Os dias se arrastavam em um turbilhão de vozes, choros e de confusão, sendo este último de minha parte. Eu estava presa em um estado de semi-consciência, como se estivesse em um sono profundo, mas com a clareza de perceber cada sensação e som ao meu redor, conseguia sentir o toque suave dos lençóis e o cheiro perfumado peculiar de flores , mas eu ainda não conseguia abrir os olhos, me mexer ou falar. A única coisa que me restava era a capacidade de ouvir e a limitante possibilidade de franzir o cenho. Todos os dias eu ouvia as voz de pessoas que vinham ao meu quarto, principalmente a voz daquele que dizia ser meu pai dizendo coisas como "Saphyra, minha querida filha, você precisa se recuperar logo, papai está morrendo de saudades do sorriso da minha menina”, ele dizia quase sempre em uma voz melodramática carregada de amor e preocupação em excesso. "Seraphyna ou senhorita Seraphyna" o nome na qual todos insistiam em me chamar, este definitivamente não era o meu nome, nos primeiros dias o mesmo ecoava em minha mente, mas o significado se perdia nas brumas da confusão. Muitas vezes cheguei a me perguntar, quem haveria de ser essa tal de Seraphyna? Eu lutava para lembrar, mas as memórias escapavam como água entre os meus dedos. Com o passar dos primeiros dias, a rotina se repetia obrigando-me a me acostumar com a mesma. Pessoas entravam e saíam do quarto onde eu repolsava, algumas eu passei a identificar com o passar do tempo, empregadas, sacerdotes, meu "pai", por mais que eu conseguisse identificar, a situação toda era muito desconexa para mim, e quando menos percebi já havia ficado comum ouvir conversas entre as pessoas na qual eu identificava serem empregadas, onde o assunto era a 'senhorita Seraphyna '
"Ela não vai acordar tão cedo"
"Ouvi dizer que a senhorita Seraphyna até mesmo pode não acordar”
"Talvez seja melhor que nem acorde"
"A senhorita Seraphyna deve estar pagando por tudo o que fez de maldoso até agora"
De repente as diversas menções ao nome "Seraphyna" haviam começado a fazer meu coração acelerar. Seraphyna. Cada vez mais ao passar dos dias a ficha ia caindo, e aos poucos as diversas perguntas foram se apaziguando, a ideia de que poderia estar vivendo a vida de outra pessoa começou a se formar. Mas como? O que tinha acontecido comigo? estas ainda eram perguntas remanescentes em minha cabeça.Pude ouvir claramente a porta se abrindo e algumas pessoas adentrando o quarto quebrando o silêncio que permanecia no mesmo, Sacerdotes. Deduzi. assim como rotineiramente, os sacerdotes presentes se posicionaram ao redor de minha cama, a sensação já conhecida de calor e conforto envolveram meu corpo como se fosse um abraço suave de uma brisa de verão. Em meio ao silêncio, uma pequena e fraca quantidade de luz atravessava minhas pálpebras de forma que cada vez mais foi aumentando sua intensidade, o breu parecia estar se dissipando aos poucos, e então finalmente, após o que pareceram eternidades, com um último e leve esforço como se estivesse acabado de acordar de um sono profundo, consegui abrir os olhos lentamente, a luz do dia invadiu minha visão a deixando meio desfocada pela surpresa repentina de luz, minha visão focava aos poucos nas pessoas que estavam no quarto e ao redor da cama, haviam pelo menos sete pessoas diferentes com túnicas iguais da cor brancas com pequenos detalhes dourados e uma faixa em suas cinturas, duas mulheres jovens com o que parecia cosplay de empregada de novel historico, e um homem de cabelos castanhos de comprimento médio, atingindo até o pescoço, com um estilo liso, porém apesar de penteado para trás de forma elegante, seu cabelo estava desgrenhado como se tivesse acabado de correr uma maratona, abaixo de seus olhos ambar de formato amendoados haviam um acúmulo significativo de olheiras, como se não dormisse a anos, mesmo com aquele terno bagunçado, mal passado e a aparência abatida podia-se perceber que aquele homem tinha um porte atlético impressionante, caracterizado por músculos bem definidos, uma postura confiante, seus ombros largos e fortes, braços tonificados, cintura estreita, pernas robustas e firmes, ele praticamente era a imagem refletida de anos de um treinamento intenso em algum esporte físico, ele aparentava ter no máximo 30 anos, sua presença era tão magnética que fiquei o encarando por alguns segundos antes de perceber que seus olhos antes sem vida e cansados agora estavam marejados, antes que pudesse falar qualquer coisa para aquele homem, o mesmo correu em minha direção me prendendo em um abraço apertado enquanto soluçava em meu pescoço, fiquei atônita sem saber o que estava acontecendo, era muita informação no mesmo lugar ao mesmo tempo, eu apenas reconhecia as vozes daquelas pessoas, mas o modo como se vestiam, seus rostos, aquele lugar, nada daquilo era familiar, aquele que chorava até soluçar ainda em um abraço apertado, aquela voz eu reconhecia como o meu "pai", o mais estranho de tudo era que aquilo não era totalmente estranho para mim, uma parte de mim reconhecia aquilo e outra parte não, engoli em seco sem saber o que fazer, havia conseguido acordar, mas e agora ?
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A vilã que ganhou o coração do império
FantasíaApós sua morte trágica, Hannya reencarna no corpo de Seraphyna de Lys-Montclair, a vilã de uma novel que estava lendo antes de morrer e a filha do Grão-Duque mais poderoso do Império. Seraphyna, na história original, era obcecada pelo segundo prínci...