O kwami o observava em silêncio, seus olhos ancestrais carregando um peso quase impossível de medir, como se em sua decisão estivesse a soma de eras. Adrien sentiu o olhar da criatura penetrar até o âmago de seu ser, como se cada canto de sua alma fosse iluminado e, talvez, aprovado. A luz em seu redor se intensificou, e Adrien sentiu o peso da responsabilidade cair sobre seus ombros, a decisão que tomara reverberando em cada fibra de seu ser.
À medida que o kwami ergueu a pata em um gesto enigmático, Adrien viu o ambiente ao redor distorcer-se; o chão desaparecia, substituído por uma vasta extensão de água que subia, alcançando seus tornozelos. O som das ondas e o cheiro salgado do mar invadiram seus sentidos, mas ele se sentia suspenso, desconectado, quase vulnerável. Ele piscou, o vento forte batendo em seu rosto enquanto o cenário se moldava ao seu redor, porém Marinette já não estava lá. Era apenas ele, frente a frente com o kwami e consigo mesmo.
À sua frente, o Kwami observava em silêncio, como se estivesse esperando algo. Adrien franziu a testa, tentando entender o que estava acontecendo.
De repente, uma imagem turva surgiu na água à sua frente — uma figura que, aos poucos, tomou a forma de uma versão mais jovem de si mesmo. Mas aquele reflexo era frio, pálido, com olhos vazios, como uma sombra da vida que um dia tivera. Adrien sentiu o peso daquela imagem em seu peito, como se o passado que tentava enterrar voltasse para confrontá-lo com uma tristeza implacável. Era ele, numa versão distante, perdida e desesperada, uma imagem da criança isolada e reprimida, que tentava desesperadamente encontrar seu lugar no mundo.
— O que é isso? — sua voz saiu baixa, hesitante, enquanto ele olhava para o reflexo, que o encarava de volta com um vazio familiar. Adrien percebeu que aquela tristeza ainda existia dentro de si, presa sob as camadas de controle e disciplina.
O kwami da tartaruga o observava em silêncio, com uma expressão calma e profunda.
— Este é o reflexo de suas dúvidas, Adrien. De tudo que você teme aceitar dentro de si. Você viveu numa prisão, aprisionado pelo seu pai e isolado do que poderia ser. Mas o verdadeiro desafio está em enfrentar essa parte de si — olhar para o que você teme e, ainda assim, avançar.
Ele deu um passo para trás, o coração acelerado, e sentiu a onda de medo subindo, quase sufocante. Aquela versão de si mesmo o encarava, frágil e desamparada.
— Eu... — Adrien engoliu em seco, sentindo-se fragmentado entre o que queria ser e o que sentia ser obrigado a ser. — Eu não sou... esse eu... perdido.
— Não — murmurou o kwami, sua voz reverberando como um eco. — Mas essa fraqueza faz parte de quem você é. Aceitar suas sombras é o caminho para a liberdade. É sua humanidade, Adrien. A força verdadeira está em reconhecer suas fraquezas e, ainda assim, persistir.
Fechando os olhos, Adrien relembrou cada vez em que tentara se libertar, cada tentativa frustrada pela imposição invisível de ser "perfeito." Ele sempre foi uma marionete de expectativas alheias.
Respirou fundo, buscando forças que não sabia que possuía, e abriu os olhos, determinado. Diante dele, o reflexo parecia menos ameaçador, e, quando tocou a água, a imagem começou a se dissipar, transformando-se numa figura que parecia real — alguém que aceitava as falhas e inseguranças, mas que avançava com coragem.
— Eu aceito — ele murmurou, mais para si mesmo do que para o kwami. — Eu aceito quem sou.
O kwami sorriu, e as águas ao seu redor retrocederam, como se um peso monumental fosse retirado de seus ombros. Ele se sentiu leve, mais completo, como se houvesse finalmente descoberto uma parte de si que sempre estivera oculta.
— Você passou, Adrien. Não pela força, mas pela coragem de aceitar o que está em seu interior. A verdadeira força é continuar lutando.
Adrien se inclinou ligeiramente, exausto, mas com uma sensação nova, um alívio indescritível. Ele agora sentia algo que nunca tinha experimentado antes: uma sensação genuína de estar em paz consigo mesmo. Ele olhou para o Kwami, que o observava com uma satisfação silenciosa, e depois para Marinette, que estava de volta ao seu lado, também respirando aliviada.
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Andando Na Prancha | Miraculous Ladybug AU
AdventureEm um mundo de oceanos revoltos e segredos, a capitã Ladybug ergue as velas do Navio Miraculous para desafiar o poder opressor do rei Gabriel Agreste. Porém, enquanto os ventos da revolução sopram, o pirata Hawkmoth busca despertar os Miraculous, cr...