018. talvez seja o final?

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Rio e Agatha chegaram a uma parede. Agatha examinou-a com uma expressão de desdém, cruzando os braços.

— Só isso? Tem que ter uma solução.

Rio deu um leve sorriso, com um olhar cheio de tranquilidade.

— Você pegou os cristais?

Agatha ergueu a sobrancelha, um sorriso confiante surgindo em seus lábios enquanto tirava pequenos cristais de seu manto. Com movimentos firmes, encaixou-os nas reentrâncias da pedra, e uma porta se abriu diante delas, revelando uma sala branca e quase desorientadora. Lá dentro, dezenas de telas espalhavam-se pelas paredes, como sentinelas, prontas para mostrar segredos ocultos.

Rio sentiu um frio na espinha. Sabia que esse lugar guardava mais do que apenas imagens — era um verdadeiro campo minado emocional. Mesmo assim, manteve a calma. Agatha caminhava na frente, e Rio, por um instante, permitiu-se observar o movimento do quadril dela, quase se deixando levar pela distração. Mas desviou o olhar rapidamente, focando-se de volta na missão.

A parede atrás delas se fechou com um som seco, e a sala assumiu uma iluminação fraca e incômoda. Rio tirou sua adaga do bolso, girando-a com os dedos para se concentrar, enquanto sentia a tensão aumentar no ar. Foi quando as TVs se acenderam ao mesmo tempo, cada uma mostrando as memórias mais dolorosas de Agatha: rostos de pessoas que ela perdera, batalhas onde foi obrigada a fazer escolhas cruéis, momentos que a assombravam.

Agatha parou, o sorriso desaparecendo ao ver as lembranças. A expressão dela se endureceu, a dor e a raiva se misturando. Ela virou-se para Rio, os olhos cheios de angústia.

— Foi você quem me trouxe para isso? — acusou Agatha, sua voz gélida e cortante.

Rio manteve o olhar frio, tentando não demonstrar emoção.

— Eu trouxe você aqui para enfrentarmos tudo, inclusive o que você escondeu de si mesma.

— Escondi? — Agatha riu amargamente. — Eu fiz o que era necessário. E você, Rio? Não teve nenhuma responsabilidade?

Rio a encarou com um olhar calculista, sem ceder um centímetro.

— Eu fiz o que devia, Agatha. Sempre soube que nosso caminho teria consequências.

A tensão entre as duas era palpável, cada palavra lançada como uma lâmina afiada.

Agatha respirou fundo, seus punhos cerrados. As telas ao redor continuavam exibindo as lembranças dolorosas, como se provocassem as feridas do passado. Ela deu um passo à frente, encarando Rio, a raiva crescendo em cada traço do seu rosto.

— Consequências? — sua voz saiu quase em um sussurro, carregada de dor. — Você fala como se tudo fosse simples. Como se tudo o que perdi fosse só… uma consequência!

Rio segurou a adaga com firmeza, os olhos ainda frios, mas havia um brilho diferente ali — uma faísca de algo que ela tentava sufocar. Ela deu um passo para trás, mantendo a postura calculista, mas o peso das palavras de Agatha atravessava suas defesas.

— Se continuarmos olhando para trás, nunca vamos avançar, Agatha. Esse caminho… ele exige sacrifícios. E você sabia disso.

Agatha bufou, seu olhar misturando mágoa e descrença.

— Eu sabia? Eu confiei em você, Rio. Coloquei tudo nas suas mãos, e agora tudo o que vejo são sombras e dores.

A sala ficou em silêncio por um momento, com apenas o som das lembranças nas telas. Rio desviou o olhar, a tensão visível em seu rosto, mas ela respirou fundo e se recompôs.

— E eu também perdi muito, Agatha. Não pense que meu papel nisso tudo foi fácil. Mas eu nunca hesitei. Fiz o que precisava ser feito… por você, por nós.

Agatha mordeu o lábio, os olhos brilhando com uma mistura de lágrimas e raiva contida. Ela deu um passo à frente, até que seus rostos estivessem a poucos centímetros de distância.

