Veratrum

Não Podemos Mudar o Passado

Eren Jaeger

O silêncio dentro do Amethyst, um dos clubes mais luxuosos e discretos de Las Vegas, era sufocante após a saída de Levi. Permaneci imóvel por um instante, encarando a porta pela qual ele havia partido. O encontro havia sido mais do que eu podia suportar; ver aqueles olhos cinzentos carregados de confusão e dor reabriu feridas antigas que eu pensava ter enterrado.
Afundei em uma poltrona, sentindo meus ombros tremerem sob o peso esmagador da culpa e da exaustão. Eu havia me preparado para muitas coisas ao longo dos últimos anos, mas nada poderia ter me preparado para encarar Levi novamente, especialmente com tantas mentiras ainda separando nós dois. Passei as mãos pelos cabelos, sentindo o suor frio em minha pele.

— Eren? — a voz de Reiner cortou o silêncio, trazendo-me de volta à realidade. Ele estava claramente preocupado, e a expressão em seu rosto dizia mais do que mil perguntas. — O que aconteceu entre você e esse homem?

Desviei o olhar, ignorando sua pergunta enquanto tentava organizar meus pensamentos. — Quem mais ouviu a confusão? — perguntei, tentando esconder o tremor em minha voz.

— Apenas eu... ele saiu como se fosse um arruaceiro, o que não é difícil de acreditar dado o fato dele já ter saído assim antes — respondeu Reiner, aproximando-se com cuidado. Ele ainda parecia atordoado, como se não soubesse se deveria me consolar ou me pressionar por respostas.

Engoli em seco, sentindo a garganta apertada.

— Reiner... — comecei, mas as palavras pareciam pesadas demais para sair. Como explicar a ele que Levi ainda era uma parte de mim, que ver aqueles olhos de novo havia aberto todas as feridas que eu havia jurado manter fechadas?

Reiner colocou uma mão firme em meu ombro, o gesto forte, mas acolhedor.

— Você não precisa enfrentar isso sozinho, Eren. Seja o que for, estou aqui. — Olhei em seus olhos buscando verdade. —  Não direi ao chefe. Confie em mim.

— Eu confio em você, mas não precisa se preocupar. Eu vou ficar bem. —  Sorri tentando acalmar a mim mesmo. Eu não podia dizer nada a ele, não poderia envolver mais ninguém em minhas loucuras. E foi por isso que mudei de assunto.

Levantei-me da poltrona e caminhei até a porta, o coração ainda martelando no peito.
— Onde está DiPaolo?
— Em uma reunião com alguns aliados. Pixis está furioso depois que você matou o brinquedo dele. É provável que tenhamos problemas — Reiner respondeu, a voz grave e cheia de tensão.
Deixei escapar um suspiro aliviado, apesar da situação.
— Ótimo, isso vai mantê-lo ocupado pelos próximos dias. — Minha mente precisava de espaço, de tempo para pensar. — Eu vou para casa. Obrigado, "Grandão".
Reiner se levantou também, um movimento firme e protetor. Ele se aproximou até que nossos rostos estivessem a poucos centímetros de distância, seus olhos, geralmente endurecidos pelas batalhas, agora brilhavam com uma ternura que eu conhecia bem. Antes que eu pudesse reagir, sua mão grande e forte tocou meu rosto, quente e firme, o polegar calejado deslizando pela minha pele.
— Tenha cuidado, Eren... — sua voz era um sussurro carregado de preocupação, cada palavra gravada em sinceridade.
Senti um nó se formar em minha garganta. O toque de Reiner era algo que sempre misturava segurança e um peso que eu não sabia como carregar. Eu sabia sobre seus sentimentos românticos, mesmo que fingisse não notar. Entretanto jamais fomos nada além de amigos, não poderia magoar alguém como ele. Reiner merecia mais que isso.

— Eu estou do seu lado — Reiner continuou, os olhos fixos nos meus, penetrando fundo, como se buscasse uma certeza que nem eu sabia se poderia dar.

— Eu sei, "Grandão" — respondi com um meio sorriso, virando o rosto apenas o suficiente para depositar um beijo suave em sua palma. A leveza do gesto aqueceu o corpo de Reiner de um jeito que só a minha proximidade podia provocar. Não foi minha intenção lhe causar tais sentimentos, queria apenas ser gentil.