Parte 1

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Nova Iorque, 31 de Dezembro de 2014


Chego em casa, tranco a porta. Jogo minhas chaves em cima da cômoda, junto ao meu celular. Retiro meu sobretudo surrado e o penduro na guarda de minha poltrona.


Apenas a luz da janela iluminava a pequena sala de estar. Sem TVs, somente o barulho do caos urbano, o qual relaxava meus ouvidos e me proporcionava a sensação reconfortante de que todos estavam afundados na mesma merda. Afinal, somos todos mortais...


Respiro fundo. Expiro. Uma tosse me interrompe enquanto apoio minhas costas na poltrona. Tateio os bolsos de minha camisa e calça à procura de meu isqueiro.


Me levanto e caminho em direção à cozinha. "Nunca deixe a droga do isqueiro em casa David". Tateio a parede de azulejos em busca do interruptor.


A lâmpada acende por menos de cinco míseros segundos. "É melhor parar de fumar e pagar um curso de eletricista, com certeza não teria esse tipo de problema dentro de casa".


Olho para trás e fito meu toca-discos perto da porta de entrada do apartamento. "Preciso achar outro lugar para você". Caminho até a máquina, seleciono uma música. "Não é hora de algo muito agitado depois de um dia desses..."


Tateio os bolsos traseiros da calça e encontro meu isqueiro. "Estúpido".


Retorno à minha poltrona e pego o maço de cigarros em um dos bolsos do sobretudo.


Chuva. Nothing Else Matters. Água escorria pela janela e dentro das finas paredes da sala. O papel de parede florido contrastava com a fumaça, mofos e garrafas de cerveja espalhadas por toda sala.


A música para. "Poeira é uma praga".


Apago meu cigarro em um cinzeiro no braço da poltrona. Me levanto.


Tosse.


Chuto a máquina. A música volta.


Um barulho metálico; "Correntes, serras, garras...".


Fito a luz no rodapé da porta de entrada do apartamento.


Passos.


A chuva aumenta consideravelmente; "Ganchos, lâminas, martelos...".


Meus pés, submersos por água. Pego o isqueiro e tento acende-lo. A chama é alta, vermelha e começa a se direcionar para a direita; "Tridentes, adagas, lanças... Lanças!". Caminho para a direita. Olhos fechados.


Um grunhido animal.


Sinto a nicotina passar pelas minhas narinas.


Uma versão distinta de distorcida de Sad But True toca ao fundo.


Um Conto de TerrorOnde histórias criam vida. Descubra agora