Capítulo 94: Extra【Sobre o motivo de os dois decidirem não ter filhos】

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Lin Jingzhe, na verdade, gostava bastante de crianças, especialmente das que eram como Fang Zhuangzhuang, filho de Fang Wenhao – um garotinho branquinho e rechonchudo, que era macio como uma nuvem de algodão quando o pegava no colo, com uma voz tão agradável quanto o canto de um rouxinol, de temperamento dócil, bom de apetite e de sono. Esse tipo de criatura era, sem dúvida, um dos presentes mais lindos que o Criador deu à humanidade. Digno de ser valorizado.

Xiao Chi, por outro lado, era o oposto. Ele não gostava de nada que pudesse atrair a atenção de Lin Jingzhe.

De parentes e amigos próximos até gatos e cães que apareciam na rua, tudo o que interessava a Lin Jingzhe, Xiao Chi automaticamente não gostava, sem precisar de justificativas.

Por isso, morando juntos há tantos anos, os dois sempre viveram apenas em seu próprio mundo. No apartamento antigo que ocupavam há anos no complexo residencial de Dongtai, mesmo amigos próximos como Hu Shaofeng só podiam entrar com autorização. Ambos trabalhavam bastante e raramente tinham tempo de folga, e quando conseguiam um feriado de três dias ou mais, viajavam juntos; para períodos mais curtos – bem, simplesmente passavam o tempo em casa.

No fim das contas, preferiam não fazer nada e ficar grudados.

Xiao Chi tinha muitos hobbies, como esculpir e pintar. Na casa deles havia um pequeno sótão, localizado no último andar da casa, sob o telhado inclinado. O sótão era amplo, com janelas que se abriam para a vista do cintilante lago Dongtai, ladeado por árvores antigas e salgueiros, uma paisagem belíssima.

Xiao Chi gostava de se esconder ali para pintar. Ele pintava o lago, as árvores e, às vezes, Lin Jingzhe. Mas ele não era muito bom com retratos, e as formas de suas pinturas acabavam ficando meio abstratas. Por sorte, independentemente de como ele pintava, o outro morador da casa sempre o elogiava – "Ficou bonito."

Assim, mais um retrato de Lin Jingzhe, com uma face ligeiramente torta e um sorriso cheio de dentes um tanto quanto exagerados, subiu na parede como uma obra "linda" após o elogio.

Lin Jingzhe dava alguns passos para trás, fingindo avaliar a pintura, mas na verdade observava Xiao Chi de soslaio. Toda vez que Xiao Chi ia para o ateliê, ele vestia um avental próprio, de linho, manchado de tinta seca em várias cores, e que envolvia seu corpo alto e musculoso com uma beleza difícil de descrever. A presença de Xiao Chi sempre era afiada e intensa, mas ao se dedicar aos hobbies, algo mudava. Naquela manhã, ao sair da cama, Lin Jingzhe nem sequer teve tempo de amarrar o cabelo dele, e Xiao Chi deixou que seus fios ondulados caíssem emoldurando seu rosto, que tinha um leve sombreado de barba.

Era tão bonito – parecia um artista ao mesmo tempo refinado, decadente e levemente histérico.

Lin Jingzhe admirou a cena pelo canto do olho por um bom tempo antes de elogiar, enquanto esfregava o queixo, fingindo entender de arte: "Hum, a combinação de cores ficou ótima."

Porque, se era para ser sincero, não havia nada mais digno de elogio. Se aquele retrato tivesse sido pintado por qualquer desconhecido na rua, só pelos dentes de coelho exagerados que puseram nele, Lin Jingzhe já teria dado uma surra no autor.

Xiao Chi, no entanto, não se importava com a sinceridade duvidosa do elogio do parceiro. Ele se sentia bastante satisfeito com sua obra e até achava que o quadro poderia ser exposto na galeria de arte do prédio ao lado do velho edifício Wanwu na Rua Erzhong!

A voz do apresentador do jornal matinal soava claramente pelo alto-falante. Lin Jingzhe empurrou o braço e as costas de Xiao Chi: "Vai logo lá em cima lavar o rosto e escovar os dentes; eu vou pegar as roupas na secadora."

Na casa, as tarefas eram geralmente divididas assim: Xiao Chi varria, passava pano, lavava e pendurava as roupas, organizava o escritório, a sala e todos os outros cômodos. Lin Jingzhe... pegava as roupas secas.

EPIFANIAS DO RENASCIMENTO [BL]Onde histórias criam vida. Descubra agora