1. Velhos demônios.

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12 junho 2023
passado

Era um dia ensolarado e quente, o tipo de dia que deveria ser perfeito para se divertir, as crianças brincavam na areia, rindo e pulando, enquanto o sol brilhava alto no céu, o lago se estendia diante de mim, suas águas claras e convidativas refletindo o céu azul, como um espelho, eu e minha irmã, Rebecca, sempre amamos este lugar, um refúgio onde podíamos escapar das pressões do mundo. mas hoje, havia uma tensão no ar que me incomodava, como uma nuvem escura pairando sobre mim.

- Vamos lá, Yoko - Becky chamou, com um sorriso radiante, sua energia era contagiante, mas eu estava longe de compartilhar o mesmo entusiasmo.

- Não sei se quero - retruquei, a frustração transbordando, a discussão que tivemos antes de sairmos ainda martelava em minha cabeça, eu não queria estar lá, não depois do que dissemos uma à outra.

- Por quê? Você está sendo insuportável! -Ela cruzou os braços, seu olhar magoado me atingindo como uma flecha, eu sabia que estava sendo dura, mas as pressões que eu sentia me deixavam irritada.

- Eu só queria que você se importasse! - gritei, a raiva ofuscando o que realmente queria dizer, no fundo, eu estava com medo, medo de que a pressão do atletismo e do meu pai me sufocasse, e mais medo de perder a única pessoa que sempre esteve ao meu lado.

- Yoko, você está agindo como se não tivesse ninguém ao seu lado! - Becky respondeu, sua voz tremendo de emoção. "Eu só quero que você esteja bem"

Deixei as palavras dela ecoarem na minha mente enquanto me afastava.

caminhei até o lago, tentando afastar a frustração. o som suave da água deveria ter sido um consolo, mas as lembranças da discussão não me deixavam em paz, eu me sentei na beira do lago, os pés na água fria, pensando em como tudo parecia desmoronar ao meu redor.

"Eu sou a culpada", pensei, a culpa começando a se infiltrar em meu coração, se eu tivesse ouvido Becky, talvez tudo isso não tivesse acontecido, eu não deveria ter gritado.

Decidi mergulhar na água, na esperança de que a sensação refrescante me aliviasse.
mas, ao entrar, percebi que a correnteza estava mais forte do que imaginava, a água puxava meu corpo, e um pânico súbito tomou conta de mim.

- Becky! -. gritei, mas a água tragava minha voz, e a sensação de afogamento começou a me envolver.
meu coração batia acelerado enquanto eu lutava contra a correnteza.

Então vi Becky, à beira do lago, seus olhos arregalados de medo.

- Yoko! - ela gritou, e em um ato impulsivo, se jogou na água.

- Não! - eu queria gritar, mas o desespero me paralisou, acorrenteza as puxava para longe uma da outra, e eu queria gritar para ela voltar, mas as palavras não saíram.

A água estava fria e profunda, e eu me sentia cada vez mais fraca.

- segure-se em mim! - Becky gritou, enquanto tentava se aproximar de mim, mas a correnteza nos separava, e a luta se tornava mais intensa a cada segundo.

- Estou tentando! - gritei, mas a força da água era implacável,

o medo e a impotência me inundaram, e em um momento de desespero, eu a vi se afundar.

- Yoko! - Sua voz se tornou um sussurro distante enquanto a correnteza a puxava para baixo, meu coração se partiu em mil pedaços.

Quando finalmente acordei, a luz do sol parecia uma lembrança distante, meu corpo estava pesado, e eu estava deitada na margem do lago, cercada por rostos desconhecidos.

Os sons de vozes e sirenes ecoavam ao meu redor, mas tudo parecia distante, ocheiro de terra molhada e a frescura do lago me trouxeram de volta à realidade.

- Onde está a Becky? - minha voz saiu entrecortada, mas a resposta que eu esperava nunca veio, um silêncio pesado tomou conta do ambiente, e eu tentei me levantar, mas meu corpo não respondia.
o mundo à minha volta começou a girar, e meu coração acelerou quando finalmente consegui ver.

Na margem do lago, os bombeiros estavam se agachando sobre um corpo que parecia tão familiar, mas que eu não queria acreditar que era ela.

a cena era um pesadelo que eu não conseguia escapar, as palavras na ponta da minha língua se evaporaram enquanto a realidade se firmava, o corpo de Rebecca estava lá, imóvel, sendo examinado, oque deveria ser um lugar de felicidade agora era um cenário de dor e perda.

- Não... não, isso não pode ser verdade! - as lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava processar o que via, a dor era insuportável, como se uma faca estivesse perfurando meu coração repetidamente, eu havia falhado, falhei em proteger minha irmã, falhei em ouvir seus gritos.


Os dias seguintes se transformaram em um pesadelo interminável, su me trancava no quarto, cercada por lembranças de Becky, como se as paredes pudessem me proteger da dor, cada respiração era um lembrete de que eu havia perdido a única pessoa que sempre esteve ao meu lado, a culpa me consumia, era minha culpa, se eu tivesse apenas ouvido...

Na manhã seguinte, meu pai entrou em meu quarto, e sua expressão era fria como o gelo, ele me olhou com desprezo, seus olhos cheios de desapontamento.

- Se você tivesse sido mais responsável, sua irmã ainda estaria viva - as palavras dele cortaram como uma lâmina. - você a deixou se afogar! como pode ser tão imprudente?

-Eu não queria... eu não sabia... -murmurei, mas ele virou as costas, desdenhando de mim, a dor aumentou, uma pressão que parecia me esmagar.

Perdida na dor, encontrei no atletismo uma maneira de escapar, cada corrida deveria me libertar, mas a culpa só crescia a cada passo, eu corria como se pudesse fugir do peso da culpa, mas a realidade sempre estava ali, seguindo-me como uma sombra.

- mais rápido, Yoko, Você consegue! -. gritava meu treinador, mas eu não conseguia, as lembranças de becky me seguiam como uma sombra, me lembrando de que eu havia falhado.

Cada treino era um lembrete de que, por mais que eu tentasse, nunca poderia trazer rebecca de volta. E, a cada batida do meu coração, eu sabia que estava presa em um ciclo de arrependimento e dor que parecia não ter fim.

Teoria do caos (FAYEYOKO)Onde histórias criam vida. Descubra agora