A conversa no café da manhã havia sido mais proveitosa do que eu poderia imaginar. Não só consegui convencer meu "pai" a me apoiar no retorno à sociedade, mas também percebi que seu apoio era uma das minhas maiores armas nesse mundo. Seu amor incondicional por sua filha Seraphyna era algo muito valioso, por mais que a novel mostrasse a afeição do grão-Duque pela filha, presenciar e sentir seu apoio é algo completamente surreal. Assim que cheguei ao quarto, retirei o vestido com a ajuda das criadas e optei por algo mais confortável, estava começandoa me acostumar com isso, mesmo que ainda me incomodasse um pouco, mas deixando isso de lado, eu precisava começar a traçar meus próximos passos imediatamente. Havia tanto a fazer e tão pouco tempo. Minha primeira tarefa era contatar a senhorita Clarye Evenshire, aquela jovem dama parecia bem leal, mas eu precisava ter certeza disso, ja que se fosse verdadeira sua admiração por Seraphyna, isso seria um recurso inestimável, uma aliança verdadeira com ela poderia ser o começo para abrir várias portas.
Puxei papel e pena da escrivaninha, respirei fundo e comecei a escrever. Sempre me surpreendia com a memória física do corpo de Seraphyna, eu jamais aprenderia a escrever com uma coisa dessas.
"Para a senhorita Clarye Evenshire"
Espero que esta carta a encontre bem e com boa saúde. Suas gentis palavras me tocaram profundamente, mais do que posso expressar nesta simples carta. Tenho refletido muito sobre meus comportamentos recentes e percebo que tenho sido negligente com aqueles que me oferecem sua amizade sincera. Suas preocupações e orações durante minha recuperação me deram força e me encheram de coragem.
Gostaria muito de convidá-la para uma visita ao palácio do grão-Ducado. Nada me faria mais feliz do que passar um tempo com alguém tão gentil e leal. Espero que possamos nos encontrar nesta tarde para conversarmos e tomarmos chá juntas."Com sincera gratidão,
Seraphyna Lys-Montclair"Relendo o que escrevi, senti que o tom era adequado: genuíno, mas com um toque de humildade e arrependimento. Era importante parecer sincera, mesmo que estivesse começando a manipular as peças do tabuleiro. Suspirei pensando o quão errado seria manipular as pessoas, mas que isso era necessário. Dobrando cuidadosamente a carta, selei-a com o brasão da famíia Lys-Montclair e pedi a uma criada que a entregasse à mansão Evenshire o mais rápido possível.
Enquanto esperava pela resposta, decidi ocupar meu tempo de forma produtiva. Caminhei até o "quarto secreto". Também conhecido como o armário de Seraphyna. E comecei a avaliar os vestidos, joias e outros itens que poderiam ser úteis. Se minha meta era causar uma boa impressão, precisaria estar impecável em cada evento social que participasse, mas sem parecer extravagante demais. Entretanto, algo ainda me incomodava. Para reescrever meu destino, eu não podia depender apenas de alianças sociais. Precisava entender mais sobre o que estava acontecendo nos bastidores. Se a novel que conhecia seguisse como eu lembrava, Kaellius logo estaria envolvido em intrigas com os nobres opositores ao primeiro príncipe, nobres que apoiariam a sucessão do segundo príncipe ao trono, e com os rumores de Seraphyna apoiando fielmente o segundo príncipe, Kaellius provavelmente me enxergava como uma grande e desprezível ameaça.
— Se ao menos eu pudesse ganhar sua confiança
Murmurei para mim mesma, fazendo biquinho frustrada.
—Se bem que foi a Seraphyna que iniciou essa oposição toda.
Passo a mão na nuca envergonhada por estar no corpo da pessoa que iniciou tudo isso.
—Mesmo com sua péssima reputação, Seraphyna tem o total apoio do Grão-Duque Lennox, o homem mais rico e poderoso do Império. É claro que a balança ia pesar mais pro lado onde ela fosse...
A resposta de Clarye chegou no início da tarde. Suas palavras eram cheias de entusiasmo e alegria, dizendo que estaria no palácio ainda naquela tarde. Sorri. Isso era um pequeno passo, mas um que eu não podia subestimar. Enquanto me preparava para encontrá-la, minha mente fervilhava com planos. Clarye chegou ao palácio com um sorriso caloroso e um olhar curioso. Assim que ela entrou no salão de chá onde eu a aguardava, levantei-me e a cumprimentei com um abraço inesperado esquecendo por um momento das etiquetas rigorosas deste mundo. Ela ficou claramente surpresa, e um pouco tensa, devia pensar que eu faria algo com ela. Mas logo ela recuperou sua compostura.
— senhorita Clarye, é tão bom vê-la! — exclamei com entusiasmo.
— É-É u-uma honra, Lady Seraphyna. E-Estou feliz por vê-la recuperada — respondeu ela, ainda tensa. O encontro fluiu melhor do que eu esperava. Fui cuidadosa em escolher minhas palavras, ouvindo-a com atenção e elogiando suas opiniões para que ela fosse relaxando. O que parecia estar dando certo ja que ela estava começando a relaxar cada vez mais na minhapresença, e, em determinado momento, soltou uma risada genuína ao compartilhar um pensamento sobre quão nervosa estava para este encontro.
— Clarye, você tem uma perspectiva tão única e encantadora sobre as coisas. Sabe, acredito que poderia me ensinar muito sobre como lidar com os outros — comentei casualmente, levando a xícara de chá até os labios e observando sua reação.
Ela corou, balançando a cabeça timidamente.
— Não sei se sou qualificada para tanto, mas ficaria feliz em ajudá-la no que precisar.
A garota loira de longos cabelos ondulados e olhos da cor rosa serenos e brilhantes, mais parecia uma pequena e gentil boneca, ela era muito linda para ser apenas uma figurante, mesmo que fosse apenas filha de um "simples e humilde" Barão. Sorri. Clarye estava começando a se ver como uma aliada, talvez até como uma amiga. E, enquanto isso, eu já tinha planos para os próximos passos. Ainda havia muito a fazer: conquistar a confiança de Kaellius, lidar com os nobres hostis e talvez até descobrir mais segredos que poderiam me dar vantagens. Mas, naquele momento, com o brilho da tarde entrando pelas janelas e Clarye sorrindo à minha frente, eu senti que havia dado o primeiro passo sólido em direção ao meu novo futuro. Afinal, para reformar uma vilã, é preciso começar pelas bases. E eu estava pronta para erguer minha nova história, tijolo por tijolo.
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A vilã que ganhou o coração do império
FantasiaApós sua morte trágica, Hannya reencarna no corpo de Seraphyna de Lys-Montclair, a vilã de uma novel que estava lendo antes de morrer e a filha do Grão-Duque mais poderoso do Império. Seraphyna, na história original, era obcecada pelo segundo prínci...