Capítulo XXXIV

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Pensei em procurar Dorian na biblioteca, mas seria muito óbvio e, se ele estivesse ali, Harold já o teria encontrado. Subi as escadas em meio aos criados que ainda lutavam para tentar conter o fogo.

Se Dorian não estava no quarto, onde estaria?

E por que o tiro?

Me afastei e fui em direção aos quartos do andar de cima, onde Henry costumava dormir.

Meu coração acelerou com esse simples pensamento.

Corri escada acima, minha respiração pesada e o suor começava a brotar em minha pele.

Caminhei devagar pelo corredor, com a intenção de ir ao quarto de Henry, quando alguém segurou meus ombros e me empurrou contra a parede.

Não tive tempo para pensar ou me dar conta de algum tipo de dor quando fui puxada novamente e Henry me segurou contra ele, seu braço em volta do meu pescoço.

Demorei um longo segundo para piscar e conseguir focar a visão.

– Agora sim a reunião está completa. – A voz de Henry estava pesada, como se estivesse sufocada.

À minha frente, Dorian estava parado descalço, com uma pistola na mão.

– Sua noiva chegou, Dorian. – Henry disse devagar. – Você não arriscaria atirar, não é? Imagine a linda cena, não que você pudesse ver, mas você atirando nela seria muito poético.

– Deixe-a ir. – Dorian disse entre os dentes, a mandíbula trincada. – Todo o seu problema é comigo, não com ela.

– Isso não vai ser possível. Você não vai arriscar atirar e ninguém me deixaria ir embora. – Henry tossiu. – Ou vamos morrer todos aqui, reunidos como verdadeiros irmãos. Só faltou a prostituta da sua irmã.

Dorian tremia, eu não sabia se de raiva ou de outra coisa.

– Tudo bem. – Ele murmurou. – Se é isso que deseja, vamos morrer juntos. Só eu e você. Deixe-a ir.

– Não posso deixar isso acontecer, Dorian. – Henry tossiu novamente.

– Eu o deixarei ir embora. Pode ir para onde quiser quando sair daqui. Prometo. – Dorian deu um passo à frente, cauteloso. – Só a deixe ir embora, ficarei aqui com você.

Henry tossiu mais uma vez, como se começasse a ficar engasgado. Foi o suficiente para seu aperto se afrouxar. O empurrei para trás, contra a parede, o fazendo cambalear e corri em direção a Dorian.

Segurei seu braço para que ele soubesse que eu estava bem ali ao seu lado.

– O que vai fazer? Arriscar e atirar? Vai colocar a pistola nas mãos dela? Manchá-la de sangue? – Henry sorriu, mas havia certo desespero.

Ouvi Bob latir e passos se aproximando.

– Me mate. – Henry pediu encarando seu irmão, mesmo sabendo que Dorian não poderia ver o desespero em seu rosto. – Me mate, irmão.

Parte de mim lamentava por ele, antes de tudo ainda compartilhava o mesmo sangue de Dorian.

Harold finalmente apareceu, Bob ao seu alcance.

Dorian me abraçou pelos ombros e me apertou junto ao seu corpo.

Harold correu ao encontro de Henry e o puxou pela camisa. Ele parecia mais do que rendido, o rosto vermelho e a respiração pesada. Nosso amigo não teve dificuldades para rendê-lo.

– Precisamos sair daqui, Dorian. – Harold falou empurrando Henry. – O fogo se alastrou.

Segurei a mão de Dorian o guiando para fora o mais rápido que pude. O primeiro corredor de quartos já estava consumido pelas chamas e tivemos certa dificuldade para descer as escadas.

Quando finalmente chegamos à porta de saída da casa, o senhor Noah correu ao nosso encontro ajudando Harold.

– Vim assim que me alertaram da fumaça. – Ele explicou se virando para nós. – Vocês estão bem?

– Estamos, eu só... – Dorian tossiu se apoiando ainda mais em mim e entregou a pistola a Noah. – Preciso de um pouco de ar.

O ajudei até nos aproximarmos de Agnes.

Dorian estava mais exausto do que eu pensei, ele sentou-se no chão e começou a tossir. Não pude fazer outra coisa a não ser me abaixar ao seu lado.

– Hope.

– Estou aqui. – Murmurei segurando seu rosto. – Estou aqui, Dorian. O que você estava fazendo no andar de cima? – Perguntei.

Dava graças a Deus por aquilo, se ele estivesse no quarto só Deus sabe o que teria acontecido.

– Fui pegar isso. – Dorian tirou um relógio do bolso. – Era do meu pai. Ele queria que eu ficasse com isso, mas era orgulhoso demais para aceitar e pensei em ir lá pegar. Se não fosse isso...

– Eu sei. – O abracei enquanto beijava seu rosto.

Se ele não tivesse subido as escadas e ido para o quarto do senhor Anders... Engoli em seco.

Meu Deus! Obrigada. Obrigada por isso e por tanto!

– Está queimando tudo! – Ouvi William lamentar.

– Deixe tudo queimar. – Dorian murmurou. – O mais importante está aqui fora.

Dorian me puxou para si e beijou minha testa. Por um longo momento, fiquei ali com ele, encarando Anders Hall sendo consumida pelo fogo.

Foi a primeira vez que lamentei profundamente por aquele lugar.

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