Andando Na Prancha | Miraculous Ladybug AU

Cativeiro

França, 1819

O forte sol de junho refletia exageradamente sobre o oceano profundo do Atlântico, causando uma pequena irritação em Marinette. Ela odiava não poder olhar as surpresas que a natureza oferecia todos os dias através das águas. Pela janela de sua cabine abaixo do convés, o mar era a única coisa a se admirar, e, quando nem mesmo isso ela podia fazer, a jovem declarava o dia como terminado. Mas aquele dia não era qualquer um. Muito pelo contrário, aquele dia era especial. As surpresas mal haviam começado.

A jovem fechou os dois longos pedaços de pano, que havia rasgado de uma saia para fazer de cortinas, e piscou algumas vezes seus grandes olhos azuis para se acostumar com a nova iluminação escura. Aos poucos, a sala ao seu redor tomava forma. Primeiro, as duas poltronas roxas no canto direito do recinto. Depois sua mesa, junto com todos os apetrechos largados sobre a superfície. Deu a presença do tapete vermelho, bordado por ela mesma quando teve tempo livre no último inverno, uma vez que os mares estavam congelados demais para serem navegados. E, por fim, sua parte preferida de todo o navio: a prateleira alta ao lado esquerdo, contendo todos os tesouros já saqueados por ela e que agora pertenciam a si.

Deus, como ela amava se gabar daquela conquista, ou melhor, de todas aquelas conquistas. Cada objeto, cada jóia, espada, adaga, taças, moedas: cada coisa dentro da porta de vidro da prateleira despertava uma memória diferente em Marinette, que agora sorria de lado ao fitar o móvel de cima a baixo como se acabasse de receber uma medalha de melhor pirata dos sete mares. E, apesar desse fato ainda não ter acontecido, ela se sentia como tal. Afinal de contas, ela era Ladybug, a capitã do navio Miraculous, o mais conhecido grupo de piratas rebeldes da França.

Todos em Paris sabiam seu nome, poucos o seu rosto. Até porque não era muito comum achar pessoas que se revoltassem com a monarquia. Gabriel Agreste era um Rei sensato, justo, que zelava pelo bem de seu povo e de seu país. Ele poderia ser um tanto frio e calculista aos olhos da população, mas isso nunca foi um problema digno de julgamento, uma vez que sua esposa, a Rainha Emily, havia falecido há pouco tempo. Todos achavam que seu comportamento insensível seria culpa do luto sofrido por ele e seu único filho, o Príncipe Adrien Agreste.

Marinette achava tudo isso uma mentira. Ela sabia que era. A falta de atitudes e poucas promessas a respeito da soberania já deixavam claro que o Rei não estava no trono para fazer o bem, e sim para ter poder em suas mãos. A jovem rebelde poderia não ter vivido para ver a história de Gabriel, mas seus pais fizeram esse serviço por ela. Sabine e Tom também foram aventureiros marítimos, e governaram o navio Miraculous de 1760 até 1802, quando faleceram em um duelo com Hawkmoth, o criminoso mais temido do mar da França. Até então ninguém sabia quem era o infeliz por trás da máscara. Porém, a astuta Ladybug possuía suas suspeitas, uma delas sendo vossa Majestade. Ninguém sabia sobre a hipótese de Gabriel e Hawkmoth serem a mesma pessoa, apenas Marinette, pois havia enterrado esse segredo junto com seus pais. Os tripulantes não simpatizavam nem um pouco com o Agreste, e simpatizariam muito menos se soubessem que ele poderia ser Hawkmoth.

Ela e seu navio pareciam ser os únicos que agiam contra a monarquia, pois a causa rebelde nunca ganhou muita popularidade. Ninguém pensava que o piedoso rei era, na realidade, um verdadeiro canalha. Contudo, a falta de apoio à revolução nunca impediu os piratas de seguirem com sua missão.

Horas antes de morrerem, os pais de Marinette pediram duas últimas coisas para a filha: cuidar do navio e nunca confiar em Gabriel Agreste. Nossa pequena Marinette obedeceu esses desejos como se fossem sua própria vida, e ela pretendia continuar a obedecê-los pela eternidade. Se seus pais pediram para que não confiasse em Gabriel Agreste, era porque havia motivos. Motivos os quais não teve tempo para perguntar, mas que iria descobri-los custe o que custasse.