Onde sempre quis estar

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O dia estava terminando, e o sol pintava o céu com tons de laranja e roxo. Rayssa e eu ficamos para trás enquanto Júlia e Felipe montavam um pequeno acampamento improvisado. Havia algo diferente no ar, uma tensão suave que não era desconfortável, mas carregada de coisas não ditas.

Sentamos lado a lado em uma pedra próxima ao riacho. O som da água corrente oferecia um fundo calmante, mas meu coração batia rápido, um contraste gritante com o ambiente tranquilo. Rayssa estava quieta, algo incomum para ela, mas eu podia sentir que ela estava processando algo. Assim como eu.

"Tá tudo bem?" ela perguntou de repente, quebrando o silêncio. Sua voz estava calma, mas eu senti a preocupação subjacente.

Eu hesitei. Era a pergunta que eu sempre evitava, a mesma que Júlia e Felipe já tinham feito várias vezes. Mas com Rayssa, parecia impossível mentir. "Eu... acho que sim," murmurei, mas minha voz vacilou.

Rayssa se virou, seus olhos encontrando os meus, e eu senti aquele mesmo calor familiar. "Isabela, você não precisa fingir pra mim. Eu sei que tem muita coisa acontecendo na sua cabeça. E eu tô aqui. Sempre estarei."

Essas palavras mexeram comigo de uma forma que eu não esperava. Senti meus olhos encherem de lágrimas, mas tentei segurar. Não queria parecer vulnerável, mesmo que Rayssa fosse a pessoa em quem eu mais confiava.

"Eu só..." Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. "Eu fico pensando em tudo que aconteceu... esses mundos, essas criaturas. Mas, mais do que isso... em você."

Ela arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa. "Em mim?"

Balancei a cabeça, tentando encontrar as palavras certas. "Sim. Em como você sempre tá lá. Em como você me protege, mesmo quando tudo parece desmoronar." Minha voz baixou. "E em como, mesmo no meio de todo esse caos, você é a única coisa que me faz sentir segura."

Rayssa não disse nada por um momento, mas o jeito que ela me olhava dizia muito. Então, ela estendeu a mão e tocou a minha. Foi um gesto simples, mas carregado de significado. "Isabela, você é muito importante pra mim. Mais do que eu consigo explicar."

Aquelas palavras fizeram meu coração disparar. Eu queria dizer algo, mas Rayssa continuou. "Eu também tenho pensado em você... em nós. E tem sido confuso, sabe? Porque o que eu sinto não é só amizade. Não tem sido assim há um tempo."

Eu fiquei em silêncio, absorvendo cada palavra. Rayssa estava confessando algo que eu mesma tinha medo de admitir. O peso de suas palavras era imenso, mas ao mesmo tempo, um alívio.

"Eu tenho medo," ela admitiu, sua voz mais baixa agora. "Medo de que tudo isso seja demais. De que você não sinta o mesmo."

Meu coração apertou. Como ela podia pensar isso? "Rayssa," eu disse, minha voz cheia de emoção, "você é a única coisa que tem me mantido firme. Eu sinto o mesmo. Sempre senti."

O silêncio que se seguiu foi confortável, mas cheio de sentimentos não ditos. Rayssa apertou minha mão um pouco mais forte, e por um momento, parecia que o mundo ao nosso redor desaparecia. Era só nós duas, finalmente entendendo o que estava entre nós.

"Você é incrível, Isabela," ela disse suavemente. "E eu quero enfrentar tudo isso com você, independente do que acontecer."

Eu sorri, sentindo uma paz que não sentia há muito tempo. "Juntas," eu disse, repetindo a palavra que parecia definir o que éramos.

Nesse momento, Júlia e Felipe voltaram, interrompendo a nossa bolha de intimidade. Mas, dessa vez, eu não me importei. Porque, mesmo com a presença deles, havia algo claro entre Rayssa e eu. Algo que ninguém mais poderia tirar.

Júlia olhou para nós duas e sorriu de forma maliciosa. "Finalmente, hein?" ela disse, rindo, enquanto Felipe tentava disfarçar o riso.

Rayssa e eu trocamos um olhar cúmplice, e pela primeira vez, eu não me importei em ser flagrada. Porque, no final, estávamos exatamente onde precisávamos estar.

Rota para o desconhecido - Rayssa LealOnde histórias criam vida. Descubra agora