedos tocaram instintivamente o colar em seu pescoço. No interior dele, escondia um fio de cabelo de Nick, um vínculo que ela guardava em segredo.

Lilia, ainda escrevendo, lançou-lhe um olhar de advertência.

- Não ache que os perigos são apenas externos. A estrada para a cidade dos desejos é traiçoeira, e cada proteção que te dou deve ser usada sabiamente.

Assim que Agatha se levantou para ir embora, Lilia a chamou, sua voz mais sombria e solene.

- Agatha, um último conselho. Não vacile com Rio Vidal. A Morte em si está disposta a quebrar as leis naturais por você. Se você a deixar, outro pode conquistar o coração dela, e você verá sua amada entregar-se a outra pessoa, enquanto você permanece com as mãos vazias.

Agatha riu, ligeiramente cética, sua confiança inabalável.

- A Morte me ama, Lilia. Não temo perder seu favor.

Lilia apenas suspirou, observando Agatha sair da loja.

De volta em casa, Agatha estendeu o papel sobre a mesa e examinou as instruções de Lilia, tomando nota dos ingredientes listados: cristais de evocação, sangue de vampiro, canela, e outros itens necessários para as proteções e feitiços. Ela reuniu cada ingrediente, preparando-se para o que sabia ser uma jornada perigosa - mas, para Agatha, o risco parecia valer cada passo em direção ao impossível.

Naquela noite, Agatha se preparava. As luzes em sua casa estavam baixas, criando sombras que dançavam pelas paredes enquanto ela montava o altar. Seguindo as instruções de Lilia, ela posicionou os cristais de evocação em torno de uma vela escura, formando um círculo místico. O frasco de sangue de vampiro refletia a luz fraca, parecendo pulsar com uma energia própria.

Ela recitava palavras antigas, os feitiços sussurrados carregados de poder, enquanto misturava canela e outros ingredientes em um pequeno caldeirão. A magia envolvia a sala, tornando o ar denso e quase palpável. Os olhos de Agatha estavam fixos no colar ao redor de seu pescoço, onde o fio de cabelo de Nick repousava, um laço secreto que ela usaria em sua busca.

Uma presença familiar e inconfundível se fez sentir antes mesmo de se tornar visível. De repente, ali estava Rio Vidal, a Morte, observando-a com um sorriso enigmático. Suas vestes verdes contrastavam com o ambiente sombrio da casa, mas o olhar de Rio era intenso, afiado como lâminas. Ela inclinou a cabeça, observando o preparo de Agatha.

- Meu amor - disse Rio, com um tom entre a curiosidade e a reprovação -, vejo que você está tecendo uma trama ousada. Essa cidade dos desejos... você realmente está disposta a ir tão longe?

Agatha manteve o olhar firme e respondeu, sem hesitar:

- Eu faria o que fosse preciso, Rio. Esta cidade tem o que preciso, e não temo o preço.

Rio suspirou, aproximando-se de Agatha com passos lentos e cuidadosos, como se cada movimento fosse calculado.

- Sempre obstinada, minha querida. Mas essa cidade... é um lugar onde não há volta, onde os segredos são mais perigosos do que qualquer um pode imaginar. E ainda assim, você arrisca tudo.

Ela ergueu a mão e acariciou o rosto de Agatha, seu toque frio e ao mesmo tempo reconfortante.

- Você sabe, Agatha, que não importa o quanto tente dominar a morte... eu sempre estarei aqui, observando. A morte é inevitável, e quem flerta com o impossível muitas vezes acaba caindo nas minhas mãos.

Agatha sorriu com um toque de desafio.

- Talvez eu confie demais em meu poder. Talvez eu apenas confie em você, Rio.

Rio a puxou para mais perto, seus olhos brilhando com um misto de adoração e advertência.

- Só espero que, se você persistir nesse caminho, não se esqueça de mim. Eu te conheço, Agatha Harkness. E sei que o amor que você carrega é seu maior trunfo... mas também pode ser sua ruína.

Rio afastou-se ligeiramente, o olhar ainda fixo em Agatha, avaliando cada expressão sua.

- Se você realmente for para essa cidade, leve isso - disse Rio, entregando-lhe um pequeno medalhão com um símbolo estranho. - Vai te proteger, mas não será suficiente se não estiver disposta a dar algo em troca.

Agatha pegou o medalhão e o segurou entre os dedos, sentindo a energia pulsar de forma sutil e familiar. Ela sabia que esse presente de Rio tinha mais do que apenas proteção; era um sinal da confiança que a Morte depositava nela, uma promessa silenciosa.

- Eu cuidarei de tudo, Rio. E, quando voltar, espero vê-la mais uma vez. - As palavras de Agatha carregavam uma confiança serena, mas seu coração batia com uma intensidade nova, sabendo que cada passo a levava mais fundo em um caminho sombrio e perigoso.

Rio apenas sorriu, aquele sorriso cheio de mistérios, e desapareceu como uma sombra na noite, deixando Agatha sozinha com seu altar, seus feitiços, e o ardor de uma decisão que agora era irreversível.

Agatha sabia que sua jornada estava apenas começando, e que a cidade dos desejos guardava mais segredos do que ela podia imaginar. Mas, com o medalhão de Rio em suas mãos e a determinação em seu coração, ela estava pronta para enfrentar qualquer provação.

𝐒𝐨𝐛 𝐨 𝐯é𝐮 𝐝𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞-𝐀𝐠𝐚𝐭𝐡𝐚𝐫𝐢𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora