Depois: Onze

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Claire não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Não trabalhou direito, sem concentração. Foi grossa com funcionários, e deu uma voadora em Lowery quando o viu bocejar na mesa. Não leu as dez mensagens de Owen, somente a última, que inevitavelmente ficava no topo de suas notificações. Dizia "Te amo". Não dormiu direito, com raiva. E no fim, era 22 de dezembro, o dia da viagem para a casa de Karen.

Ela tentou o ligar, mas ele estava sem sinal há mais de vinte e quatro horas. Até tentou atrasar a viagem, mas a companhia já estava com todos os vôos lotados, o que a fez esbravejar poucas e boas no call center. De malas prontas, só a restava pegar o avião. Ela ainda checou o celular no saguão do aeroporto, mas nem um vivo sinal de Owen, além de um "estou bem", um sms atrasado que recebeu de uma outra tentativa falha de contato do dia anterior.

–Owen Grady, você definitivamente está solteiro a partir de agora. – ela falou sozinha com o celular, quando anunciaram o embarque do seu vôo, com um atraso de meia hora. Arrastou suas duas malas pesadas como se nem tivessem peso, porque afinal, era ela sozinha mesmo para tudo em sua vida, como nos velhos tempos de solteirona.

Passou pelo detector de metais, tirou seu casaco duas vezes, sendo barrada por causa do cinto, e quando liberada, caminhou para seu vôo, chateada com o rumo de tudo em sua vida. Subiu bronqueada e caminhou até sua poltrona, e observou que estava ocupada.

–Com licença, "K-28". A senhora está no meu lugar. – Claire apontou o dedo, como se quisesse arrancar a senhora de lá educadamente.

–Não, estou no meu lugar. Olhe, querida. – a senhora empurrou a passagem na cara de Claire, que cerrou os olhos e chamou a comissária de bordo à sua frente.

–Ah, não, isso não vai ficar assim. – Claire olhou a janela e a cadeira que sobrou naquela fila apavorada. Ela odiava vôos, muito mais olhar tudo em miniatura. Isso a tornava totalmente sem controle da sua própria vida. –Ei, essa senhora está no meu lugar. – ela colocou a mão à cintura, e a comissária praticamente a ignorou, pois prendia o cinto em uma criança que viajava sozinha.

–Droga de companhia. – Claire começou a falar sozinha, mas foi interrompida de seus futuros xingamentos com uma mão à sua cintura, por trás.

–Está certo, a gente vai na fileira lá atrás.

Ela reconheceu a voz, e riu de lado, sem acreditar.

Owen.

Camisa escura xadrez, calça jeans escura, sapatos, barba feita, cabelo penteado, uma mochila pendurada nas costas, óculos escuros na cabeça e um charme de molhar qualquer calcinha naquele avião.

–Seu telefone deve estar com algum problema, sua irmã me ligou aflita dizendo que também não consegue falar contigo. Ainda bem que te achei por GPS. Nossos assentos foram transferidos. – ele sorriu como nunca, quando ela se virou e o olhou, cerrando os olhos para a parte do GPS. Mas Claire se segurou para não beijá-lo, só porque estava fula demais para demonstrar afeto no meio de tanta gente irritante. Ela se esticou, fingindo indiferença, e Owen riu.

–Então, vamos lá? – ele abaixou para pegar sua bolsa de mão. – trouxe seus saltos todos aqui? São só cinco dias. – reparou no peso, e ela andou atrás dele. – Ali, "T" 13 e 14. – ele apontou e Claire o olhava sem acreditar ainda. Internamente, ela não podia mentir. Estava vibrando.

–Sem chance. Não vou à janela. – ela repreendeu, ao vê-lo tomar o outro lugar.

–Tem medo de altura? – ele a olhou, e Claire passou à sua frente, ignorando os outros passageiros da fileira, porque já estava cansada de ficar ali de pé sendo olhada por todos. Owen estava completamente na frente, e ela praticamente grudou nele, se espremendo e se esfregando para passar logo na frente dele.

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