1889
A ruiva entrara correndo pelas portas imponentes da mansão, com a longa saia de seu vestido de festa vermelho como seus cabelos presas as mãos para melhor mobilidade de suas pernas que iam em direção a biblioteca onde sabia que encontraria o irmão mais velho.
A respiração ofegante e o bater estrondoso da porta tiraram a concentração de Kirishima que quando olhou para a porta viu os olhos da irmã mais nova repleto de lágrimas. A preocupação o tomou e a garota sem dizer uma palavra estendeu a carta que carregava nas mãos, o papel fino amassado pela correria e preocupação da mais jovem.
— Eu te avisei.
A frase curta não havia ódio ou rancor, apenas uma tristeza e chateação tão palpável que chegava a transformar o clima ameno da noite estrelada no mais triste de todos.
A ruiva deu as costas ao irmão e deixou-o sozinho, sabia que aquele era um momento dele com a prova da maior traição de sua vida imortal.
Dias atuais
"Apenas diga-me e matarei-o sem pesar ou mágoa. Ele e a família pagarão pela profanação de nosso solo sagrado e puro."
As letras no papel ainda tinham gosto de traição e não importava quantos anos se passasem ele ainda sentiria os olhos marejarem, os ossos se contorcerem e se tivesse coração, com certeza o sentiria doer além da ideia hipotética.
Havia tomado uma decisão sobre o loiro hospedado em sua casa, estava na hora de dar um basta naquela história maluca que começará por sentir falta de uma companhia em seus dias. Era tempo de encarar os fantasmas de um passado longínquo e aquele loiro explosivo que o fazia rir com seus surtos de raiva infelizmente não faria parte destes dias.
Kirishima descera as escadas determinado aquela noite, havia pensado durante todo o tempo sobre como agir com aquela situação.
Aizawa já o esperava com o chá posto e quando viu o amigo se aproximando fez sinal com o queixo para que Kirishima sentasse e pegasse a xícara que continha sangue preparada especialmente para o ruivo.
— Ja sei como vamos prosseguir. — O ruivo sentou cruzando as pernas e bebendo um pouco do sangue na xícara. O gosto reconhecível tomou conta de seu paladar e ele sabia exatamente de onde viera aquele sangue, o sangue quente, de gosto único e que ele podia sentir seus lábios os tirando direto do belo pescoço de pele lisa e branca.
— Se apaixonou não é? — A voz monótona disse sem devaneios.
O silêncio pairou por alguns segundos e o punho de Eijirou fechou-se como se quisesse controlar as emoções que o atinginham feito facas afiadas.
— Não vou passar pela mesma situação de novo. — Deixou a xícara na mesinha e levou as mãos ao rosto.
— Não é a mesma pessoa. — Aizawa bebericou o cha que bebia calmamente. — Sei que está decidido a entrar nesta guerra invisível de novo, mas desta vez pense no que pode perder.
— Perderia-o mesmo se ficasse junto a ele. Esqueceu-se que sou a porra de um imortal?
— Transformei meu marido em um imortal para viver comigo — Deu de ombros o moreno sorrindo ladino.
— Você sabia que daria certo, e não me vejo na responsabilidade de fadar um jovem como ele a viver uma vida eterna ao meu lado. — O ruivo cruzou os braços e Aizawa revirou os olhos num suspiro cansado.
— Escute Eijirou, conheço-o desde que nasceu e o vi durante toda a vida deixando seus desejos em segundo plano para o "bem maior". Entendo tudo que passou com Rioshi, medo de amar novamente e todas essas baboseiras sentimentais, mas antes de mandar o garoto estressadinho embora para seja lá onde você planeja mandá-lo, pense por um momento no desligar-se destes traumas e viver algo calmo com alguém que claramente retribuiu um sentimento seu. — Aizawa terminou o chá de forma calma. — Vá a corridas de formula 1 com ele, vá a shows que ele goste, vá ao cinema, faça sua vigésima graduação, aproveite uma vida de verdade pela primeira vez nesses seus imundos 200 anos e deixe que eu e os meus resolvemos a questão das famílias. É o século 21 Eijirou, não se esconda mais por baixo de lembranças de tantos anos atrás. — Largou a xícara na mesinha delicadamente e levantou-se indo até a porta — Pense no que Kira iria querer de você. Sua irmã apesar da mais nova, era a que mais lhe entendia.
Aizawa saiu da sala deixando a porta aberta e um ruivo desconcertado por tantas palavras que o atingiram mais do que imaginava que poderiam. Os segundos em silêncio se transformaram em minutos, longos minutos repletos de pensamentos incoerentes onde pasado e presente se chocavam. As palavras de Aizawa ecoava em sua mente, o fazendo pensar em tantas possibilidades de um futuro, talvez no fundo a esperança de um futuro feliz surgira.
— Gostou do chá? — A voz irritada preencheu o ambiente e fez Eijirou olhar para a porta e concordar com a cabeça.
— É o seu sangue, impossível estar ruim. — Sorriu Eijirou meio atordoado.
— O que ele queria? — Katsuki permaneceu de braços cruzados na porta, com o típico olhar irritado que cobria suas preocupações e emoções reais.
— Como você diz: "me dar o feche" — Sorriu ladino e o loiro bufou.
— Vou na cidade, quero comer sorvete de morango. Não vou demorar e estou indo com o carro. — Katsuki comunicou e Kirishima apenas sorriu sem muitas forças concordando com a cabeça.
O loiro saiu e Kirishima voltou a seu estado contemplativo, imerso demais em suas constatações pessoais.
Katsuki entrou no carro e bateu a cabeça no volante, sentido vontade amassar e destruir qualquer coisa que visse em sua frente. Estava nervoso, com medo, morrendo de medo e sem saber como agir. Não entendia nada do que estava acontecendo e ninguém parecia disposto a explicar-lhe algo e o assustava ver o tão carinhoso e presente ruivo tão distante e aéreo por conta de toda a situação.
Precisava pensar em como tomaria as rédeas dessa situação, as rédeas de sua vida e de seu coração, rédeas estas que perdeu quando conheceu Eijirou Kirishima
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It's ok have a deal with a vampire, right? - Kiribaku
FanfictionUma mansão abandonada, no topo de uma das colinas mais altas da cidade, um local aonde ninguém se arrisca a subir pelos rumores de tal local ser mal assombrado. Katsuki sempre foi imprudente, e sua impulsividade não o poupou de subir aquela colina n...