O dia seguinte

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O sol finalmente apareceu, tímido, por entre as nuvens, mas ainda assim, parecia ser uma luz distante, uma presença acolhedora que eu mal podia tocar. Eu estava na casa de Rayssa, ainda me recuperando da noite que parecia não ter fim. Meu corpo estava cansado, e minha mente ainda estava nublada pela ansiedade e pela dor que eu mal podia controlar. Mas, pelo menos, o pânico havia diminuído um pouco, e isso já era um pequeno alívio.

Eu estava deitada no sofá da sala, enrolada em uma coberta, tentando me recompor. Rayssa estava ao meu lado, sempre ao alcance, me oferecendo um apoio silencioso, mas poderoso. Ela não falava muito, mas sua presença era tudo o que eu precisava. Ela estava lá, ao meu lado, como uma âncora que me impedia de me perder ainda mais.

Arthur, o irmão mais novo de Rayssa, estava brincando na sala de estar, mas de vez em quando ele lançava olhares curiosos em nossa direção. Lillian, a mãe de Rayssa, entrou na sala com um copo de água e sentou-se ao meu lado, fazendo questão de me olhar com um sorriso suave, mas com um toque de preocupação.

"Como você está se sentindo, querida?" Lillian perguntou, sua voz suave, mas cheia de empatia. "Eu sei que não é fácil, mas quero que saiba que você está em um lugar seguro."

Eu queria agradecer, queria dizer algo, mas as palavras estavam travadas. Eu me sentia fraca, como se tivesse sido sugada para um lugar escuro e profundo, de onde ainda não conseguia sair. Mas a presença de Rayssa ao meu lado, sua mão entrelaçada na minha, fazia eu me sentir um pouco mais ancorada. Eu não estava sozinha.

"Eu... ainda não sei..." Minha voz saiu baixa, quase imperceptível, enquanto eu olhava para as mãos entrelaçadas com a dela. "Ainda está difícil, Rayssa. Ainda sinto o peso dentro de mim."

Rayssa apertou minha mão com mais força, como se estivesse me dizendo, sem palavras, que não iria me deixar cair novamente. Eu sabia que ela estava tentando ser forte por nós duas, e isso me deixava ainda mais vulnerável, como se eu estivesse colocando toda a minha dor nas costas dela. Mas, ao mesmo tempo, me dava a certeza de que não estava sozinha.

Lillian levantou-se novamente e foi até a cozinha, mas antes de sair de vista, ela falou com uma calma que quase me fez relaxar mais um pouco. "Se precisar de algo, é só chamar. Vou preparar um chá de camomila para você."

Eu não sabia se o chá faria alguma diferença, mas a oferta de Lillian me deu um pouco de conforto. A mãe de Rayssa parecia saber exatamente o que fazer, como cuidar sem pressionar, como acalmar sem sufocar. Eu sentia que poderia confiar nela.

Arthur, ainda brincando com seus brinquedos na sala, se aproximou de nós e olhou para minha mão entrelaçada com a de Rayssa. Ele parecia curioso, mas também preocupado, e isso me fez sorrir de leve, apesar da situação. O pequeno não entendia o que estava acontecendo, mas eu podia ver que ele sentia a tensão no ar.

"Você está bem, Lanna?" Arthur perguntou, com um olhar inocente. "Você e Rayssa estão tristes."

Eu respirei fundo, tentando disfarçar o quanto a pergunta dele me tocou. Ele não sabia, mas suas palavras me fizeram perceber que as coisas ainda estavam em um ponto muito frágil. Eu ainda estava no limite, tentando lidar com tudo o que acontecia ao meu redor, e a inocência de Arthur fez meu coração apertar. Eu não queria que ele visse isso, que ele soubesse o quanto eu estava quebrada por dentro.

"Eu estou... tentando ficar bem, Arthur." Respondi com um sorriso forçado, tentando suavizar a verdade. "Só preciso de um pouco de tempo."

Rayssa observava tudo em silêncio, como se estivesse absorvendo cada palavra. Ela sabia o quanto eu estava me esforçando para ficar bem, mas também sabia que o processo de cura não seria rápido. A ansiedade, a pressão, tudo isso ainda me sufocava, e eu não podia simplesmente afastá-la com um sorriso.

O dia seguiu lentamente, com Rayssa, Lillian e Arthur me fazendo companhia, enquanto eu lutava contra a dor que ainda me fazia sentir como se estivesse flutuando em um mar de incertezas. O chá de camomila chegou, mas não fez muito efeito. Eu não conseguia me concentrar em nada por muito tempo. Tudo parecia embaçado.

Por volta da tarde, o telefone de Rayssa tocou, quebrando o silêncio que se instalara na casa. Ela foi até a cozinha para atender, e eu fiquei ali, sozinha por um momento. Os minutos passaram lentamente, e meu olhar se perdeu em qualquer coisa que estivesse à minha frente, tentando desviar da dor.

Quando Rayssa voltou, seu rosto estava diferente. Eu podia ver a tensão em seus olhos. Ela se aproximou de mim e se sentou no sofá, respirando fundo antes de falar.

"Lanna, tem algo que eu preciso te contar..." A voz dela estava mais baixa, carregada de uma preocupação silenciosa. "Eu sei que não é o melhor momento, mas a situação com Pedro e Júlia... está piorando. As coisas que estão dizendo sobre você... sobre nós... estão tomando uma proporção que eu não esperava."

Eu sabia o que ela queria dizer, mas não queria ouvir. Não queria lidar com aquilo agora. Já era o suficiente tentar controlar minha própria mente e o que sentia, sem ter que me preocupar com fofocas e julgamentos alheios.

"Rayssa..." Eu falei, tentando afastar o assunto. "Eu não consigo pensar nisso agora. Não quero saber sobre isso. Eu só quero ficar aqui, com você, e tentar ficar bem."

Ela me olhou com um misto de tristeza e compreensão, e eu sabia que ela também estava exausta. As coisas não estavam fáceis para nenhuma de nós. A ansiedade que me consumia estava afetando não só a mim, mas também a ela. Eu podia ver no rosto de Rayssa a luta interna que ela estava travando. Ela queria me proteger, mas também precisava de apoio. Ela estava me dando tudo o que tinha, e eu me sentia mal por não conseguir retribuir.

"Eu sei, Lanna. Eu sei." Rayssa respondeu, sua voz suave. Ela pegou minha mão novamente e apertou com força. "Mas nós vamos passar por isso. Eu não vou te deixar sozinha, tá? Nunca."

Eu queria acreditar nas palavras dela. Eu queria que tudo fosse mais simples. Mas, por enquanto, tudo o que eu conseguia fazer era respirar, sentir o toque de Rayssa e esperar que o tempo me ajudasse a encontrar a paz novamente.

O dia terminou sem que eu tivesse encontrado respostas, mas com uma coisa eu tinha certeza: Rayssa estava ali. E, por mais que as coisas parecessem difíceis, não importava o que o futuro nos reservava. Eu sabia que, com ela ao meu lado, eu não estava sozinha.

E isso, por enquanto, era o suficiente.

A briga entre corações- Rayssa LealOnde histórias criam vida. Descubra agora