Capítulo 97: Extra 【Qi Kai】

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Na região do Triângulo Dourado, na fronteira da Tailândia, ao longo do rio Mekong, o clima é quente o ano todo.

Para quem passa por lá, a área parece uma cidade comum, apenas um pouco mais suja e desorganizada. Os moradores locais vivem suas vidas tranquilamente. Nos dias de festivais, eles saem em procissões com elefantes pelas ruas, vestindo trajes tradicionais e cantando. Turistas chegam de ônibus, ansiosos para experimentar a cultura local, um projeto turístico que, nos últimos anos, trouxe renda significativa para a cidade.

É difícil imaginar que, há alguns anos, essa região estava sob o controle de um dos chefes do narcotráfico do Triângulo Dourado.

Tudo isso mudou graças à repressão intensa contra o tráfico de drogas. Liderados por uma grande potência regional, os países vizinhos aumentaram significativamente seus investimentos na luta contra o narcotráfico. Tropas e artilharia libertaram essa terra, e quando os campos de papoula foram destruídos, as pessoas celebraram a liberdade como nunca antes.

A cidade transformou o dia da libertação em um feriado permanente. A cada ano, todos se vestem e saem às ruas para celebrar o festival de Songkran. Os gritos de celebração ecoam pelo rio, contagiando até a outra margem. Mas esses sons alegres não chegam até as profundezas da floresta tropical.

No meio da mata, uma vila se escondia tão bem que nem helicópteros poderiam detectá-la. A luz dourada do sol se infiltrava pelas árvores, iluminando uma casa de bambu elevada. Embora humilde, era a melhor moradia que os moradores podiam construir naquela área remota.

Crianças corriam alegremente, de um lado para o outro, enquanto um dos pais os repreendia. Ao longe, um barulho de algo esmagando folhas secas alertou os adultos. Uma caminhonete suja e empoeirada surgiu do meio das árvores.

O veículo parecia velho e improvisado, com uma pintura camuflada que combinava com o ambiente. As crianças correram para o carro, enquanto os adultos relaxavam. A caminhonete estava cheia de pessoas com alguma deficiência visível — membros amputados, rostos com cicatrizes. Mesmo com dificuldades, riam e brincavam enquanto trabalhavam.

Uma jovem de pele bronzeada sentou-se com uma criança travessa no banco do passageiro, acenando para os trabalhadores no campo. "Sambo! Como estão os feijões hoje?"

O morador de pele escura, Sambo, respondeu sorrindo, com apenas três dedos na mão direita para colher os feijões. "Estão ótimos! Logo mandaremos uma tigela pra vocês! Miao, pare de ser travessa!"

O motorista, um homem grande com tatuagens nos braços e barba por fazer, enxotava as crianças de perto do carro com brincadeiras. "Saiam, seus pestinhas!" Mas as crianças apenas riam, sabendo que ele não era perigoso. Uma garotinha ainda jogou flores nele, o que arrancou risadas dos amigos.

O carro chegou à casa de bambu. Os galos ao redor fugiram assustados, enquanto o motorista saltava do carro e subia as escadas, seguido pelos amigos armados.

Lá dentro, Qi Kai, um homem com uma costura firme e habilidosa, estava sentado em uma máquina de costura. Sem perder tempo, o motorista grandalhão largou o que carregava e disse com um sorriso: "Ficou costurando esses dias todos?"

Qi Kai parou o que fazia e olhou para ele, sem palavras. O homem examinou o tecido colorido e riu: "Isso aqui é roupa de criança?"

Qi Kai apenas acenou para o saco no chão. "Trouxe o que pedi?"

A jovem de pele bronzeada tirou uma embalagem de cigarros e jogou para ele. Qi Kai agradeceu com um sorriso e, sem esperar, acendeu um cigarro, inalando a fumaça com satisfação.

Os amigos sentaram-se ao seu redor, e o homem de barba riu: "Estávamos na cidade, era o festival de Pizaj! As ruas estavam cheias e, claro, me molharam com aquelas pistolas de água."

EPIFANIAS DO RENASCIMENTO [BL]Onde histórias criam vida. Descubra agora