— Mas eu nunca pedi para ser salva dessa forma.

Rio segurou o rosto de Agatha com as duas mãos, com firmeza, mas com uma delicadeza inesperada.

— Você pode não ter pedido, mas eu fiz isso porque te amo. Porque viver sem você seria um destino pior do que qualquer sofrimento que enfrentei. E se tivesse que fazer tudo de novo, eu faria.

Agatha fechou os olhos, absorvendo cada palavra, lutando contra os próprios sentimentos que insistiam em emergir. Finalmente, ela soltou um suspiro profundo, seus ombros relaxando, mas a dor em seus olhos permanecia.

— Então me prometa… — murmurou Agatha, a voz embargada. — Prometa que, daqui em diante, vamos decidir juntas. Sem mais segredos.

Rio assentiu lentamente, puxando-a para um abraço apertado.

— Eu prometo, Agatha.

As telas ao redor começaram a se apagar uma a uma, como se o peso das memórias finalmente cedesse. As duas permaneceram ali, abraçadas, sentindo que, apesar de todas as feridas, estavam prontas para enfrentar o que viesse — juntas, dessa vez.

Agatha observa a tela, os olhos fixos na imagem do filho. A voz de Nick ecoa pela sala, suave e distante, trazendo uma sensação profunda de saudade e dor. Ele estava lá, sua expressão inocente e os olhos grandes, mas seu tom carregava algo sombrio.

— É frio aqui, mamãe... — ele murmurou, os olhos marejados. — Eu sinto falta de vocês. Sinto falta da mamãe Rio também.

Agatha, com a voz embargada, murmurou para a tela:

— Eu também sinto sua falta, meu anjo…

Ela estendeu a mão em direção à tela, como se pudesse tocar o filho através da imagem, mas nada aconteceu. O silêncio tomou conta do espaço, enquanto o vídeo de Nick continuava a se repetir, sua voz implorando por um calor que ela não podia oferecer dali.

Rio, que estava ao lado, observava em silêncio, sentindo a tensão crescer entre elas. Ela conhecia os riscos de se envolver demais com aquelas imagens. Esse lugar tentava manipular seus sentimentos, prender suas almas nos arrependimentos e nas saudades. Precisavam encontrar uma maneira de sair dali antes que perdessem o foco.

Ela segurou o braço de Agatha com firmeza, forçando-a a desviar o olhar da tela.

— Agatha, isso não é real. — Sua voz era firme, mas não rude. — É a dor que você guarda, transformada em uma armadilha. Precisamos sair.

Agatha hesitou, ainda com os olhos fixos na imagem de Nick, até que a TV começou a piscar, emitindo um ruído estático perturbador. Então, uma mudança sutil aconteceu. Ao lado da tela de Nick, outra parede começou a se mover, revelando o contorno de uma porta escondida. Ela abriu lentamente, deixando à mostra uma escuridão profunda do outro lado.

Rio olhou para a porta, seu semblante calculista retornando.

— Esse é o caminho. Precisamos continuar, Agatha.

Agatha respirou fundo, secando as lágrimas com o dorso da mão, e olhou para Rio com uma mistura de dor e determinação.

— Vamos. — Ela assentiu, desviando o olhar da TV, mas ainda sentindo a presença do filho ecoando em sua mente. — Por ele… e por nós.

As duas cruzaram a nova passagem, entrando na escuridão. Assim que passaram pela porta, ela se fechou atrás delas, selando a sala branca e o fantasma do passado de Agatha. Agora, caminhavam em um corredor estreito e úmido, onde o som de goteiras ecoava pelas paredes.

Mas algo estava diferente. Agatha sentia uma leveza nova, uma clareza que antes parecia impossível. Rio apertou sua mão enquanto avançavam, e ambas entenderam que haviam superado mais um obstáculo.

𝐒𝐨𝐛 𝐨 𝐯é𝐮 𝐝𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞-𝐀𝐠𝐚𝐭𝐡𝐚𝐫𝐢𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora