O salão do baile era uma obra de arte em si. Lustres de cristais refletiam a luz em mil fragmentos brilhantes, enquanto as paredes decoradas com tapeçarias e espelhos ampliavam a grandiosidade do espaço. A música suave flutuava no ar, misturada com leves risos e conversas. Eu estava posicionada estrategicamente perto de uma das grandes janelas de vidro que dava vista para os jardins iluminados, observando a movimentação com um sorriso leve e controlado.
Minha entrada havia sido discreta, mas suficientemente impactante para chamar a atenção. O vestido escolhido era um azul profundo, quase negro. Era uma escolha calculada, que equilibrava sofisticação e sobriedade. Eu sabia que muitos esperavam uma Seraphyna extravagante e dramática, e minha escolha deliberadamente contrariava essas expectativas.
O objetivo era simples: atrair atenção sem parecer desesperada.
No entanto, minha mente ainda pesava com a ausência do príncipe herdeiro, Kaellius. Eu sabia que ele não viria, afinal, nosso relacionamento era praticamente inexistente, e ele provavelmente me considerava mais uma ameaça política do que uma aliada em potencial. Ainda assim, havia uma pontada de decepção que eu não conseguia ignorar. Apesar disso, eu não podia me dar ao luxo de me abater. Havia muito em jogo naquela noite.
Eu estava conversando com Clarye e algumas jovens damas quando um murmúrio correu pelo salão. Olhei em direção à entrada e vi a figura do segundo príncipe, vestido impecavelmente em tons de branco e vinho, entrar com a confiança de alguém que sabia que todos os olhos estavam sobre ele.
Príncipe Hadrien, o "Segundo Pequeno Sol" do Império. Na novel, ele era o foco de toda a obsessão de Seraphyna, e seu desprezo por ela era quase palpável. Lembrava-me bem das inúmeras cenas em que ele evitava qualquer interação significativa com Seraphyna, tratando-a com frieza e até desdém. Agora, eu estava determinada a manter distância. Hadrien não era parte do meu plano. Na verdade, quanto mais longe dele, melhor.
Ainda assim, como anfitriã do baile, era meu dever cumprimentá-lo.
Com um suspiro imperceptível, fiz o possível para parecer natural enquanto me dirigia a ele. Hadrien notou minha aproximação e sua expressão endureceu levemente, mas ele não podia ignorar a etiqueta social. Fiz uma reverência elegante, mantendo o sorriso sereno.
— Vossa Alteza, é uma honra tê-lo em meu baile.
Minha voz era calma, respeitosa, mas sem o tom excessivamente adulador que a antiga Seraphyna teria usado
— Saudações ao Segundo Pequeno Sol do Império.
Adrian arqueou uma sobrancelha, surpreso. Talvez ele esperasse algo mais... desesperado. Ainda assim, ele inclinou a cabeça ligeiramente em resposta.
— Seraphyna.
Sua voz era tão controlada quanto a minha.
— Parece que se recuperou bem de seu... incidente.
Ele não conseguiu esconder o tom ligeiramente condescendente por trás do sorriso falso, mas eu ignorei.
— Sim, graças aos cuidados de meu pai e às orações de tantos amigos e conhecidos.
Minha resposta foi vaga, polida.
— Espero que Vossa Alteza esteja bem
Sem esperar uma resposta elaborada, fiz uma nova reverência e me afastei. Meu objetivo era claro: um cumprimento breve e cordial, sem deixar espaço para prolongar a interação. Não tinha interesse em ser arrastada para a esfera do segundo príncipe novamente. Passei o resto da noite circulando pelo salão, conversando com diferentes grupos, fortalecendo conexões e cultivando a imagem de uma dama graciosa e acessível. No entanto, não pude deixar de notar que, de vez em quando, sentia o olhar de Adrian sobre mim. Ele estava longe de ser discreto.
A princípio, pensei que era apenas paranoia. Talvez fosse um reflexo de desconfiança seu sentimento de estranheza em relação à antiga obsessão de Seraphyna. Mas, ao perceber que ele não parecia estar em busca de uma fuga imediata, comecei a me perguntar o que o havia deixado tão... intrigado.
Em algum momento, enquanto conversava com Clarye e outra jovem dama, notei Adrian se aproximando. Ele esperou educadamente até que eu terminasse minha frase, mas sua presença era impossível de ignorar. As outras damas, claramente temendo a fúria de Seraphyna por competir pela atenção do segundo príncipe, fizeram reverências e se afastaram para nos deixar a sós.
Suspirei mentalmente.
— Alteza
Cumprimentei novamente, desta vez com um sorriso contido.
— Espero que esteja desfrutando do baile.
— De fato. Está surpreendentemente agradável.
Ele fez uma pausa, olhando-me diretamente nos olhos.
— E você parece... diferente esta noite, Seraphyna.
Ah, então era realmente isso. Ele estava tentando entender o motivo de minha mudança de comportamento.
— Talvez o acidente tenha mudado minha perspectiva, Alteza. Uma pessoa às vezes precisa passar por situações difíceis para crescer.
Ele estreitou os olhos, como se estivesse tentando decifrar minhas palavras. Certamente aquilo era algo que a verdadeira Seraphyna nunca diria em sã consciência.
— Entendo. No entanto, é incomum vê-la tão... reservada e amigável . Especialmente em um baile. Pensei que estaria liderando a pista de dança e a conversa com as pessoas mais importantes, como de costume.
Forcei um sorriso.
Ele apenas está querendo dizer que esperava que eu me arrastase aos seus pés e tentasse o impressionar assim que chegasse.
— Nem sempre precisamos ser o centro das atenções, Alteza. Às vezes, é mais proveitoso observar.
Minha resposta foi deliberadamente vaga, mas educada. Ele pareceu momentaneamente desconcertado, mas não desistiu. Ele continuou fazendo perguntas educadas, tentando explorar o tamanho da minha paciência. Embora fosse desconfortável, mantive a compostura, respondendo de forma cordial, mas sem oferecer abertura para uma conversa mais pessoal.
Finalmente, quando uma nova música começou, aproveitei a deixa.
— Se me permite, Alteza...
—Infelizmente não estou ne sentindo disposto para uma dança...
—Creio que sua alteza deva ter se equivocado, não ia convida-lo a uma dança, apenas ia dizer que há um cavalheiro que prometeu me conduzir nesta dança. Não quero deixá-lo esperando.
Fiz uma reverência
— Espero que aproveite o restante da noite.
Antes que ele pudesse responder, afastei-me em direção à pista de dança. Não havia cavalheiro algum esperando por mim, nem sequer havia homem algum ali que tinha coragem de chegar perto de mim, mas isso não importava. O Segundo príncipe podia ser encantador na visão das outras pessoas, mas eu sabia a verdade, que ele estava apenas tentando manter distância de mim, da antiga Seraphyna, e entender o motivo da mudança em minha atitude. Ele não confiava em mim, e com razão. Era um jogo perigoso, mas um que eu estava disposta a jogar.
Enquanto a noite avançava, fiquei satisfeita ao perceber que o baile havia sido um sucesso. Consegui interagir com algumas pessoas influentes sem cometer gafes, e o segundo príncipe , embora tenha tentado se aproximar, não havia sido capaz de prender minha atenção por muito tempo. No entanto, um pensamento persistia em minha mente. Enquanto observava os últimos convidados se retirarem, imaginei o que Kaellius teria pensado se estivesse lá. Será que ele teria notado minha mudança? Será que ele teria se importado? Era frustrante não ter respostas, mas eu sabia que precisaria ser paciente. Meu caminho até o príncipe herdeiro seria longo e árduo. Por ora, estava satisfeita com o progresso. Mantive o segundo príncipe afastado, e o resto da sociedade começava a notar a "nova" Seraphyna. Eu tinha plantado as sementes, e agora restava cultivá-las com cuidado. Não seria fácil, mas, como a filha de um grão-duque e uma mulher que sabia exatamente o que queria, estava disposta a fazer o que fosse necessário.
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A vilã que ganhou o coração do império
FantasyApós sua morte trágica, Hannya reencarna no corpo de Seraphyna de Lys-Montclair, a vilã de uma novel que estava lendo antes de morrer e a filha do Grão-Duque mais poderoso do Império. Seraphyna, na história original, era obcecada pelo segundo prínci...