Rota para o desconhecido - Rayssa Leal

Amor verdadeiro

O silêncio na cabana se tornara insuportável. O que antes era apenas uma sensação de estranheza se tornara uma realidade inegável: eu não estava mais em controle do meu próprio corpo.

A presença do monstro parecia envolver a cabana, uma força invisível que nos observava, nos vigiava. Rayssa estava ao meu lado, segurando minha mão com força, mas eu não conseguia fazer nada. Eu estava paralisada, com os olhos completamente brancos, sentindo como se uma outra presença controlasse meu corpo. Era como se eu fosse uma mera espectadora do que estava acontecendo.

Rayssa sussurrava palavras baixas, tentando me acordar, tentando me fazer voltar, mas a voz do monstro ecoava em minha mente, abafando tudo. "Aqui, você não tem poder, Isa. Aqui, tudo é meu."

Eu queria gritar, queria lutar, mas não conseguia. Minha visão estava turva, o mundo ao meu redor se distorcendo. Rayssa, no entanto, não parecia disposta a desistir. Ela estava tão determinada, tão desesperada, que isso só fazia o monstro rir, uma risada profunda e sombria que fazia o ar ao nosso redor gelar.

"Isa, eu sei que você está aí!" Rayssa falou, sua voz carregada de dor. Ela ainda segurava minha mão com força, seus dedos entrelaçados com os meus, como se isso fosse o suficiente para me trazer de volta.

Mas, o que mais me quebrava era o modo como ela me olhava. Era como se ela visse um pedaço de si mesma sendo levado embora. Isso a estava consumindo. Eu podia sentir a angústia dela, a tristeza, e, acima de tudo, o medo de me perder para sempre.

Felipe e Julia estavam na porta, observando a cena, sem saber o que fazer. Eles tentaram ajudar, mas a energia da criatura era forte demais. O monstro se alimentava do medo, e isso o fazia mais forte a cada segundo.

"Não podemos fazer nada, Ray," Felipe disse, sua voz tensa. "O que está acontecendo com ela... não é normal."

"Eu vou salvar ela," Rayssa disse, sem vacilar. "Eu prometo que vou."

O monstro, sentindo a resistência de Rayssa, se aproximou lentamente, sua presença quase palpável, uma sombra que se estendia sobre nós. Ele parou à nossa frente, observando Rayssa com um olhar que parecia ver além do físico.

"Ela já é minha," a criatura sussurrou, sua voz ressoando nas paredes da cabana. "Nada pode impedi-la agora."

Rayssa, no entanto, não recuou. Ela apertou ainda mais minha mão, seus olhos fixos nos meus, mesmo que eu não pudesse vê-la de volta.

"Eu sou o seu amor verdadeiro, Isa. Eu vou te tirar disso," Rayssa murmurou, quase para si mesma, mas eu sabia que ela estava tentando me alcançar de algum jeito.

Eu sentia as palavras dela, mas não conseguia responder. Tudo parecia um borrão, uma sensação de estar em dois lugares ao mesmo tempo. O monstro estava me puxando para ele, tentando me afastar de Rayssa, tentando me levar para um lugar onde o amor não existia. Mas, o toque de Rayssa me mantinha ali, com ela, me dando uma esperança que eu não sabia que ainda tinha.

E foi nesse momento que percebi: o monstro estava certo em uma coisa. Esse jogo de sentimentos, esse medo, esse amor, era o que realmente o fazia forte. Mas, eu também sabia que o amor de Rayssa era maior do que qualquer medo. Eu não sabia como, mas ela me faria voltar. Eu tinha que acreditar nisso.

O monstro observava com um sorriso vitorioso, sua presença pesada, mas Rayssa não parecia disposta a desistir. Ela continuava a me segurar com força, os olhos fixos nos meus, como se estivesse buscando um sinal de vida, algo que me trazesse de volta. Eu podia sentir a tensão no ar, o desespero em suas palavras, mas a criatura não deixava de rir baixinho, como se soubesse o que se passava na mente de Rayssa.

"Você pode segurar a mão dela, pode gritar o quanto quiser, mas no fim, ela vai ser minha," a criatura disse com uma voz gelada, sua risada reverberando por toda a cabana.

Rayssa parecia ignorar as palavras do monstro, seus olhos fixos nos meus, buscando qualquer indício de que eu ainda estava lá, ainda consciente de alguma forma. Ela apertou a minha mão com mais força, como se tentasse me puxar de volta à realidade. Eu podia sentir seu calor, sua preocupação, seu medo... e acima de tudo, seu amor.

Foi quando, de repente, algo no ar mudou. Rayssa parecia perceber que não havia mais tempo. Ela sabia que, para me salvar, teria que fazer algo mais. Algo mais profundo. Algo que só o amor verdadeiro poderia oferecer.

"Isa... eu sei que você está aí," ela sussurrou, a voz quebrada, mas cheia de fé. "Eu te amo, e eu vou te tirar daqui. Não importa o que aconteça, eu vou te salvar. Porque o meu amor por você... é o que nos traz de volta."

Eu queria responder, queria gritar, mas minha voz estava silenciada pela força da criatura. A única coisa que restava em mim era o calor das palavras de Rayssa, aquele calor que me fazia sentir viva, mesmo que estivesse à mercê do monstro.

Foi quando Rayssa, com o coração pesado, sem hesitar, se inclinou para mim. Ela parecia saber o que precisava ser feito, o que o monstro não podia compreender. E antes que qualquer coisa pudesse acontecer, ela me beijou.

O beijo foi suave, mas carregado de toda a intensidade do nosso amor. O mundo ao nosso redor parecia desaparecer, e tudo o que restava era aquele momento entre nós. O toque de seus lábios foi o que quebrou o feitiço, o que fez com que, finalmente, a escuridão que me envolvia começasse a se dissipar.

O monstro gritou, como se sentisse o poder do gesto, mas nada poderia impedir o que estava acontecendo. As sombras que me envolviam começaram a se dissipar, e eu comecei a voltar para a realidade, o peso de minha alma sendo suavemente libertado.

Quando finalmente abri os olhos, Rayssa estava ali, sua testa colada à minha, lágrimas brilhando em seus olhos.

"Você... você voltou," ela murmurou, um suspiro de alívio escapando de seus lábios.

Eu só pude sorrir, um sorriso pequeno, mas cheio de gratidão, enquanto minha mão buscava o toque de Rayssa. A criatura tinha sido derrotada, mas o que realmente a havia derrotado foi o poder do nosso amor. E agora, mais do que nunca, eu sabia que nada poderia nos separar.
FIM.