Antes: Um

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– Lauren baixinha... Carrie, a estranha. Ivy, Arnold e Christina, Ivy, Arnold e Christina... prazer, Claire, a quase atrasada. – sempre repetia a sequência específica de cada dia.

Não era uma simples reunião com acionistas. Era a oportunidade de mais um acordo de patrocínio multimilionário. A companhia acreditava nos benefícios futuros, a fim de melhor promover as novas atrações. Não que precisassem, mas quem negaria uma parceria com a AT&T? Quanto mais investimento, maior o lucro, e menos possibilidades de concorrência.

Ela dirigia aquele lugar.

Claire Dearing, a gerente de operações do Jurassic World. Única. A dona do chanel mais influente da ilha, impecavelmente vestida, de vestido verde água e saltos brancos, era a responsável por tal tarefa.

Algo tecnicamente simples, se comparado ao corpo de trabalho o qual era responsável: cuidar diariamente de vinte mil hóspedes do parque temático mais extravagante do mundo, que deu vida aos maiores e mais espetaculares animais extintos da humanidade, proporcionando uma experiência única aos visitantes, enquanto quadriplica o lucro do negócio.

Por reflexo do ofício ou não, ela era tudo, menos comum. Sempre elegante e sofisticada, mantinha mãos firmes e muita frieza para controlar todo e qualquer acontecimento do parque.Frígida, aliás, deveria ser seu sobrenome. Faria mais sentido.

Discreta ao máximo, Claire evitava atenção e qualquer tipo de intimidade com seus colegas de trabalho. Acreditava que tudo deveria ser orquestrado de maneira altamente profissional, principalmente na sua presença. Constantemente temida pelos inferiores, não conhecia o significado da palavra "social" e chegava a ser alvo de burburinhos cômicos sobre sua sexualidade. Nem sua família, restrita à sua irmã Karen e seus dois sobrinhos, agora, tinha a prioridade que dava a questões de trabalho em sua agenda.

–Oi, Karen! – quase deixou sua pilha de relatórios voar – Não desliguei não. Então, escuta, você pode me ligar depo... – notou que a conversa desagradável de horas antes ainda não fora esquecida, e revirou os olhos.

–Será possível, Claire? Queria ver se tivesse que resolver problemas dos seus filhos, ou se iria interromper seu marido durante...

– Não, não estou precisando de um marido nem de filhos, estou apenas sem tempo. – Tentou mudar o foco e dar um corte.

– Sempre sem tempo para todos.

– Escuta, vamos fazer um trato? Mande os meninos para cá por um fim de semana. Tudo cortesia nossa.

–Se anda sem tempo para fazer os seus, vai saber cuidar dos meus? Nem lembra mais deles.

–Ei, eu sou responsável. Posso organizar is...

–"Organizar". – Karen repetiu, enfaticamente. – eles não são dados. Sei que vão sofrer muito quando...

–Marcar, Karen. Quis dizer, "marcar uma data". – Claire se consertou pela escolha de palavra, aproveitando para desviar o assunto e agarrar seu marcador que ia caindo da outra mão, em volta dos papeis. – Vamos combinar uma semana mais tranquila por aqui, certo?

Nem para ouvir os desabafos da crise conjugal de sua irmã Claire tinha tempo. Qualquer um a julgaria insensível. Mas, na realidade, lá no fundo, tudo o que queria era fazer seu trabalho da maneira mais perfeita e impecável possível, provando para qualquer um que uma mulher é capaz de exercer a liderança sim. E sim, ela era workaholic e controladora ao extremo. A ruiva de trinta e dois anos e olhos verdes certamente tinha mais bolas do que vários funcionários do seu parque & resort, por assim dizer.

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