O dia seguinte amanheceu com uma calmaria que parecia finalmente aliviar um pouco a pressão que se formava em meu peito. Mesmo com a mente ainda turva pela ansiedade e as lembranças da noite anterior, havia algo de reconfortante em estar na casa de Rayssa. A presença dela, silenciosa e constante, me ajudava a lidar com tudo. Porém, não demorou muito para que a energia da casa mudasse com a presença de Arthur.
Ele apareceu logo pela manhã, correndo pela sala, com aquele sorriso bobo que só as crianças pequenas conseguem carregar. Sua energia era quase contagiante, como se ele fosse o único ali a não ter as sombras da preocupação em seu olhar. Ele se aproximou de mim, como de costume, fazendo algumas perguntas inocentes sobre como eu estava. Era difícil não sorrir para ele, com sua maneira fofa de se expressar, mas ao mesmo tempo, eu sentia um aperto no coração por ver o quanto ele estava tentando entender algo que ainda era complexo demais para ele.
"Lanna, você tá bem? A Rayssa tem te ajudado, né?" Arthur perguntou, com os olhos grandes, como se me analisasse. Ele se sentou ao meu lado no sofá, com as pernas balançando, claramente inquieto. "Eu vi ela segurando sua mão ontem. Isso quer dizer que vocês estão namorando?"
Eu engoli em seco, tentando processar a pergunta do jeito mais natural possível, mas minha mente parecia não conseguir encontrar uma resposta. Arthur parecia tão confuso, mas ao mesmo tempo tão sério em sua curiosidade, que não pude deixar de sorrir levemente, apesar de toda a situação.
"Não exatamente, Arthur. A gente... está só se ajudando por enquanto," respondi, tentando dar uma explicação simples. Mas, em parte, eu me perguntava se aquilo era realmente verdade. Eu sabia que Rayssa estava me ajudando a superar a ansiedade, mas ao mesmo tempo, era inegável que o que sentíamos uma pela outra estava se tornando algo mais profundo, mais intenso. Algo que eu não sabia se conseguiria definir com palavras.
Arthur franziu o cenho por um momento, como se tentasse digerir minha resposta. Mas logo seu semblante se iluminou, e ele pegou minha mão com um sorriso travesso.
"Ah! Então você e a Rayssa gostam um do outro, né? Eu vi ela tocando em você, igual a quando a gente gosta de alguém. Tipo quando eu gosto de uma amiga e ela me dá a mão. Isso é igual, né?" Arthur falou, com uma lógica tão inocente e pura que me fez dar uma risada baixinha.
"Sim, Arthur, é isso mesmo," respondi, ainda sorrindo, tentando não fazer nada parecer mais complicado do que realmente era.
No entanto, o que mais me tocava era a forma como Arthur parecia estar tentando entender o que estava acontecendo entre mim e Rayssa. Ele observava os toques de Rayssa com uma atenção quase exagerada, como se tentasse entender como aquilo funcionava. Não era algo que ele fazia com malícia ou interesse romântico, mas com uma curiosidade genuína, de quem ainda vê o mundo com os olhos de uma criança. Ele queria ajudar, mesmo sem saber exatamente como.
Enquanto Rayssa se afastava por um momento para falar com Lillian na cozinha, Arthur, ainda com seu jeito puro, começou a imitar a irmã de maneira inocente. Ele se aproximou de mim e colocou a mão em cima da minha, como se estivesse tentando praticar um gesto que ele já vira Rayssa fazer. Era claro que ele estava apenas imitando, mas o gesto, com sua ingenuidade, fez meu coração apertar de uma forma estranha.
"Eu só quero ajudar você, Lanna," ele disse, com um sorriso tímido. "Eu vi a Rayssa fazendo isso, então acho que, se eu fizer também, vai ficar tudo bem."
Eu olhei para Arthur, sem saber como reagir. Era um gesto tão simples, tão puro, mas ao mesmo tempo, havia algo em sua atitude que me tocou profundamente. Ele queria que eu me sentisse melhor. Ele queria me ajudar, mesmo que fosse da forma mais simples possível. E aquilo, de certa forma, fez o peso no meu peito diminuir um pouco.
"Obrigada, Arthur," eu disse, tentando dar um sorriso. "Você realmente sabe como me fazer sentir melhor."
Mas Arthur não parou por aí. Ele parecia estar totalmente imerso na ideia de imitar Rayssa, como se fosse uma missão pessoal dele me ajudar a ficar bem. Ele repetia os gestos que vira Rayssa fazer, colocando a mão em cima da minha, ou tocando suavemente o meu braço, como se fosse um pequeno carinho de apoio.
"Eu tô te ajudando, né?" Arthur perguntou, sua voz cheia de confiança. "Igual a Rayssa. Eu quero que você se sinta bem!"
Eu quase desmoronei ali, de tanta ternura. Arthur estava tão disposto a me fazer sentir melhor, e, em certo sentido, sua ingenuidade estava me proporcionando uma sensação de segurança que eu não sabia que precisava. Ele não via as coisas complicadas e as tensões que eu carregava. Para ele, era tudo simples. Eu só precisava de carinho, e ele estava disposto a me dar isso da forma mais pura possível.
Rayssa voltou nesse momento, observando a cena com um sorriso suave nos lábios. Ela se aproximou de nós, colocando a mão sobre a cabeça de Arthur, bagunçando seus cabelos com carinho.
"Arthur, você está sendo um bom amigo, viu?" Rayssa disse, sua voz cheia de ternura. "Mas acho que Lanna já está mais calma agora. Vamos deixar ela descansar um pouco, ok?"
Arthur assentiu com um sorriso brilhante e saiu correndo para brincar, como se nada tivesse acontecido. Rayssa se sentou ao meu lado, com um olhar carinhoso, e pegou minha mão mais uma vez.
"Ele realmente é algo, não é?" Rayssa disse, com uma risada suave. "Ele só quer ver você bem, Lanna."
Eu olhei para Rayssa, ainda sentindo o calor da mão dela na minha. De alguma forma, os pequenos gestos de carinho de Arthur e Rayssa estavam me ajudando a entender que, mesmo nos momentos mais difíceis, ainda havia espaço para amor e apoio. E, talvez, o que eu mais precisava naquele momento era entender que estava cercada de pessoas que se importavam, ainda que de formas diferentes.
O resto do dia passou devagar, mas com uma leveza maior. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas sabia que, com Rayssa ao meu lado e a ingenuidade de Arthur para me lembrar do que era realmente importante, eu conseguiria enfrentar tudo.
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A briga entre corações- Rayssa Leal
FanfictionEu me mudei para Imperatriz, uma cidade que, ao que parecia, não tinha nada de diferente das outras. A princípio, o colégio parecia grande demais para uma garota como eu, que ainda tentava se adaptar a tudo. Mas o que realmente me pegou de surpresa...