4. Retirada.

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Os passos firmes de Lux Sulax cortaram o chão da tenda como uma lâmina.
eu a reconheci antes mesmo de vê-la, a tensão que ela sempre carregava era inconfundível, ou talvez seu terno preto com um brasão da minha família, a fizesse ter essa notoriedade.
não olhei de imediato, estava ocupada tentando me convencer de que aquilo era algum mal-entendido.

ela parou na minha frente, e eu finalmente ergui os olhos, o olhar carregado de lux nunca deixava dúvidas, algo estava errado.

- Senhorita Yoko - disse ela, seca e direta. - precisamos sair agora.

Uma parte de mim quis rir, outra quis gritar, mas, como sempre, tudo o que fiz foi respirar fundo e tentar manter o controle.

- O que está acontecendo? - murmurei, enquanto largava os hashis no prato, minha voz saiu firme, mas eu sabia que ela podia sentir a irritação que escapava.

- Seu pai mandou que eu a tirasse daqui imediatamente - respondeu sulax, sem rodeios.

aquela frase, sempre ela. Seu pai mandou.
quantas vezes minha vida girava em torno dessas palavras?

Lloyd, sentada ao meu lado, me lançou um olhar confuso.

- quem é essa? - perguntou baixinho, mas eu apenas balancei a cabeça, não tinha tempo nem energia para explicar.

foi então que ouvi a voz que menos queria naquele momento.

- A noite mal começou e você já está fugindo? - faye peraya, claro, a única pessoa capaz de tornar tudo ainda pior, com aquele sorriso desdenhoso e o tom malicioso que fazia minha paciência ir pelos ares.

me levantei bruscamente, ignorando os olhares que se prendiam em mim.

- não é da sua conta, Peraya - rebati, olhando diretamente para ela.

eu sabia que deveria ter ignorado, mas ela sabia exatamente como me provocar.
meu tom saiu mais afiado do que eu queria, e eu pude ver o brilho de satisfação nos olhos dela.

Lux, ignorando o drama, segurou meu braço de forma firme, mas sem brutalidade.

- Por favor, me acompanhe - disse, como se não houvesse outras pessoas ali.

Olhei ao redor e percebi os olhares curiosos dos alunos, alguns cochichavam, outros simplesmente me encaravam como se eu fosse um espetáculo meus olhos encontraram os de marissa, que parecia preocupada.

- eu volto depois, não é nada – menti, mas ela sabia, e eu também sabia.

deixei Lux me guiar para fora, sentindo o peso dos olhares nas costas, meu coração estava pesado, como sempre, mais uma vez, minha vida sendo arrastada para fora de meu controle.

quando passamos pela saída da tenda, ouvi os sussurros começarem, eles sempre começavam. mas o que me incomodava de verdade era a sensação de que, de alguma forma, faye ainda estava me observando.

assim que saímos da linha de visão dos outros, o silêncio ao nosso redor tornou-se sufocante, lux caminhava ao meu lado como uma sombra, seus passos calculados ecoando contra o asfalto úmido.

-você ao menos sabe o que está acontecendo? - perguntei, quebrando o silêncio, meu tom era ríspido em prol da raiva que borbulhava no fundo da garganta, misturada ao medo de mais uma cena humilhante.

minha segurança não respondeu de imediato, seus olhos, ocultos atrás de óculos escuros mesmo no cair da noite, desviaram apenas por um segundo em minha direção antes de voltar ao caminho à frente.

- eu só cumpro ordens, senhorita - respondeu, seca, mas havia algo em sua voz que parecia pesar mais do que o normal.

foi então que percebi, havia tensão até mesmo na postura dela, algo que sulax, normalmente uma muralha de indiferença, nunca deixava transparecer.

Teoria do caos (FAYEYOKO)Onde histórias criam vida. Descubra agora