004. o beijo

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Rio deu mais um passo à frente, os olhos fixos nos de Agatha, como se estivesse procurando algum indício de permissão ou rendição. A bruxa de verde parecia determinada, mas havia uma suavidade em sua expressão que desafiava a dureza de suas palavras. Lentamente, Rio levantou uma das mãos e tocou o rosto de Agatha, o polegar traçando a curva da bochecha dela.

Agatha sentiu a eletricidade do toque, um arrepio que percorreu sua pele, mas manteve-se firme, os olhos indecifráveis. Rio inclinou-se levemente, os lábios a poucos centímetros de distância, e a tensão entre elas atingiu um ponto crítico, como um fio prestes a se romper. Rio fechou os olhos e tentou beijá-la, a respiração dela suave contra os lábios de Agatha.

Mas, no último segundo, Agatha desviou, o rosto virando de lado, deixando o beijo de Rio flutuar no vazio. Rio abriu os olhos, surpresa e, por um momento, vulnerável. Elas se encararam, a frustração e o desejo em conflito, misturados em um silêncio carregado de emoções intensas. Os segundos pareceram se arrastar, enquanto ambas tentavam entender o que viria a seguir.

Então, sem aviso, Agatha deu um passo firme em direção a Rio, a mão segurando o pulso dela e empurrando-a de encontro à parede da varanda. O impacto foi suave, mas decidido, e Rio arregalou os olhos por um instante, surpresa com a súbita mudança de atitude de Agatha.

- Você gosta de brincar com fogo, não é? - Agatha sussurrou, o rosto tão próximo de Rio que ela podia sentir a pulsação acelerada da outra bruxa. Seus olhos estavam sombrios, mas havia uma chama ali que nunca se extinguia.

Antes que Rio pudesse responder, Agatha a puxou pela gola da jaqueta e uniu seus lábios em um beijo intenso, carregado de raiva e paixão. Era um encontro cheio de sentimentos não resolvidos, um choque entre duas forças que se atraíam e se repeliam ao mesmo tempo. Rio fechou os olhos e retribuiu o beijo com a mesma intensidade, os dedos se fechando em torno do tecido da roupa de Agatha, como se segurá-la fosse a única maneira de não se perder completamente.

O beijo era uma guerra por si só, uma batalha travada em silêncio, onde o orgulho e o desejo se misturavam. E por um breve momento, ali na varanda de Westview, a cidade ao fundo se tornou um cenário distante, e tudo o que importava era o calor que elas compartilhavam, o fogo que parecia impossível de apagar.

O beijo foi quebrado com a mesma intensidade com que havia começado, quando Agatha afastou-se abruptamente, os lábios ainda formigando com a eletricidade do momento. Ela manteve as mãos firmes no peito de Rio, como se estivesse tentando conter algo, uma emoção que ameaçava transbordar. Seus olhos se encontraram novamente, e a tensão entre elas era quase palpável, os resquícios de desejo ainda visíveis na respiração acelerada de ambas.

Rio, encostada contra a parede, encarou Agatha com um sorriso que misturava surpresa e provocação. - Uau... - murmurou, o tom desafiador, mas a voz um pouco mais rouca do que o habitual. - É isso que você chama de manter distância, Agatha?

Agatha apertou os lábios, tentando esconder o quanto as palavras de Rio a desestabilizavam. - Não se engane, Rio. - Sua voz saiu firme, embora houvesse um tremor subjacente, traindo sua verdadeira vulnerabilidade. - Isso não muda nada. Estamos do mesmo jeito que sempre estivemos: presas em um ciclo do qual não sabemos como sair.

Rio inclinou a cabeça levemente, os olhos se estreitando. - E se eu não quiser sair? - Ela se aproximou, o sorriso desaparecendo aos poucos, substituído por uma sinceridade que a tornava ainda mais perigosa. - E se eu disser que te quero, com todas as complicações que isso traz?

Agatha deu um passo para trás, tentando se recompor, mas a declaração de Rio a atingiu como um feitiço sem defesa. Seu coração batia forte, e o que mais a aterrorizava era o fato de que, por um breve segundo, ela quis acreditar nas palavras da outra bruxa. Quis se render, mesmo sabendo que seria a coisa mais insana a se fazer.

- Você fala como se isso fosse fácil, - Agatha respondeu, a voz mais baixa. - Como se bastasse querer para consertar tudo o que destruímos. Mas você e eu... somos feitas de caos. Não sabemos amar sem destruir.

Rio deu um passo à frente, fechando a distância que Agatha tinha criado. - Talvez seja verdade. - Ela levantou a mão e, desta vez, Agatha não se afastou. Rio deslizou os dedos pela linha do maxilar de Agatha, o toque leve como uma promessa. - Mas, mesmo assim, prefiro arriscar. Porque toda essa luta, essa intensidade... significa que ainda nos importamos.

Agatha fechou os olhos por um momento, absorvendo a proximidade, o toque. Ela sentia seu autocontrole vacilar, como um muro de defesa prestes a ruir. - Você é uma tola, Rio, - sussurrou, e abriu os olhos para encarar a outra bruxa, uma expressão de dor e desejo conflitantes. - E eu sou ainda mais tola por ouvir isso.

Rio sorriu, um sorriso que não era de provocação, mas de reconhecimento, como se soubesse o quanto estavam à beira do abismo. - Se somos tolas, então que seja, - disse ela, sua voz um eco de todos os momentos que compartilharam e que nunca puderam esquecer.

O vento da noite soprou entre elas, carregando o aroma das orquídeas roxas do jardim, e o mundo pareceu segurar a respiração, esperando pelo que viria a seguir.



𝐒𝐨𝐛 𝐨 𝐯é𝐮 𝐝𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞-𝐀𝐠𝐚𝐭𝐡𝐚𝐫𝐢𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora