016. eu sinto sua falta mamãe

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Elas entram na sala, e o cenário que se desenha diante delas é como um pesadelo que Agatha nunca imaginou viver. Lá, sentado no centro da sala, está Nick. Ele é uma visão tão vívida que os olhos de Agatha se enchem de lágrimas instantaneamente. Ela olha para Rio, buscando algum tipo de resposta, mas a expressão de Rio está fixa no garoto, com um olhar que mistura desconfiança e vigilância. Agatha, com o coração apertado, começa a se aproximar, mas Rio a impede com um gesto firme, colocando o braço na frente dela.

- Não - Rio diz, a voz suave, mas carregada de uma autoridade implacável.

Agatha, no entanto, ignora o aviso de Rio, como se a necessidade de ter Nick em seus braços fosse maior que qualquer outra coisa. Ela caminha até ele, e quando finalmente o abraça, sente o calor e a inocência de um garoto que permanece como era - jovem, puro, sem mudanças. Seus cabelos ainda longos, os traços do rosto, especialmente o nariz que ela sabia ser de Rio, intactos. O tempo parece ter parado naquele momento.

Rio observa em silêncio, mas sua desconfiança só aumenta. Ela fecha os olhos, respirando fundo, tentando conter a dor que sente ao ver Agatha naquele estado. Ela sabia, no fundo, que esse reencontro, essa ilusão, ia machucar Agatha mais do que ela poderia suportar. Mesmo assim, a cena não pode ser interrompida. Agatha precisa viver essa dor para seguir em frente.

O garoto, com uma voz cheia de uma saudade angustiante, quebra o silêncio.

- Mamãe... - diz ele, olhando para Agatha com uma expressão de pesar. - Eu sinto falta de você, mamãe Agatha.

Ele se vira para Rio e, em um tom inocente, mas ao mesmo tempo perturbador, pergunta:

- Por que você não se aproxima, mamãe Rio? Por que você não fica comigo e com a mamãe?

As palavras de Nick, ao invés de confortar Agatha, a destroem ainda mais. O garoto começa a ficar cada vez mais agitado, como se as memórias de sua morte estivessem voltando com força.

- A culpa é sua, mamãe Agatha - ele grita. - Você me deixou morrer! Você não fez nada para me salvar. É sua culpa!

As palavras são um golpe direto ao coração de Agatha. Ela se afasta rapidamente, como se o peso das palavras tivesse a derrubado. Seu corpo vacila, e ela cai de joelhos no chão, com os olhos inundados de lágrimas. O peso da culpa parece esmagá-la, uma dor profunda e insuportável.

Vendo o sofrimento de Agatha, Rio se aproxima, estendendo a mão para ajudar Agatha a se levantar. Ela a puxa com firmeza, mas suas palavras são duras, tentando cortar a ilusão que se formava ao redor delas.

- Não escute isso - Rio diz, com uma frieza que contrasta com o sofrimento de Agatha. - Ele não é o seu filho. Não é real. Nick nunca falaria isso. Ele está tentando manipular sua dor.

Rio segura Agatha com força, afastando-a da visão distorcida que o garoto está criando. Ela sabe que é necessário separar Agatha da ilusão, por mais que ela saiba que isso vai ser uma ferida aberta.

O garoto, agora com uma aura diferente, mais ameaçadora, fixa os olhos em Agatha. Com um movimento brusco, ele lança um feitiço direto em sua direção. O impacto é imediato, e Agatha é derrubada no chão, seus olhos se fechando com a força do golpe. Ela não reage, não contra-ataca. Algo nela parece ter quebrado, como se estivesse esperando por essa dor, talvez sentindo que a punição era merecida.

Rio, observando a cena com atenção, percebe que Agatha não vai resistir por muito tempo. O feitiço está a drenando, sua energia sendo absorvida pela magia negra do garoto. Ela sabe, com uma precisão fria, que se não interviesse agora, Agatha morreria ali, naquele mesmo instante. O tempo se estica, e Rio não hesita. Com um gesto rápido e calculado, ela lança um feitiço poderoso, desintegrando a presença do garoto em um segundo. Ele desaparece, como uma sombra dissipando-se na noite.

Agatha, com dificuldade, começa a se levantar do chão, seu corpo pesado e fraco pela magia que quase a matou. Rio se aproxima imediatamente, seus braços envolvendo Agatha com uma força desesperada. Ela a puxa para perto, abraçando-a fortemente, como se a estivesse protegendo não só do mundo, mas também de seus próprios demônios internos.

Agatha, ainda ofegante, esconde seu rosto no pescoço de Rio, as lágrimas molhando a pele de sua amada. Seu corpo treme, mas não apenas de fraqueza. Ela sente uma mistura de culpa, arrependimento e perda. Mas em meio a isso, encontra conforto na presença de Rio.

- Eu perdoo você, Rio - Agatha diz, sua voz abafada pela dor, mas carregada de compreensão. - Eu sei que você só fez o trabalho que precisava fazer... a escolha que você tinha que fazer.

Rio não responde com palavras, mas a apertar ainda mais Agatha em seus braços, beijando suavemente a cabeça dela. O gesto é repleto de ternura, mas também de uma profunda tristeza. Ela sabe que, por mais que tente, nunca poderá apagar o que aconteceu, os erros, as perdas... Mas, naquele momento, ela tem Agatha, e isso é tudo o que importa.

De repente, uma porta se abre à sua frente, uma luz branca e suave surgindo em contraste com a escuridão que as cerca. As duas se entreolham, sem dizer uma palavra, e, sem hesitar, caminham juntas em direção à luz. Elas sabem que o caminho à frente é incerto, e talvez ainda mais doloroso, mas, por enquanto, a luz parece ser a única coisa que as chama.

Quando chegam ao final da luz, encontram-se em um caminho sombrio, onde não há mais nada além da escuridão. O silêncio é absoluto, e o medo espreita em cada canto. Exaustas, decidem descansar sob uma árvore solitária, buscando abrigo contra a noite fria. Deitadas ali, lado a lado, Agatha e Rio se deixam envolver pela quietude do momento. O futuro, ainda incerto, parece tão distante quanto o amanhecer que não chega. Mas por agora, elas têm uma à outra, e isso parece ser o suficiente para enfrentar o que quer que venha a seguir.

𝐒𝐨𝐛 𝐨 𝐯é𝐮 𝐝𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞-𝐀𝐠𝐚𝐭𝐡𝐚𝐫𝐢𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora