3:33 am
Um zumbido toma conta de meus ouvidos e uma grande dor paira sobre meus pensamentos. Levanto minha face com dificuldade e me deparo com uma imagem assustadora. A luz, que anteriormente diminuía e aumentava sua intensidade de forma constante, era nada mais do que uma clareira, em que as copas das árvores que a circundavam, estavam em chamas, porém não podia-se ver muito alto devido o fogo, que aumentara no momento de nossa chegada. O piche que outrora estivera comigo no quarto do segundo andar, escorria pelos troncos das árvores incendiadas, deixando um rastro pelo chão da floresta. Ao centro da clareira podia-se ver algo parecido com um altar. Apequena construção era rude e disforme, mas algo parecia repousar sobre o punhado de pedras, uma cabeça humana, presa por uma faca de formato familiar. Um cheiro podre toma conta do ambiente. A chuva tenta incansavelmente apagar o fogo na copa das árvores, porém é ineficaz. Viro meu rosto para Jack, e o mesmo se encontra pálido, congelado, atônito. Não fazia ideia do que se passava na mente do meu primo. Levanto-me rapidamente e tento despertá-lo do transe que participava. Jack parece não esboçar reação alguma, só o via movimentando sua boca, mas nenhuma palavra saiba de seus lábios. Até que algo sai da boca trêmula de Jack e me chama atenção.
- Je... Je... Jeff... Jeff... - dizia ele esticando seu braço trêmulo em direção ao altar rústico. Podia ver o sangue escorrendo por dentre os dedos de meu primo, lavados pela chuva. O que via era horrível, não podia imaginar que um dia chegaria a presenciar algo como aquilo que vivia naquele momento. Tento, então, identificar o rosto que repousava no altar, na esperança de que Jack estivesse enganado e que aquilo fosse uma peça pregada por seus olhos turvos pela chuva. Ao dar um passo logo mais à frente, pude identificar o rosto jovem de meu primo mais novo preso pela faca indígena que tinha encontrado anteriormente na gaveta do criado mudo nos acontecimentos da casa principal. Ao perceber tal coisa, meu sangue congela, meu corpo paralisa e minha respiração é pesada. Podia então compreender o sentimento que imobilizou Jack, ao ver do que se tratava a cena.
O fogo diminui sua intensidade.
Ao olhar mais à cima, na copa das árvores que rodeavam a clareira, vi algo tenebroso: estandartes de madeira ligavam as árvores umas nas outras. Pedaços do corpo de Jeff e suas entranhas, em brasas, se encontravam pendurados por correntes presas aos imensos pedaços de madeira. O óleo negro escorria por dentre as partes mortas de Jeff, dando origem ao cheiro que tomava conta da clareira. O óleo impedia a extinção do fogo de um modo bizarro. Dou mais um passo à frente, porém ouço um barulho vindo da direção de Jack. Viro-me na direção de meu primo novamente, mas fito o vazio.
- Jack?! Jack?! - grito de modo desesperado. Engulo seco e meu coração palpita de modo arritmado. Percebo uma pequena luz piscando perto de onde Jack estava. "Deve ser o celular de Jack" penso em meio ao nervosismo que sentia. Vou até a fonte do brilho e empunho o celular de Jack. Guardo-o em meu bolso. Encaro a morte de Jack com lágrimas em meus olhos, "Ele tinha perdido tudo, agora é a minha vez de passar por sua dor", digo em voz baixa me enfurecendo com tudo aquilo. A chuva aumenta, apagando parcialmente as chamas dos estandartes. Fito o céu novamente e a lua mostra sua face apaziguadora, porém por poucos segundos, o que torna a situação mais pesarosa e desesperançosa. Viro-me para o altar com minha face rancorosa e irada. Ando a passos pesados em direção ao punhado de pedras rústicas. Reconheço definitivamente o rosto ensanguentado de meu primo mais novo. O piche gruda sob meus pés. Coloco a minha mão trêmula sobre a faca indígena que prendia a cabeça de Jeff nas pedras do altar. Lágrimas de ódio e fúria saltam de meus olhos ao ver-me tirar o objeto pontiagudo do interior do crânio inerte e ensanguentado de meu primo. "Esse é o inferno", as palavras de Jack ecoam pesarosas pelos meus pensamentos. Puxo a lâmina com toda a força, desprendendo-a da pedra e da cabeça de Jeff. Mais uma vez, uma intensa luz se faz pelo ambiente. Outro raio mostra seu trajeto até a Terra, sendo este, seguido de um estrondo ensurdecedor ainda maior do que o anterior. Por um momento penso comigo "Como gostaria de que nunca tivéssemos vindo aqui". Fecho meus olhos tentando acreditar que aquilo era uma ilusão, mas a única coisa que era ilusória, era o tempo, que ao seu lento passo, parecia esperar por algo, ou melhor, alguém. Abro minhas pálpebras novamente e retiro o celular de Jack de dentro de meu bolso. O tempo parecia estático; não via quase alteração entre os horários desde a ultima vez que chequei o relógio do celular. "O tempo parece estar parado... Parece que estou condenado a permanecer preso à este pesadelo para sempre", mal sabia eu, que aquela noite estava apenas começando.
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Um Conto de Terror
Mystery / ThrillerDavid está em seu apartamento quando é surpreendido por um antigo inimigo. Um flashback acontece e tudo o que ocorrera com ele torna a aparecer em sua mente. Acompanhe este jovem garoto resolvendo o primeiro mistério de sua vida. Para o sucesso de a...