Ecos do outro lado

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A primeira coisa que notei quando cruzamos a porta foi o silêncio. Não era o tipo de silêncio reconfortante de uma noite tranquila, mas um silêncio opressor, como se o mundo tivesse prendido a respiração. A paisagem ao nosso redor parecia ao mesmo tempo familiar e estranha. As árvores eram mais altas, os troncos retorcidos em formas impossíveis, e a luz do céu tinha um tom esverdeado que fazia tudo parecer etéreo.

Felipe foi o primeiro a quebrar o silêncio. "Isso não é normal. Estamos em algum tipo de... lugar alternativo?"

"Um mundo invertido, talvez?" Júlia sugeriu, tentando soar brincalhona, mas seu tom traía a tensão que todos sentíamos.

Rayssa se aproximou de mim, seu olhar preocupado. "Isabela, você está bem? Está muito quieta."

Eu apenas assenti, mas a verdade é que meu coração estava acelerado. Algo naquele lugar mexia com os meus nervos. Sentia um peso no peito, como se a atmosfera estivesse tentando me consumir. Eu não estava apenas com medo, eu estava aterrorizada.

E, ao perceber que minha mão estava trêmula, Rayssa entrelaçou seus dedos com os meus. Era uma sensação de calor e proteção em meio ao frio estranho do lugar. Sua presença era reconfortante, e eu não sabia se estava mais tranquila pelo toque ou ainda mais nervosa por precisar dele.

"Está tudo bem", eu menti, minha voz falhando enquanto tentava não demonstrar o quanto o medo estava me consumindo.

Rayssa apertou minha mão um pouco mais forte, como se me lembrasse de que não estava sozinha. O simples gesto me fez sentir uma faísca de coragem, mas logo o medo voltava, e o peso no ar parecia ficar ainda mais pesado.

De repente, ouvimos um som distante. Era como um sussurro, palavras indistintas sendo carregadas pelo vento. Todos nós ficamos imóveis, tentando identificar de onde vinha.

"Vocês ouviram isso?" Rayssa perguntou, olhando ao redor.

"Sim, mas não consigo entender o que é", respondi, sentindo um arrepio percorrer minha espinha.

O som foi ficando mais alto, mais próximo. Não era apenas um som; eram vozes, muitas vozes. Pareciam misturadas, sobrepostas, como se estivessem todas falando ao mesmo tempo.

"Precisamos nos mover", Rayssa disse, assumindo a liderança. "Ficar parados aqui não vai ajudar."

Eu queria seguir, mas minhas pernas pareciam estar presas ao chão, o medo me paralisando. Mas, ao olhar para Rayssa, senti um impulso de continuar. Ela estava tão firme, tão certa de tudo. Se ela estava comigo, talvez eu conseguisse superar o terror que tomava conta de mim.

Ela percebeu minha hesitação e, sem dizer nada, deu um leve puxão na minha mão, me guiando a seguir em frente. Eu não queria soltar o toque dela, como se aquele simples contato fosse o que me impedia de perder o controle.

Seguimos em frente, mas a cada passo, as vozes ficavam mais altas, mais insistentes. Até que, finalmente, paramos em uma clareira. No centro, havia uma pedra enorme, com inscrições que brilhavam em um azul pálido.

Eu me aproximei, os olhos fixos nas marcas. "Isso é uma linguagem antiga... mas não consigo entender."

Júlia olhou para Felipe. "Você trouxe seu caderno? Talvez possamos anotar isso."

Felipe assentiu e começou a rabiscar, mas antes que pudesse terminar, as vozes silenciaram de repente. O ar ficou mais frio, e um vento gélido passou por nós.

Foi então que vimos. Uma figura emergiu das sombras, alta e encapuzada, seus olhos brilhando como dois faróis brancos.

"Bem-vindos, viajantes", disse a figura, sua voz ecoando como se viesse de todos os lados. "Vocês foram escolhidos para atravessar a Rota. Mas cuidado, pois nem todos conseguem sair."

Meu coração disparou, e eu senti Rayssa se aproximar ainda mais de mim. "O que você quer dizer com isso?" ela perguntou, a voz firme.

A figura não respondeu diretamente. Em vez disso, apontou para a pedra. "Cada um de vocês carrega uma chave dentro de si. Apenas trabalhando juntos, poderão desvendar o mistério e encontrar a saída. Mas lembrem-se: o tempo aqui não é linear. E o desconhecido testa não apenas a coragem, mas também o coração."

Eu senti o peito apertar. Algo dentro de mim se agitava, como se o que ele dissesse fosse mais do que uma simples advertência. Olhei para Rayssa, buscando algum tipo de apoio, algum sinal de que ela sabia o que fazer. Ela percebeu o que eu sentia e apertou minha mão novamente, desta vez com mais firmeza.

"Vamos sair daqui juntos", ela disse, sua voz calma, mas determinada. "Eu prometo."

A figura desapareceu, e o silêncio retornou, pesado como antes. Mas agora, em meio ao medo e à incerteza, eu sabia que, com Rayssa ao meu lado, eu não enfrentaria aquele desconhecido sozinha.

Rota para o desconhecido - Rayssa LealOnde histórias criam vida. Descubra agora